A ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA

Aula 1

Mercantilismo e Fisiocratas

Mercantilista e fisiocratas

Olá, estudante!

Nesta videoaula, você irá conhecer a economia política clássica. 

Este conteúdo é importante para a sua prática profissional, pois você vai conhecer as teorias que fundamentam os sistemas econômicos. Ao compreender as bases da economia política clássica, você estará apto a analisar criticamente os fenômenos econômicos, identificar padrões históricos e entender as raízes das teorias econômicas modernas.

Prepare-se para essa jornada de conhecimento! Vamos lá!

Ponto de Partida

Olá, estudante!

Vamos iniciar a aula sobre economia política clássica!

Neste encontro, exploraremos dois importantes períodos econômicos: o mercantilismo e a fisiocracia. Eles são fundamentais para compreender as bases do pensamento econômico e as influências que moldaram as teorias modernas. O mercantilismo, centrado no poder econômico do Estado, contrasta com a fisiocracia, que destaca a importância da agricultura como a principal fonte de riqueza.

Para contextualizar o conteúdo, imagine que você vive em uma Europa pós-feudal, onde as estruturas tradicionais de poder estão em declínio. Nesse contexto, a busca por uma nova ordem econômica é urgente. Surge a questão: Qual era a linha de pensamento econômico predominante entre os pensadores e líderes da época? Como o mercantilismo e a fisiocracia representam diferentes respostas a esse desafio? Ao compreendermos essas perspectivas, seremos capazes de lançar luz sobre os rumos que a economia europeia tomou após o fim do feudalismo.

Estudante, ao embarcar nesta jornada de aprendizado sobre mercantilismo e fisiocracia, você está explorando as bases do pensamento econômico que moldaram a Europa pós-feudal. Esses conceitos não são apenas peças de história, mas ferramentas valiosas para entender as raízes do nosso sistema econômico atual.

Boa aula! 

Vamos Começar!

A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) e a devastadora peste bubônica de 1348 foram eventos marcantes na história europeia, cujas repercussões tiveram profundos impactos na estrutura do poder feudal. Esses acontecimentos desencadearam uma série de mudanças que minaram significativamente o poder privado da nobreza feudal, levando ao enfraquecimento de suas estruturas tradicionais (Gennari, 2009).

No início do século XIV, a nobreza feudal já enfrentava desafios decorrentes de uma fase anterior de desorganização e fragilização, marcada por conflitos internos e revoltas servis. A Guerra dos Cem Anos, um longo conflito entre a França e a Inglaterra, exacerbou ainda mais essas tensões. Os nobres, que dependiam grandemente de seus domínios para sustentar seus estilos de vida e financiar suas campanhas militares, viram suas terras devastadas e suas receitas diminuírem drasticamente (Gennari, 2009).

A peste bubônica, conhecida como a Peste Negra, adicionou um golpe ainda mais severo à nobreza feudal. A epidemia dizimou uma grande parte da população europeia, incluindo a classe nobre. Isso resultou na escassez de mão de obra, desvalorização das terras e uma reorganização das relações sociais.

Com as terras despovoadas e as estruturas sociais abaladas, a nobreza feudal encontrou-se incapaz de oferecer a proteção e segurança necessárias às atividades comerciais, feiras e transporte de valores e mercadorias. O sistema feudal, baseado na lealdade pessoal e na troca de serviços militares por terras, tornou-se cada vez mais ineficaz diante das novas realidades econômicas e sociais (Gennari, 2009).

A burguesia, emergindo como uma classe econômica dinâmica e desejosa de expandir seus negócios, ansiava por um ambiente seguro para o comércio e as transações comerciais. A nobreza feudal, por outro lado, enfraquecida pelas guerras e pela instabilidade interna, buscava restaurar e consolidar seu poder diante das ameaças à sua autoridade. De acordo com Gennari (2009), essas demandas por segurança convergiram progressivamente em direção a um novo tipo de poder, centralizado na figura do monarca, contribuindo para o surgimento das bases do estado moderno.

A centralização do poder nas mãos do monarca representou uma mudança significativa no equilíbrio de forças políticas. Os monarcas, muitas vezes apoiados pela nobreza, perceberam a oportunidade de fortalecer suas posições em detrimento dos senhores feudais locais. Essa convergência de esferas de poder em torno do monarca deu origem ao Estado moderno, caracterizado pela centralização do poder político e administrativo (Gennari, 2009).

Essa série de mudanças que resultou na formação de uma nova esfera de poder também possibilitou a retomada da análise dos fenômenos relacionados à produção, à distribuição e ao consumo, que haviam sido prejudicados pela crise do mundo clássico (Gennari, 2009). Foi nesse contexto que surgiu o mercantilismo.

Segundo Brue e Grant (2016), o mercantilismo refere-se à política econômica implementada na Europa durante o período absolutista, caracterizada pela significativa intervenção estatal na economia nacional. O principal objetivo desses governos era promover o máximo desenvolvimento econômico por meio da acumulação de metais preciosos.

Claude de Seyssel emerge como um dos pioneiros na formulação do metalismo. Em sua obra La grande monarchie de France, de 1515, afirmava com convicção que o "poder da nação está intrinsecamente ligado às reservas de ouro e prata" (Gennari, 2009). Posteriormente, na Espanha, Luis Ortiz, em Para que a moeda não saia do reino, de 1558, advogava por um conjunto de medidas destinadas a assegurar a acumulação de metais preciosos (Gennari, 2009).

Mas por qual razão a busca por metais preciosos?

A necessidade de metais preciosos desempenhou papel fundamental nesse processo de formação do Estado moderno. De acordo com Brue e Grant (2016), para remunerar as tropas, que se tornaram fundamentais para a manutenção da ordem interna e defesa do reino, os monarcas precisavam de recursos financeiros estáveis. A busca por ouro e prata tornou-se uma prioridade, levando ao desenvolvimento de políticas econômicas voltadas para a acumulação de riqueza. Portanto, essa necessidade de metais preciosos influenciou diretamente as práticas econômicas da época (Brue; Grant, 2016).

Segundo Malassise et al. (2014), para impulsionar as atividades comerciais, promoveu-se o estímulo às navegações. Um dos propósitos fundamentais dessas expedições era viabilizar o acesso a novas fontes de matéria-prima. Esse movimento marcou o início das grandes explorações no século XV, resultando na descoberta de novas colônias e na abertura de rotas comerciais inéditas (Malassise et al., 2014). Além do fornecimento de matérias-primas, essas novas colônias também contribuíram para o acesso a metais preciosos. Veja a rota comercial do mercantilismo na figura a seguir.

A imagem apresenta um mapa-múndi em tons de cinza destacando rotas comerciais históricas, com vários pontos importantes
Figura 1 | Rota comercial do mercantilismo. Fonte: NASA/JPL/NIMA (2014 apud Malassise et al., 2014, p. 17).

Esse processo de expansão ficou conhecido como a Revolução Comercial, caracterizada pela aplicação da política econômica do mercantilismo (Malassise et al., 2014).

Ainda segundo Brue e Grant (2016), os principais dogmas da escola mercantilista foram: 

  • Ouro e prata como a forma mais desejável de riqueza: os mercantilistas tendiam a associar a riqueza de uma nação ao montante de ouro e prata que ela possuía, acreditando que a acumulação desses metais preciosos fortaleceria a economia e o poder do Estado. Para eles, a posse de ouro e prata não apenas representava prosperidade, mas também fornecia uma reserva de valor que poderia ser utilizada para financiar atividades governamentais, investimentos e a expansão do comércio (Brue; Grant, 2016).
  • Nacionalismo: os países não podiam importar simultaneamente mais do que exportavam. Portanto, cada um deveria promover exportações e acumular riqueza à custa dos vizinhos. Somente uma nação poderosa, capaz de manter um saldo comercial positivo e acumular metais preciosos, era vista como verdadeiramente próspera e influente. Nessa perspectiva mercantilista, a competição econômica entre as nações era intensa, e a busca pelo fortalecimento econômico era intrinsecamente ligada à busca pelo poder e prestígio internacionais.
  • Política comercial: isenção de taxas para a importação de matérias-primas que não podiam ser produzidas internamente, proteção para bens manufaturados e matérias-primas que tinham capacidade de produção interna e restrições sobre a importação de determinadas matérias-primas. Os comerciantes recebiam fluxos de ouro como contrapartida de suas exportações, ao passo que as restrições sobre as importações diminuíam a oferta de bens para o consumo doméstico (Brue; Grant, 2016).
  • Colonização e monopolização do comércio colonial: os países mercantilistas buscavam expandir seus impérios coloniais para garantir o controle sobre fontes estratégicas de matérias-primas e abrir mercados exclusivos para seus produtos manufaturados. A colonização permitia o acesso a recursos naturais, enquanto a monopolização do comércio colonial assegurava que apenas as potências colonizadoras pudessem comercializar com suas colônias, maximizando assim seus lucros (Brue; Grant, 2016).
  • Forte controle central: um forte controle governamental central era necessário para promover metas mercantilistas. Isso envolvia a implementação de políticas que regulamentavam o comércio, a produção e as transações econômicas, com o intuito de otimizar a acumulação de riqueza e fortalecer a posição da nação no cenário internacional. Essa centralização do poder permitia a coordenação efetiva das atividades econômicas de acordo com os princípios mercantilistas, visando alcançar o máximo desenvolvimento econômico e a supremacia nacional.
  • Pacto colonial: o objetivo primordial era impedir que a colônia realizasse transações comerciais com outras nações, uma vez que isso poderia resultar em um desequilíbrio na balança comercial em detrimento da metrópole. O Pacto Colonial consistia em estabelecer um comércio bilateral exclusivo entre a colônia e a metrópole, estabelecendo um monopólio que atendia aos interesses da potência colonial. 

Muito bem, essas eram as características do pensamento mercantilista, influente na Europa durante os séculos XVI ao XVIII.

Siga em Frente...

A partir do século XVIII, começa a surgir uma nova linha de pensamento na economia, chamada de fisiocracia.

A fisiocracia, em contraste com o mercantilismo predominante nos séculos XVII e XVIII, surge como uma escola de pensamento econômico que apresenta abordagens distintas em relação ao papel do Estado na economia. Enquanto o mercantilismo valorizava a acumulação de metais preciosos, o protecionismo e o controle centralizado para fortalecer o poder do Estado, a fisiocracia, originada na França do século XVIII, direcionou sua atenção para os processos naturais da economia agrária e da baixa intervenção do Estado na economia (Brue; Grant, 2016).

Os fisiocratas, liderados por François Quesnay, acreditavam que a verdadeira fonte de riqueza estava na agricultura. Contrariando a ênfase mercantilista em ouro e prata, os fisiocratas destacavam a importância da terra como geradora de riqueza, defendendo que a agricultura era a única atividade produtiva capaz de criar excedentes. Em sua visão, a natureza seguia leis naturais que governavam a economia de forma harmoniosa, e o Estado deveria adotar uma postura mais liberal, permitindo que essas leis naturais operassem sem intervenções excessivas (Malassise et al., 2014).

Enquanto os mercantilistas buscavam monopólios comerciais e promoviam regulamentações estatais, os fisiocratas advogavam por uma abordagem mais laissez-faire, defendendo a liberdade econômica e a remoção de obstáculos à produção agrícola (Brue; Grant, 2016). Eles propuseram a eliminação de restrições, como impostos sobre o comércio e regulamentações excessivas, para permitir que a agricultura florescesse organicamente, beneficiando toda a sociedade.

Ainda segundo Brue e Grant (2016), os principais dogmas da escola fisiocrata foram:

  • Ordem natural: de acordo com essa ideia, as leis da natureza governam as sociedades humanas. Os fisiocratas acreditavam que, assim como na natureza, existem leis fundamentais que regem a economia e que o Estado deveria se abster de intervenções excessivas, permitindo que essas leis naturais operassem de forma livre e harmoniosa (Brue; Grant, 2016).
  • Laissez-faire, laissez-passer: essa expressão, creditada a Vincent de Gournay (1712-1759), na realidade, significa "deixe as pessoas fazerem o que quiserem sem a interferência do governo". Os governos nunca deveriam, segundo essa filosofia, se intrometer excessivamente nas atividades econômicas e individuais. Em essência, ela reflete a crença fundamental dos fisiocratas e dos defensores do liberalismo econômico de que a economia funciona melhor quando as forças do mercado operam livremente, sem restrições excessivas ou intervenções estatais (Brue; Grant, 2016). A expressão tornou-se um lema para aqueles que defendem a liberdade econômica e a limitação do papel do governo na condução das atividades comerciais e produtivas.
  • Ênfase na agricultura: os fisiocratas acreditavam que a verdadeira riqueza de uma nação derivava da produção agrícola. Consideravam a agricultura como a única atividade produtiva capaz de criar excedentes econômicos, pois envolvia a transformação direta dos recursos naturais em produtos comercializáveis (Brue; Grant, 2016). Ao investir na agricultura, os fisiocratas acreditavam que os agricultores podiam gerar excedentes que beneficiariam toda a sociedade. Esses excedentes eram vistos como a verdadeira fonte de riqueza, capazes de sustentar outras atividades econômicas e promover o desenvolvimento geral (Malassise et al., 2014).

O contraste entre fisiocracia e mercantilismo reflete uma mudança nas perspectivas econômicas do período. A fisiocracia, embora tenha tido uma influência relativamente curta, lançou as bases para futuras teorias econômicas, influenciando ideias como o liberalismo econômico que se desenvolveriam nos séculos subsequentes. Enquanto o mercantilismo era centrado no poder e na riqueza através do controle estatal, a fisiocracia buscava uma ordem econômica baseada na harmonia natural e na liberdade de atividade produtiva.

Vamos Exercitar?

Muito bem! A partir de agora vamos retomar a problematização apresentada no começo da aula.

Ao refletirmos sobre a linha de pensamento econômico na Europa pós-feudalismo, observamos que o mercantilismo e a fisiocracia foram duas respostas significativas a esse desafio. Na transição após a queda do feudalismo, surgiram diversas questões sobre como estruturar a economia e o papel do Estado. O mercantilismo, com seu foco em acumular riquezas nacionais através do comércio e da intervenção estatal, representou uma abordagem centralizada e voltada para o desenvolvimento econômico. Por outro lado, a fisiocracia, ao destacar a agricultura como fonte primordial de riqueza, propôs uma visão mais descentralizada e ligada à produção.

Portanto, enquanto o mercantilismo visava fortalecer o Estado acumulando riquezas e promovendo atividades econômicas diversificadas, a fisiocracia concentrava-se na promoção da agricultura e advogava por uma abordagem mais livre do governo na economia, confiando nas forças naturais do mercado. Essas abordagens oferecem insights valiosos sobre as diferentes perspectivas econômicas que moldaram o pensamento da época e influenciaram o desenvolvimento do pensamento econômico moderno.

Saiba Mais

Vamos conhecer um pouco mais sobre o que aprendemos? É importante que você tenha outras fontes de pesquisa para ser capaz de pensar de forma crítica o conteúdo abordado nesta aula.

Leia o Capítulo 2 A escola mercantilista do livro: História do pensamento econômico. Nesse capítulo, os autores utilizam primeiro as “cinco perguntas principais” para fornecer

uma visão geral do mercantilismo e, em seguida, examinam quatro pensadores que expressaram ideias mercantilistas: Mun, Malynes, Davenant e Colbert. Também discutem Sir William Petty, um mercantilista que desenvolveu alguns conceitos que precederam a economia clássica.

BRUE, S. L.; GRANT, R. R. História do pensamento econômico. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2016. E-book.

Leia o Capítulo 3 A escola fisiocrática do livro: História do pensamento econômico. Nesse capítulo, os autores apresentam uma visão geral da escola fisiocrata, bem como descreve as ideias de François Quesnay (1694-1774) e Anne Robert Jacques Turgot (1727-1781), que foram os principais expoentes dessa escola da economia política clássica.

BRUE, S. L.; GRANT, R. R. História do pensamento econômico. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2016. E-book. 

Referências Bibliográficas

BRUE, S. L.; GRANT, R. R. História do pensamento econômico. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2016.

GENNARI, A. História do pensamento econômico. São Paulo: Editora Saraiva, 2009.

MALASSISE, R. L. S.; BARBOZA, S. G.; BECKEDORFF, I. A.; FORMAGI, C. Evolução do pensamento econômico. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2014.

Aula 2

Teorias Liberais

Teorias liberais

Olá, estudante!

Nesta videoaula você irá conhecer as teorias liberais.

Esse conteúdo é importante para a sua prática profissional, pois você compreenderá os fundamentos e princípios que moldaram o pensamento econômico liberal ao longo da história. As teorias liberais destacam a importância do livre mercado, da propriedade privada e do minimalismo do Estado na regulação da economia.

Prepare-se para essa jornada de conhecimento! Vamos lá!

Ponto de Partida

Olá, estudante!

Nesta aula, vamos explorar os fundamentos das teorias liberais, um conjunto de ideias que moldaram significativamente o pensamento econômico e político ao longo dos tempos. Abordaremos a origem do pensamento liberal, as diversas correntes que surgiram e seu papel no desenvolvimento do capitalismo.

Agora, convido você a refletir sobre a teoria liberal como um contraponto às ideias absolutistas de um estado centralizador. Como essa oposição influencia a economia, especialmente a emergente, no contexto capitalista? Como as correntes liberais moldaram a visão política contemporânea? Essas são questões essenciais para entendermos o papel do liberalismo na evolução da sociedade e da economia. Esses tópicos serão fundamentais para as discussões ao longo da aula.

Ao compreendermos as origens do liberalismo, suas correntes e seu impacto no desenvolvimento do capitalismo, ganhamos uma perspectiva valiosa para interpretar os desafios contemporâneos.

Vamos lá? Boa aula!

Vamos Começar!

O pensamento liberal teve sua origem ao longo dos séculos XVII e XVIII, como uma resposta e crítica ao absolutismo que predominava na Europa nesse período. O contexto histórico que impulsionou o surgimento do pensamento liberal foi marcado por eventos como a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), que devastou a Europa e gerou questionamentos sobre a legitimidade e a eficácia do absolutismo (Silva; Dalcin; Stefani, 2019). Além disso, a Revolução Inglesa (1642-1688) teve um papel significativo ao desafiar o poder monárquico e estabelecer princípios que viriam a influenciar as ideias liberais.

Filósofos como John Locke, considerado um dos pais do liberalismo, contribuíram de maneira fundamental para o desenvolvimento dessas ideias. Locke argumentava que os governantes devem derivar seu poder do consentimento dos governados, defendendo princípios como a igualdade natural, a liberdade individual e o direito à propriedade privada (Silva; Dalcin; Stefani, 2019). Essas ideias se tornaram pilares do pensamento liberal e influenciaram movimentos posteriores.

O Iluminismo, um movimento intelectual que floresceu durante o século XVIII, também desempenhou papel relevante na propagação do pensamento liberal. Filósofos como Montesquieu, Voltaire e Rousseau contribuíram para a formação de uma visão crítica em relação ao absolutismo e defenderam a separação de poderes, a liberdade de expressão e outros princípios que viriam a ser centrais para o liberalismo.

De acordo com Sandroni (2005), o liberalismo defendia um conjunto de ideias que eram,

para a época, revolucionários, a saber:

  • Ampla liberdade dos indivíduos.
  • A democracia representativa com a separação em três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
  • O direito inalienável à propriedade privada.
  • A livre iniciativa e a concorrência como basilares para a garantia dos interesses individuais e para o progresso das sociedades capitalistas.

Um dos principais conceitos associados ao liberalismo é o "laissez-faire, laissez-passer", que se traduz do francês para "deixai fazer, deixai passar". Esse princípio expressa a ideia de uma abordagem mínima ou nula por parte do Estado na economia, defendendo que as forças do mercado devem operar com o mínimo de intervenção governamental possível (Silva; Dalcin; Stefani, 2019).

O laissez-faire enfatiza a crença de que os mercados são autorreguladores e que a intervenção do Estado nas atividades econômicas pode ser prejudicial ao funcionamento eficiente da economia. Esse conceito teve origem durante o período do liberalismo clássico nos séculos XVII e XVIII, especialmente associado a pensadores como Adam Smith, considerado o pai da economia moderna.

No contexto do laissez-faire, o Estado Nacional desempenha um papel limitado, concentrando-se principalmente em garantir um ambiente propício para a livre concorrência entre empresas e agentes econômicos. Acredita-se que, ao permitir que as forças de mercado operem sem restrições excessivas, a eficiência econômica será maximizada e os recursos serão alocados de maneira mais eficaz (Brue; Grant, 2016).

Um aspecto importante dessa abordagem é a defesa do direito à propriedade privada. Enquanto o Estado limita sua intervenção econômica, ele é visto como responsável por proteger os direitos de propriedade, intervindo apenas quando ameaças significativas surgem, como convulsões sociais ou revoluções que possam colocar em risco esses direitos (Brue; Grant, 2016). Nesses casos, o papel do Estado é frequentemente justificado como uma medida para manter a estabilidade social e proteger o ambiente propício aos negócios.

Naquela época, a crença predominante era de que a economia, assim como a natureza física, seguia leis universais e imutáveis. De acordo com Silva; Dalcin; Stefani, (2019) essa visão refletia a confiança no conceito do homo economicus, uma representação teórica do indivíduo econômico, que, livre de intervenções do Estado e influências de grupos sociais, buscava maximizar seus ganhos com o mínimo de esforço.

O homo economicus é concebido como um agente racional e autointeressado, guiado pela busca otimizada de seus interesses pessoais, especialmente a maximização do lucro. Nesse contexto, acreditava-se que, se deixado em um ambiente de livre mercado, o homo economicus contribuiria para o funcionamento eficiente da economia, agindo de acordo com princípios econômicos fundamentais (Silva; Dalcin; Stefani, 2019).

Uma das principais críticas dos liberais era direcionada às restrições ao comércio impostas pelo mercantilismo. Práticas protecionistas, como tarifas e barreiras comerciais, eram vistas como obstáculos à eficiência econômica e ao desenvolvimento. Para os liberais, a liberdade de comércio era fundamental para o crescimento econômico e a prosperidade das nações.

Outro ponto de discordância residia no foco do mercantilismo no acúmulo de metais preciosos como medida de riqueza nacional. Os liberais argumentavam que a verdadeira riqueza provinha da produção interna, do comércio livre e do desenvolvimento dos setores econômicos, desafiando o conceito de que a quantidade de ouro e prata determinava a prosperidade de uma nação.

Segundo Silva, Dalcin e Stefani (2019), no pensamento liberal podemos destacar duas vertentes ideológicas: as Escolas Clássica e Austríaca. Na primeira, estão os arcabouços ideológicos formulados no século XVIII e XIX; na segunda escola, estão os pensamentos formulados no século XIX e XX.

Siga em Frente...

A Escola Clássica teve seu auge nos séculos XVIII e XIX, sendo marcada por pensadores que estabeleceram os fundamentos do liberalismo econômico. Adam Smith, muitas vezes considerado o pai da economia moderna, é uma figura proeminente dessa escola.

Adam Smith é frequentemente considerado o pioneiro do liberalismo econômico e um dos fundadores da economia como ciência. Em sua obra seminal A riqueza das nações (1776), Smith articulou os princípios fundamentais do liberalismo clássico (Gennari, 2009). Ele argumentou a favor do laissez-faire, defendendo que, quando os indivíduos buscam seus próprios interesses egoístas, o mercado é guiado pela "mão invisível" para promover o bem-estar social. Smith também destacou a importância da divisão do trabalho e da especialização na geração de riqueza.

Jean-Baptiste Say, um economista francês, foi outro influente pensador liberal clássico. Ele é conhecido pela Lei de Say, que postula que a produção cria sua própria demanda. Em outras palavras, acredita-se que a oferta de bens e serviços gera automaticamente a demanda por outros bens e serviços (Brue; Grant, 2016). Say contribuiu para a teoria do valor e da oferta agregada, influenciando o pensamento econômico clássico.

John Stuart Mill, embora tenha se expandido além do liberalismo clássico em algumas áreas, contribuiu significativamente para a filosofia econômica liberal. Em sua obra Princípios de economia política (1848), Mill abordou questões sociais, éticas e políticas dentro do contexto liberal. Ele enfatizou a importância de equilibrar a liberdade individual com a intervenção do governo para corrigir desigualdades e garantir a justiça social.

A Escola Austríaca é uma tradição de pensamento liberal que se desenvolveu nos séculos XIX e XX, notadamente na Áustria, e contribuiu significativamente para a teoria econômica e política liberal.

Considerado o fundador da Escola Austríaca, Carl Menger desenvolveu a teoria subjetiva do valor. Em sua obra Princípios de economia política (1871), Menger argumentou que o valor de um bem é determinado pela utilidade subjetiva que os indivíduos atribuem a ele. Essa teoria revolucionou a compreensão do valor e influenciou a economia neoclássica (Silva; Dalcin; Stefani, 2019).

Ludwig von Mises foi um dos principais representantes da Escola Austríaca no século XX. Ele é conhecido por suas contribuições para a teoria do dinheiro e dos ciclos econômicos. Em Ação humana (1949), Mises expôs uma abordagem abrangente da economia, destacando a importância da ação humana consciente na análise econômica.

Friedrich Hayek foi outro importante expoente da Escola Austríaca. Sua obra O caminho da servidão (1944) tornou-se uma referência na crítica aos perigos do planejamento central e da expansão excessiva do Estado. Hayek também contribuiu para a teoria dos preços e a compreensão dos mecanismos de mercado.

Silva, Dalcin e Stefani (2019) argumentam que o liberalismo tem moldado ideias e políticas em diferentes partes do mundo, refletindo-se em debates sobre o papel do Estado, liberdades individuais, propriedade privada e funcionamento dos mercados. Uma das expressões mais marcantes desse fenômeno é o surgimento do neoliberalismo, notadamente após 1980, que representou uma revitalização e uma nova fase das ideias liberais.

O neoliberalismo é uma vertente do liberalismo que ganhou destaque a partir da década de 1980, especialmente com as políticas adotadas por líderes como Ronald Reagan nos Estados Unidos e Margaret Thatcher no Reino Unido. Essa abordagem enfatiza a confiança no mercado livre, a redução do papel do Estado na economia e a promoção de políticas de desregulamentação.

De acordo com Silva, Dalcin e Stefani (2019), os princípios fundamentais do neoliberalismo incluem a crença na eficiência do mercado, a ênfase na liberdade individual, a defesa da propriedade privada e a redução da intervenção estatal na economia. Isso implicou em políticas como privatizações, cortes de gastos públicos, liberalização dos mercados financeiros e a busca por maior flexibilidade nas relações de trabalho.

O neoliberalismo também representou um ataque às políticas keynesianas, que predominaram no período pós-Segunda Guerra Mundial. Enquanto o keynesianismo defendia a intervenção estatal para combater recessões, o neoliberalismo argumentava que a intervenção do Estado frequentemente distorcia os mercados e prejudicava o crescimento econômico.

É importante destacar que, apesar de sua influência generalizada, o neoliberalismo também enfrentou críticas significativas. Críticos argumentam que as políticas neoliberais podem levar a desigualdades socioeconômicas, instabilidade financeira e falta de regulamentação adequada para proteger os interesses públicos (Silva; Dalcin; Stefani, 2019).

Em resumo, o liberalismo, em suas várias formas, desempenhou um papel importante na configuração do pensamento político e econômico contemporâneo, com o neoliberalismo sendo uma expressão significativa desse impacto nas últimas décadas. O debate em torno dessas ideias continua a influenciar as políticas governamentais e a moldar as discussões sobre o equilíbrio entre liberdade econômica e a responsabilidade do Estado. 

Vamos Exercitar?

Estudante, vamos retomar a problematização inicial da nossa aula.

Durante a aula, exploramos como o pensamento liberal surgiu como uma resposta às ideias absolutistas de um estado forte. Analisamos as diferentes correntes liberais e examinamos seu papel fundamental no desenvolvimento do capitalismo. Ao conectar esses conceitos, percebemos que o liberalismo não apenas forneceu um contraponto ao absolutismo, mas também estabeleceu as bases ideológicas que moldaram as estruturas políticas e econômicas contemporâneas.

Para entender a resolução dessa problematização, é essencial reconhecer que o liberalismo introduziu uma visão de Estado que valoriza a liberdade individual, limita a intervenção governamental na economia e defende os princípios do livre mercado. Isso impactou a economia capitalista, incentivando a concorrência, a inovação e a liberdade de empreender.

As correntes liberais desempenharam um papel significativo na formação da visão política contemporânea, com o neoliberalismo emergindo como uma expressão particular dessa tradição. No contexto do neoliberalismo, as ideias liberais clássicas foram reinterpretadas e aplicadas de maneira mais específica às políticas econômicas. Esse movimento teve impactos notáveis em várias esferas da sociedade moderna.

Ao concluirmos nosso estudo do pensamento liberal e seu impacto no desenvolvimento do capitalismo, é importante reconhecer a relevância desses conceitos em sua compreensão do mundo. Ao entender como o liberalismo influenciou a formação política contemporânea e a economia capitalista, você adquire conhecimentos valiosos para interpretar e participar nas discussões sociais e profissionais sobre economia política. 

Saiba Mais

Vamos conhecer um pouco mais sobre o que aprendemos? É importante que você tenha outras fontes de pesquisa para ser capaz de pensar de forma crítica o conteúdo abordado nesta aula.

Leia o capítulo Liberalismo do livro: Economia política. A partir da leitura desse capítulo, você vai compreender a origem e a formação do liberalismo. Saber descrever a escola liberal clássica e reconhecer os principais pensadores do liberalismo e suas ideias.

SILVA, F. P. M.; DALCIN, A. K.; STEFANI, R. Economia política. Porto Alegre: Grupo A, 2019. E-book.

Leia o capítulo Intervenção do estado na economia do livro: Economia política. A partir da leitura desse capítulo, você vai compreender o processo histórico da intervenção do Estado na economia, bem como determinar as relações entre a ordem econômica e o direito econômico. Ao final, você conseguirá relacionar as formas de intervenção do Estado na economia.

SILVA, F. P. M.; BIRNKOTT, A. D.; LOPES, J. G. D. Economia política. Porto Alegre: Grupo A, 2018. E-book.

Referências Bibliográficas

BRUE, S. L.; GRANT, R. R. História do pensamento econômico. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2016.

GENNARI, A. História do pensamento econômico. São Paulo: Editora Saraiva, 2009.

SANDRONI, P. Dicionário de economia do século XXI. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.

SILVA, F. P. M.; DALCIN, A. K.; STEFANI, R. Economia política. Porto Alegre: Grupo A, 2019.

Aula 3

Adam Smith e a Riqueza das Nações

Adam Smith e a riqueza das nações

Olá, estudante!

Nesta videoaula, você irá conhecer a obra de Adam Smith, o pai da economia.

Esse conteúdo é importante para a sua prática profissional, pois vai te proporcionar a compreensão dos princípios econômicos fundamentais que regem as bases do pensamento liberal, presentes em diversas esferas da vida econômica, política e social.

Prepare-se para essa jornada de conhecimento! Vamos lá!

Ponto de Partida

Olá, estudante!

É um prazer iniciar mais uma aula em nosso percurso acadêmico.

Nesta aula, vamos conhecer as teorias de Adam Smith, uma figura central na história da economia política. Ao estudar os conceitos fundamentais desenvolvidos por Smith, mergulharemos nas raízes do pensamento econômico moderno e compreenderemos como suas ideias moldaram a compreensão contemporânea sobre a economia.

Agora, lançamos um desafio para sua reflexão. Como as ideias de Adam Smith, considerado o "pai da economia", influenciaram a economia política ao longo do tempo? De que maneira seus princípios moldaram não apenas teorias econômicas subsequentes, mas também as práticas econômicas adotadas por diversas nações?

Ao refletir essas questões, você compreenderá que as teorias de Adam Smith não apenas impactaram o entendimento da economia, mas também desencadearam uma revolução nas relações sociais e políticas.

Boa aula!

Vamos Começar!

Adam Smith foi um influente filósofo e economista escocês do século XVIII, conhecido como o pai da economia moderna, nasceu em 1723, em Kirkcaldy, na Escócia. Smith estudou na Universidade de Glasgow e depois na Universidade de Oxford. Na época, a Escócia estava passando por transformações significativas devido à Revolução Industrial e ao Iluminismo, movimento intelectual que valorizava a razão, a ciência e a liberdade individual. Esses eventos moldaram a perspectiva de Smith sobre a sociedade e a economia (Brue; Grant, 2016).

O pensamento de Adam Smith foi profundamente influenciado pelo Iluminismo, um movimento intelectual que teve seu auge no século XVIII. Durante esse período, o Iluminismo promoveu a ideia de que a razão, a ciência e a educação eram instrumentos poderosos para a melhoria da sociedade. Os iluministas buscavam substituir o pensamento tradicional baseado na fé e na autoridade pela razão e observação empírica (Brue; Grant, 2016).

Adam Smith acreditava na capacidade da razão humana para compreender e melhorar a sociedade. Sua abordagem pragmática e baseada em evidências, como apresentado em suas obras, foi moldada pela confiança no poder da razão aplicada ao entendimento dos fenômenos econômicos.

Influenciado por pensadores como David Hume e Francis Hutcheson, Adam Smith desenvolveu sua visão sobre a economia enquanto lecionava filosofia moral em Glasgow. Sua obra mais famosa, A riqueza das nações (1776), é considerada um marco na história do pensamento político e econômico. Nesse trabalho seminal, Adam Smith aborda a economia política, propondo ideias-chave que fundamentam a teoria econômica clássica. Ele introduz o conceito de mão invisível, defendendo a ideia de que o interesse próprio individual, quando buscado livremente, pode resultar no benefício da sociedade como um todo. O livro abrange tópicos como a divisão do trabalho, a importância do livre mercado e a crítica às intervenções governamentais na economia.

De acordo com Hunt e Lautzenheiser (2012):

[...] Smith se distingue de todos os economistas que o antecederam, não só por sua formação acadêmica e pela vastidão de seus conhecimentos, como também porque foi o primeiro a elaborar um modelo abstrato completo e relativamente coerente da natureza, da estrutura e do funcionamento do sistema capitalista. Notava que havia importantes ligações entre as principais classes sociais, os vários setores de produção, a distribuição da riqueza e da renda, o comércio, a circulação da moeda, os processos de formação dos preços e o processo de crescimento econômico. Baseava muitas de suas recomendações de política nas conclusões tiradas de seu modelo. Esses modelos sistemáticos do capitalismo, considerados no todo ou em parte, caracterizaram as obras da maioria dos economistas importantes, a partir de Smit [...] (Hunt; Lautzenheiser, 2012, p. 33) 

O primeiro capítulo do livro A riqueza das nações trata sobre a divisão do trabalho. Imagine uma fábrica de alfinetes que possui 10 funcionários. Porém, cada trabalhador produz alfinetes individualmente e sem treinamentos adequados para essa atividade. Logo, cada trabalhador, mal poderá talvez, ainda que com maior diligência, produzir um alfinete num dia e não seria, com certeza, capaz de produzir 20 (Brue; Grant, 2016).

Nesse exemplo dado por Adam Smith, podemos observar que o nível produtivo de somente um trabalhador, não treinando por dada função e responsável por toda a tarefa de produção, será “muito baixo”, pois ele deverá se ocupar de todo o processo produtivo, não obtendo eficiência de produção. Ao final, essa dinâmica geraria um ciclo de pobreza econômico, conforme a Figura 1.

A imagem ilustra um ciclo representado por um diagrama circular com seis caixas de texto azuis conectadas por uma seta circular azul clara, mostrando as etapas recorrentes de um processo econômico.  Caixa superior central: com o texto: Baixa produtividade. Está conectada para a direita, abaixo, indicando a próxima etapa. Caixa superior direita: com o texto: Maior valor de troca. Está conectada para baixo, indicando a próxima etapa. Caixa inferior direita: com o texto: Menos negócios. Está conectada para a esquerda, indicando a próxima etapa. Caixa inferior central: com o texto: Menos emprego e renda. Está conectada para cima, indicando a próxima etapa. Caixa inferior esquerda: com o texto: Baixo consumo. Está conectada para cima, indicando a próxima etapa. Caixa superior esquerda: com o texto: Menos riqueza e mais pobreza. Está conectada para a direita, completando o ciclo de volta à caixa Baixa produtividade.
Figura 1 | Impactos da ineficiência produtiva no sistema econômico.

Qual a proposta de Smith?

Imagine que nessa fábrica, um operário desenrola o arame, outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer uma cabeça de alfinete requerem-se 3 ou 4 operações diferentes; montar a cabeça já é uma atividade diferente e alvejar os alfinetes é outra; a própria embalagem dos alfinetes também constitui uma atividade independente (Smith, 1996, p. 66).

A eficácia e o aprimoramento do trabalho por meio de sua divisão são facilmente percebidos no exemplo fornecido. Ao dividir o trabalho em etapas distintas, a produtividade dos trabalhadores torna-se significativamente superior em comparação com a situação em que cada trabalhador se ocuparia autonomamente de todas as fases da produção de um alfinete. Essa abordagem divisional possibilita que cada trabalhador se especialize e aperfeiçoe na função para a qual foi designado. O cerne da discussão de Smith sobre a divisão do trabalho está centrado na maneira como o aumento da especialização contribui para o aumento da produtividade dentro de um setor.

Quanto mais especializada uma economia, maior a produtividade, resultando em um aumento na produção e, por conseguinte, na geração de riqueza. A divisão do trabalho não apenas impulsiona a eficiência na produção, mas também promove a inovação, uma vez que os trabalhadores podem aprimorar suas habilidades em tarefas específicas. Ao elevar a produtividade, ocorre um aumento tanto na produção quanto no excedente. Uma porção desse excedente se converte em lucro, enquanto outra parte é destinada à poupança. A fração poupada, por sua vez, transforma-se em investimento para impulsionar novas iniciativas comerciais. Portanto, o excedente econômico gerado e sua alocação determinam o ritmo do crescimento econômico a longo prazo. Essa dinâmica pode ser visualizada na Figura 2.

A imagem ilustra um ciclo representado por um diagrama circular com seis caixas de texto azuis conectadas por uma seta circular azul clara, mostrando as etapas recorrentes de um processo econômico.  Caixa superior central: com o texto: Alta  produtividade. Está conectada para a direita, abaixo, indicando a próxima etapa. Caixa superior direita: com o texto: Menor valor de troca. Está conectada para baixo, indicando a próxima etapa. Caixa inferior direita: com o texto: Mais negócios. Está conectada para a esquerda, indicando a próxima etapa. Caixa inferior central: com o texto: Mais emprego e renda. Está conectada para cima, indicando a próxima etapa. Caixa inferior esquerda: com o texto: Alto consumo. Está conectada para cima, indicando a próxima etapa. Caixa superior esquerda: com o texto: Mais riqueza e menos pobreza. Está conectada para a direita, completando o ciclo de volta à caixa Baixa produtividade.
Figura 2 | Impactos da eficiência produtiva no sistema econômico.

Siga em Frente...

Smith acreditava que, em um mercado livre e competitivo, os interesses individuais dos participantes se harmonizariam naturalmente para promover o bem-estar coletivo. De acordo Hunt e Lautzenheiser (2012), a famosa frase de Smith sobre a harmonia dos interesses expressa esta ideia: "Não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que esperamos o nosso jantar, mas da consideração que ele tem pelos próprios interesses” (Smith, 1996, p. 70). Nessa observação, Smith destaca como a busca individual do interesse próprio, quando inserida em um contexto de livre mercado, resulta na produção eficiente de bens e serviços para atender às necessidades da sociedade.

Segundo Adam Smith, há uma mão invisível que direciona o comportamento do interesse próprio para um tal caminho que o bem social emerge. A mão invisível atua como um guia não planejado que, através das interações do mercado, coordena as atividades individuais para o benefício coletivo. Essa ideia sugere que a autorregulação do mercado, orientada pelos interesses individuais, pode resultar em eficiência econômica e na maximização do bem-estar geral (Brue; Grant, 2016).

A chave para compreender a "mão invisível" de Adam Smith está ligada ao conceito de competitividade. A competitividade é o motor que impulsiona a eficácia da mão invisível. No contexto do mercado, a competição entre produtores e fornecedores cria um ambiente dinâmico no qual os participantes são motivados a oferecer produtos e serviços de melhor qualidade, a preços mais competitivos e com maior eficiência (Brue; Grant, 2016). Essa competição não apenas atende às demandas dos consumidores, mas também estimula a inovação e a melhoria constante.

Portanto, de acordo com Brue e Grant (2016), a mão invisível opera de maneira mais eficaz em um cenário competitivo, onde as forças do mercado determinam os preços, a alocação de recursos e a distribuição de bens e serviços. A concorrência fomenta a eficiência, pois os produtores buscam maneiras de produzir mais com menos recursos, reduzindo custos e, ao mesmo tempo, mantendo ou aprimorando a qualidade.

É atrativo caracterizar Smith como um apoiador do laissez-faire, considerando sua clara oposição à intervenção governamental na economia. No entanto, em contraste com algumas das defesas mais radicais desse ponto de vista, Smith reconheceu um papel significativo, embora restrito, para o Estado.

Segundo Brue e Grant (2016), Smith argumentava que o governo deveria:

  • Desempenhar um papel na garantia da justiça.
  • Proteger os direitos de propriedade e execução de contratos.
  • Garantir a defesa nacional.

 Essas funções governamentais eram vistas como essenciais para a preservação de um ambiente estável e seguro, no qual a mão invisível do mercado poderia operar eficientemente.

No entanto, Smith tinha preocupações em relação a certas práticas governamentais de sua época. Ele criticava a concessão de privilégios especiais a determinadas indústrias ou empresas, que poderiam distorcer a concorrência e prejudicar o livre funcionamento do mercado. Além disso, expressava preocupação com o risco de corrupção e ineficiência em governos que ultrapassassem seus limites apropriados.

Compreendido a importância da divisão do trabalho, da livre iniciativa e da ausência de intervenção do governo na economia, vamos agora estudar outra teoria elaborada por Adam Smith, chamada de teoria do valor do trabalho.

A teoria do valor do trabalho apresentada por Smith diz que o valor de um bem ou serviço é determinado pelo trabalho necessário para produzi-lo.

Segundo ele, o trabalho é a fonte primária de valor e os preços dos bens e serviços refletem o esforço humano incorporado em sua produção. Essa abordagem foi posteriormente desenvolvida por economistas clássicos como David Ricardo.

Segundo Smith (1996), surgem dois tipos de valor:

  • Valor de uso: refere-se à utilidade ou ao benefício que um bem ou serviço proporciona ao consumidor. Em outras palavras, é a capacidade do bem de satisfazer uma necessidade específica.
  • Valor de troca: diz respeito à capacidade de um bem ser trocado por outros bens ou serviços no mercado. Esse valor está relacionado à oferta e demanda, bem como às preferências e necessidades dos consumidores. 

Smith sustenta que o valor de troca de uma mercadoria é estabelecido pela quantidade de trabalho nela contida, somada à distribuição relativa, em diferentes ocasiões, do trabalho indireto (que gerou os meios utilizados na produção da mercadoria) e do trabalho direto (que utiliza esses meios na produção da mercadoria) (Hunt; Lautzenheiser, 2012). Smith pôde identificar o trabalho como o determinante do valor de troca apenas em economias iniciais pré-capitalistas, nas quais não existiam capitalistas ou proprietários de terras.

Ainda segundo Hunt e Lautzenheiser (2012), à medida que os capitalistas adquiriram controle sobre os meios de produção e os proprietários de terras monopolizaram a terra e os recursos naturais, Smith observou que o valor de troca ou preço passou a ser a combinação de três componentes distintos: salários, lucros e aluguéis. "Assim que o capital se acumula nas mãos de determinadas pessoas", destacou ele.

Umas das grandes indagações de Adam Smith em suas obras era identificar as causas para a riqueza de uma nação. Dentro do contexto capitalista nascente no qual viveu, Smith formulou o processo para o crescimento e desenvolvimento econômico. A Figura 3 resume os vários elementos constituintes desse processo.

A imagem apresenta um diagrama de fluxo mostrando a relação entre diferentes processos econômicos. Os elementos são representados por caixas retangulares cinzas conectadas por setas pretas, cada uma rotulada com uma letra para indicar a sequência ou relação entre as etapas. Primeira Caixa localizada na parte Superior à Esquerda: com o texto: Divisão do trabalho. Está conectada por setas rotuladas com as letras: a: Leva à caixa Acúmulo de capital, localizada à direita da imagem. b: Leva à caixa Incremento da produtividade, localizada abaixo.  Segunda caixa à esquerda, com o texto: Incremento da produtividade. Está conectada por seta rotulada com a letra: d: Leva à caixa Incremento da produção nacional localizada abaixo.  Terceira caixa à Esquerda, com o texto: Incremento da produção nacional. Está conectada por setas rotuladas com as letras: e: Leva à caixa Incremento da riqueza da nação, localizada abaixo. f: Volta para à caixa Divisão do trabalho.  Última caixa à esquerda, com o texto: Incremento da riqueza da nação.  Primeira Caixa localizada na parte Superior à Direita, com o texto: Acúmulo de capital, está conectada por setas rotuladas com as letras: c: Leva à caixa Incremento da produtividade, localizada do lado esquerdo. g: Leva à caixa Incremento da reserva de salários, localizada abaixo. Segunda caixa à Esquerda: com o texto Incremento da reserva de salários. Está conectada por seta rotulada com a letra: h: Leva à caixa Salários mais altos, localizada abaixo.  Última caixa à Direita: com o texto: Salários mais altos. Está conectada por seta rotulada com a letra: i: Leva à caixa Incremento da produtividade, localizada à esquerda.
Figura 3 | A teoria do crescimento econômico de Adam Smith. Fonte: Brue e Grant (2016, p. 87).

Conforme evidenciado pelos dois retângulos superiores na figura, Smith considerava a divisão do trabalho e a acumulação de capital como os principais impulsionadores do crescimento de uma nação.

Smith afirmou que a divisão do trabalho estimula o acúmulo de capital (seta a) e que os dois trabalham juntos para aumentar a produtividade do trabalho (setas b e c). O crescimento na produtividade do trabalho aumenta a produção nacional (seta d), que amplia o mercado e justifica a distância entre a divisão do trabalho e o acúmulo de capital (seta f). Como um resultado do acúmulo de capital, as reservas de salários crescem (seta g) e os salários aumentam (seta h). Os salários mais altos motivam o crescimento ainda maior da produtividade (seta i). O crescimento da produção nacional aumenta o número de bens disponíveis para o consumo, o que, para Smith, constitui a riqueza de uma nação (seta e).

Em resumo, Adam Smith é considerado um dos pilares da economia política clássica devido à sua visão pioneira sobre o funcionamento dos mercados, o valor do trabalho, a importância da divisão do trabalho e a defesa da competição. Seu legado persiste como uma base essencial para muitas teorias econômicas subsequentes e continua a influenciar as discussões e políticas econômicas em todo o mundo.

Vamos Exercitar?

Gostou da aula até aqui? Espero que sim!

A partir de agora vamos retomar a problematização do início do conteúdo.

A primeira reflexão nos indaga como as ideias de Adam Smith, considerado o "pai da economia", influenciaram a economia política ao longo do tempo.

Bom, as ideias de Adam Smith, conhecido como o "pai da economia", tiveram uma significativa influência na economia política ao longo do tempo. Seu conceito central da "mão invisível" destacou como a busca individual pelo próprio interesse pode contribuir para o bem-estar coletivo, tornando-se a base do liberalismo econômico. Smith defendeu a mínima intervenção governamental nos mercados, promovendo a liberdade individual e a propriedade privada. Também enfatizou a importância da divisão do trabalho e a especialização na produção como impulsionadores da eficiência econômica.

A segunda reflexão nos instiga e pensar de que maneira seus princípios moldaram não apenas teorias econômicas subsequentes, mas também as práticas econômicas adotadas por diversas nações.

Essas ideias foram fundamentais para a formação da teoria econômica clássica, influenciando pensadores subsequentes e moldando a visão predominante sobre como as economias deveriam operar. Ao longo do tempo, os princípios de Smith transcenderam as fronteiras teóricas e foram incorporados nas práticas econômicas adotadas por diversas nações, contribuindo para o desenvolvimento do capitalismo moderno e influenciando políticas que buscavam equilibrar o livre mercado com a regulação estatal, marcando assim um impacto duradouro na economia global.

Saiba Mais

Vamos conhecer um pouco mais sobre o que aprendemos? É importante que você tenha outras fontes de pesquisa para ser capaz de pensar de forma crítica o conteúdo abordado nesta aula.

Leia o Capítulo 3 Adam Smith do livro: História do pensamento econômico: uma perspectiva crítica. Nesse capítulo, você vai estudar o contexto histórico das ideias de Smith. As teorias de História e Sociologia de Smith incluíam uma análise das origens e do desenvolvimento do conflito de classes na sociedade e uma análise da maneira pela qual o poder era exercido na luta de classes. Você vai estudar também a teoria do valor, a teoria do bem-estar econômico, conflito de classes e harmonia social para Smith.

HUNT, E. K.; LAUTZENHEISER, M. História do pensamento econômico: uma perspectiva crítica. 3. ed. 11ª Reimpr. Rio de Janeiro: GEN, 2012. E-book.

Leia o Capítulo 5 A escola clássica – Adam Smith do livro: História do pensamento econômico. Na discussão de Smith, inicialmente, o capítulo aborda alguns detalhes de sua vida e conheceremos várias influências importantes que recebeu. Posteriormente, analisa seu primeiro livro, The theory of moral sentiments, para explorar a relação entre seu pensamento sobre a filosofia moral e sobre a economia política. Por fim, os autores abordam com detalhes seu monumental A riqueza das nações, destacando suas opiniões sobre (1) o laissez-faire e a harmonia dos interesses, (2) a divisão do trabalho e (3) as leis econômicas de uma economia competitiva.

BRUE, S. L.; GRANT, R. R. História do pensamento econômico. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2016. E-book.

Referências Bibliográficas

BRUE, S. L.; GRANT, R. R. História do pensamento econômico. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2016.

HUNT, E. K.; LAUTZENHEISER, M. História do pensamento econômico: uma perspectiva crítica. 3. ed. 11ª Reimpr. Rio de Janeiro: GEN, 2012.

SMITH, A. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. Santos: Editora Nova Cultural, 1996. (Coleção os Economistas).

Aula 4

Contribuições de David Ricardo

Contribuições de David Ricardo

Olá, estudante!

Nesta videoaula você irá conhecer os princípios básicos de economia política propostos por David Ricardo. 

Esse conteúdo é importante para a sua prática profissional, pois você compreenderá princípios econômicos elaborados por esse autos válidos até os dias atuais.

Prepare-se para essa jornada de conhecimento! Vamos lá!

Ponto de Partida

Olá, estudante!

Nesta aula, vamos estudar os princípios fundamentais da economia política propostos por David Ricardo, abordando temas essenciais como a Teoria dos Rendimentos Marginais Decrescentes, Teoria do Valor Trabalho e Teoria das Vantagens Comparativas.

Seu legado é fortemente associado à sistematização e expansão das ideias dos economistas clássicos, como Adam Smith. Ricardo destacou-se não apenas pela clareza de suas teorias, mas também pela habilidade em conectar diferentes aspectos da economia, oferecendo uma visão abrangente das forças econômicas e sociais que moldam a sociedade.

Agora, lançamos um desafio para sua reflexão:

  • Como a Teoria dos Rendimentos Marginais Decrescentes, proposta por David Ricardo, influencia a alocação de recursos e a produção em diferentes setores econômicos?
  • De qual maneira a Teoria das Vantagens Comparativas pode ser aplicada na formulação de estratégias comerciais internacionais?

Essas questões fornecem um direcionamento para o estudo, incentivando a reflexão sobre a relevância prática desses conceitos.

Boa aula!

Vamos Começar!

David Ricardo foi um renomado economista clássico britânico, nascido em Londres em 18 de abril de 1772 e falecido em 11 de setembro de 1823. Sua vida foi marcada por contribuições significativas para a teoria econômica, tornando-se uma figura proeminente na história da economia política. Ricardo iniciou sua carreira profissional no mercado financeiro, onde obteve considerável sucesso como corretor da Bolsa de Londres. Sua entrada no mundo dos negócios proporcionou-lhe uma compreensão prática das dinâmicas econômicas, influenciando diretamente suas futuras contribuições teóricas.

A influência de obras como A riqueza das nações, de Adam Smith, e Ensaio sobre a natureza do comércio em geral, de Richard Cantillon, foi perceptível em seu pensamento econômico. Contudo, foi com a publicação de sua obra seminal, Princípios de economia política e tributação (1817), que Ricardo deixou uma marca no campo da economia política.

David Ricardo era notável pela sua capacidade única de construir modelos abstratos que elucidavam as complexidades do sistema capitalista. Sua abordagem teórica era fundamentada em princípios analíticos, permitindo-lhe formular leis econômicas gerais que transcenderam a sua época.

A Teoria dos Rendimentos Decrescentes e a Teoria da Renda da Terra são conceitos fundamentais na análise econômica, especialmente no contexto da obra de David Ricardo.

A Teoria dos Rendimentos Decrescentes é um princípio econômico que descreve como a adição de mais insumos a uma unidade fixa de produção resulta em retornos marginais decrescentes. Essa teoria é particularmente relevante na análise da produção agrícola, onde a quantidade de terra disponível é um fator fixo. Em termos simples, ela argumenta que, à medida que mais esforço, trabalho e capital são aplicados a uma área de terra fixa, os retornos adicionais tornam-se progressivamente menores.

Para ilustrar, imagine um agricultor que está cultivando um campo. Inicialmente, ao adicionar mais trabalhadores ou mais fertilizantes, a produção pode aumentar significativamente. Contudo, chega um ponto em que a área de terra não pode acomodar mais inputs eficientemente, resultando em rendimentos marginais (adicionais) decrescentes. Isso reflete a ideia de que, eventualmente, a aplicação adicional de insumos não proporciona ganhos proporcionais.

Segundo Ricardo, os agricultores optam por cultivar terras mais férteis e bem localizadas, onde os rendimentos marginais são mais altos. No entanto, à medida que a demanda por alimentos cresce, a produção se expande para terras menos produtivas, onde os rendimentos decrescentes entram em jogo.

A Teoria da Renda da Terra de David Ricardo está profundamente relacionada a essa análise. Ricardo postulou que a terra é um recurso natural com características variáveis, como fertilidade e localização. À medida que a demanda por alimentos cresce, agricultores se voltam para terras menos férteis, onde os rendimentos são afetados pelos rendimentos decrescentes. A diferença nos rendimentos entre terras mais e menos produtivas resulta na renda diferencial, que é a base da Teoria da Renda da Terra.

A renda diferencial ocorre quando agricultores estão dispostos a pagar uma renda adicional aos proprietários de terras mais férteis, apesar dos rendimentos decrescentes associados a essas terras. Esse fenômeno decorre da necessidade de cultivar terras menos produtivas para atender à crescente demanda por alimentos, evidenciando a escolha estratégica dos agricultores diante dos rendimentos decrescentes. Em síntese, a Teoria dos Rendimentos Decrescentes é fundamental para entender a distribuição de recursos na agricultura, enquanto a Teoria da Renda da Terra de Ricardo fornece uma estrutura conceitual para explicar como a renda diferencial surge da interação entre a qualidade variável da terra e os rendimentos decrescentes.

Siga em Frente...

David Ricardo também abordou a teoria do valor-trabalho, que inicialmente havia sido apresentada por Adam Smith.

Em sua obra Princípios de economia política e tributação (1817), Ricardo argumentou que, para uma mercadoria adquirir valor de troca, é necessário que ela possua valor de uso. De acordo com sua perspectiva, a utilidade (satisfação subjetiva de uma necessidade) não constitui a medida do valor de permuta, embora seja fundamental para esse processo.

Possuindo utilidade, ou valor de uso, as mercadorias derivam seu valor de troca de duas origens:

  • Sua escassez.
  • A quantidade de trabalho exigida para obtê-las.

O valor de bens não reprodutíveis, como obras de arte raras, livros clássicos e antigas moedas, é exclusivamente determinado pela sua escassez. Nesses casos, a oferta é constante, tornando a demanda o fator principal na definição do valor de troca. No entanto, a maioria das mercadorias é reproduzível e Ricardo pressupôs que essas mercadorias são produzidas sem restrições sob as condições de competitividade. Foi para esses bens que Ricardo adotou sua Teoria do Valor-Trabalho.

O princípio central da Teoria do Valor-Trabalho de David Ricardo afirma que o valor de troca de uma mercadoria está intrinsecamente ligado ao tempo de trabalho necessário para produzi-la. Segundo essa perspectiva, o trabalho não se limita apenas ao esforço físico direto na fabricação da mercadoria, mas abrange também o trabalho incorporado na obtenção da matéria-prima e nos bens de capital utilizados no processo de produção.

Ao considerar não apenas o trabalho direto, mas também o trabalho incorporado em todas as etapas da produção, a Teoria do Valor-Trabalho de Ricardo destaca a interconexão e a interdependência entre diferentes setores da economia. Isso proporciona uma base mais completa para entender as causas das variações no valor de troca ao longo do tempo.

Ricardo argumenta que essa abordagem permite uma análise mais precisa das mudanças no valor de troca ao longo do tempo. Ao considerar o tempo de trabalho em todas as fases da produção, é possível identificar as influências específicas que afetam o valor de uma mercadoria. Por exemplo, variações na produtividade, mudanças nas condições tecnológicas ou flutuações na oferta de matéria-prima podem ser analisadas em termos de seu impacto no tempo total de trabalho necessário para produzir uma mercadoria.

Ricardo denomina como preço natural o valor intrínseco de uma mercadoria resultante da incorporação de trabalho nela, enquanto o preço de mercado é aquele formado pelas forças de oferta e demanda no mercado. Ele chega à conclusão de que o preço, conforme o conhecemos, é o preço de mercado, e seu valor está condicionado à interação entre oferta e demanda, e não aos salários pagos aos trabalhadores.

Em sua teoria, Ricardo justifica o comércio entre países mesmo quando uma nação é mais eficiente na produção de todos os produtos, ou seja, mesmo que possua vantagens absolutas em todos os bens considerados. Portanto, para David Ricardo, o comércio internacional é justificável mesmo quando um país não detém vantagens absolutas em comparação com outros, uma vez que é o princípio da vantagem comparativa que determina o comércio, e não as vantagens absolutas (Krugman; Obstfeld, 2015).

Mas afinal, o que significa vantagem comparativa?

Segundo essa teoria, mesmo quando um país é menos eficiente do que outra nação na produção de ambos os produtos, ainda assim há uma fundamentação para o comércio mutuamente benéfico. Como a produção de um determinado bem implica renunciar a produção de outro bem, a nação deve se especializar naquele produto em que seu custo de oportunidade é menor (Krugman; Obstfeld, 2015).

O que é o custo de oportunidade?

O custo de oportunidade refere-se à análise da escolha que precisamos fazer, considerando o que devemos renunciar para obter outro bem. No contexto de países, o custo de oportunidade é o valor econômico da melhor alternativa sacrificada ao optar pela produção de um determinado bem ou serviço (Krugman; Obstfeld, 2015).

Logo, de acordo com a teoria, as relações comerciais entre duas nações ocorrem quando apresentam custos de produção distintos. Em seguida, sugere que uma nação sempre exportará o produto que envolve custos relativamente menores do que o de outro. Por fim, com base nesses resultados, argumenta-se que o comércio entre dois países é benéfico para ambos. Essa teoria busca estabelecer os princípios que regem a divisão internacional do trabalho e, ao mesmo tempo, promover a mais ampla liberdade de comércio entre países (Krugman; Obstfeld, 2015).

Para aprofundar a compreensão da teoria das vantagens comparativas, David Ricardo elaborou um exemplo envolvendo dois países (Inglaterra e Portugal), dois produtos (tecido e vinho) e apenas um fator produtivo (mão de obra). A Tabela 4 apresenta o total de horas trabalhadas pelos dois países na produção dos dois bens destinados ao consumo próprio.

Países

Tecido

Vinho

Total de horas

Inglaterra

100

120

220

Portugal

90

80

170

Total de horas

190

200

390

Tabela 1 | Quantidade de Homens/Hora para a produção de uma unidade de mercadoria. Fonte: adaptada de Vasconcellos (2011).

Sem o comércio internacional, na Inglaterra, são necessárias 100 horas de trabalho para produzir uma unidade de tecido e 120 horas para produzir uma unidade de vinho. Em Portugal, são necessárias 90 horas de trabalho para produzir uma unidade de tecido e 80 horas para produzir uma unidade de vinho. Assim, Portugal é absolutamente mais eficiente na produção de ambos os bens, o que parece paradoxal. Sob a ótica das vantagens absolutas, não haveria motivo para comércio entre os dois países, já que Portugal apresenta vantagem absoluta em ambos os produtos. Contudo, David Ricardo demonstra que o comércio internacional ainda pode ocorrer nesse cenário, proporcionando benefícios mútuos para ambos os países.

Em termos relativos, o custo produtivo de tecidos em Portugal é mais alto do que o da produção de vinho, enquanto na Inglaterra o custo produtivo do vinho é superior ao da produção de tecidos. Dessa forma, em comparação, os portugueses têm vantagem relativa na produção de vinho, e a Inglaterra tem vantagem relativa na produção de tecido. Segundo Ricardo, ambas as nações podem obter benefícios ao se especializarem na produção da mercadoria na qual possuem vantagem comparativa, independentemente do fato de Portugal ter vantagem absoluta em ambos os produtos.

Para compreender melhor essa linha de raciocínio, é possível observar a Tabela 5, que apresenta o cálculo do custo de oportunidade de produção. Esse custo é calculado em função da quantidade do outro bem que será deixado de produzir.

Países

Tecido

Vinho

Inglaterra

100/120

0,83

120/100

 1,20

Portugal

90/80

 1,13

80/90

0,89

Tabela 2 | Cálculo do custo de oportunidade. Fonte: adaptada de Vasconcellos (2011).

Conforme a perspectiva de David Ricardo, cada país deve dedicar-se à produção do bem que seja comparativamente mais eficiente do que o outro, ou seja, que apresente menor custo de oportunidade. Dessa maneira, ao produzir tecidos, a Inglaterra tem um custo de oportunidade de 0,83, enquanto Portugal, para produzir tecidos, tem um custo de oportunidade de 1,13. Logo, a Inglaterra possui um custo de oportunidade mais baixo, tornando-se mais competitiva e, portanto, deve especializar-se na produção de tecidos. Ao analisar o produto vinho, a Inglaterra apresenta um custo de oportunidade de 1,20, enquanto Portugal possui um custo de oportunidade de 0,89. Assim, Portugal deve especializar-se na produção de vinho, pois seu custo de oportunidade é menor que o da Inglaterra (Vasconcellos, 2011).

Nesse contexto, se houver comércio entre as nações, a Inglaterra poderá importar uma unidade de vinho por um valor inferior a 1,2 unidades de tecido e Portugal poderá adquirir mais que 0,89 unidade de tecido ao vender seu vinho (Vasconcellos, 2011). Dessa forma, se a relação de troca entre o vinho e o tecido for de 1 para 1, ambos os países alcançarão benefícios. Sem o comércio, a Inglaterra gastará 120 horas de trabalho para obter uma unidade de vinho; com o comércio com Portugal, poderá utilizar apenas 100 horas de trabalho, produzir 1 unidade de tecido e trocá-la por 1 unidade de vinho, economizando, portanto, 20 horas de trabalho. O mesmo princípio se aplica a Portugal, pois em vez de gastar 90 horas produzindo uma unidade de tecido, poderia utilizar apenas 80 horas produzindo uma unidade de vinho e trocá-la no mercado internacional por uma unidade de tecido, economizando assim 10 horas de trabalho (Vasconcellos, 2011).

Resumindo, para David Ricardo é necessária a comparação entre produtores de um produto, levando em consideração seus custos de oportunidade. O produtor que renuncia a menor quantidade de outros produtos para produzir o bem X e possui menor custo de oportunidade de produção desse bem, diz-se, portanto, que desfruta de uma vantagem comparativa na sua produção.

Vamos Exercitar?

Gostou da aula até aqui? Espero que sim!

A partir de agora vamos retomar a problematização do início da aula.

A primeira reflexão nos indaga como a Teoria dos Rendimentos Marginais Decrescentes, proposta por David Ricardo, influencia a alocação de recursos e a produção em diferentes setores econômicos.

A Teoria dos Rendimentos Marginais Decrescentes de David Ricardo argumenta que, à medida que mais recursos são dedicados à produção de um bem, os retornos adicionais diminuem. Isso influencia a alocação de recursos e a produção em diferentes setores econômicos de maneiras práticas.

Na agricultura, por exemplo, ao cultivar mais terras, os agricultores podem experimentar rendimentos decrescentes devido a limitações naturais. Isso implica que, para otimizar a produção, é mais eficiente especializar-se na produção de culturas onde os recursos podem ser mais produtivos.

Em setores industriais, a teoria destaca a importância de avaliar constantemente a eficiência dos recursos. Quando os rendimentos marginais diminuem em um setor, os produtores podem considerar realocar recursos para áreas mais produtivas, buscando maximizar os retornos.

Essa teoria também está relacionada à ideia de vantagem comparativa, sugerindo que países e empresas devem se especializar na produção do que fazem relativamente melhor. Isso contribui para uma alocação mais eficiente de recursos em escala global, promovendo a especialização econômica.

A segunda reflexão nos instiga a pensar de qual maneira a Teoria das Vantagens Comparativas pode ser aplicada na formulação de estratégias comerciais internacionais.

A Teoria das Vantagens Comparativas, proposta por David Ricardo, sugere que países devem se especializar na produção de bens nos quais possuem vantagens comparativas, ou seja, onde podem produzir de maneira mais eficiente em relação a outros. Essa teoria tem implicações práticas importantes na formulação de estratégias comerciais internacionais.

Ao aplicar essa teoria, países e empresas podem identificar suas competências distintivas, como recursos naturais, habilidades da mão de obra e tecnologia e concentrar-se na produção em que se destacam. Isso leva à especialização produtiva e ao comércio internacional baseado em vantagens comparativas, resultando em ganhos mútuos.

Na prática, isso significa que as empresas podem buscar parcerias estratégicas e participar de acordos comerciais que aproveitem as vantagens comparativas mútuas entre os países. Além disso, a identificação de mercados internacionais específicos, onde as vantagens comparativas podem ser mais bem exploradas, é crucial. A adaptação às mudanças tecnológicas também é essencial, pois inovações podem criar vantagens comparativas em setores específicos.

Saiba Mais

Vamos conhecer um pouco mais sobre o que aprendemos? É importante que você tenha outras fontes de pesquisa para ser capaz de pensar de forma crítica o conteúdo abordado nesta aula.

Leia o Capítulo 7 A escola clássica – David Ricardo do livro: História do pensamento econômico. Nesse capítulo os autores apresentam detalhes importantes da vida de Ricardo, bem como discutem seu ponto de vista sobre a questão da moeda na Inglaterra. Posteriormente, desenvolvem sua Teoria da Renda da Terra e a Teoria Relacionada aos Rendimentos Decrescentes. Essas duas teorias são relevantes para os dois importantes tópicos a seguir: o primeiro, a Teoria do Valor de Troca; e o segundo, a Teoria da Distribuição de Renda da Terra. O capítulo prossegue com artigos sobre a lei da vantagem comparativa de Ricardo, com seus pontos de vista sobre a possibilidade do desemprego e com uma breve avaliação de toda a sua contribuição.

BRUE, S. L.; GRANT, R. R. História do pensamento econômico. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2016. E-book. 

Leia o Capítulo 5 David Ricardo do livro: História do pensamento econômico: uma perspectiva crítica. Nesse capítulo, os autores apresentam inicialmente a Teoria da Renda da Terra e primeira abordagem dos lucros. Posteriormente, apresentam a base econômica do conflito entre capitalistas e proprietários de terras, bem como a Teoria do Valor-Trabalho. Por fim, é abordada a maquinaria como causa de desemprego involuntário e a teoria das vantagens comparativas e comércio internacional.

HUNT, E. K.; LAUTZENHEISER, M. História do pensamento econômico: uma perspectiva crítica. 3. ed. 11ª Reimpr. Rio de Janeiro: GEN, 2012.

Referências Bibliográficas

BRUE, S. L.; GRANT, R. R. História do pensamento econômico. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2016.

HUNT, E. K.; LAUTZENHEISER, M. História do pensamento econômico: uma perspectiva crítica. 3. ed. 11ª Reimpr. Rio de Janeiro: GEN, 2012.

KRUGMAN, P. R.; OBSTFELD, M. Economia internacional: teoria e política. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2015.

VASCONCELLOS, M. A. S. de. Economia: micro e macro. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

Encerramento da Unidade

A ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA

Economia política clássica

Olá, estudante!

Nesta videoaula você irá conhecer as bases da economia política clássica.

Esse conteúdo é importante para a sua prática profissional, pois ao compreender a economia política clássica, você estará mais bem preparado para analisar e interpretar as dinâmicas econômicas atuais, identificando padrões e entendendo como as teorias do passado ainda impactam as discussões contemporâneas.

Prepare-se para essa jornada de conhecimento! Vamos lá!

Ponto de Chegada

Olá, estudante!

Para desenvolver a competência desta unidade, que é compreender, analisar e aplicar os princípios centrais da economia política clássica, a fim de examinar criticamente as interações entre produção, distribuição e consumo de bens e serviços, você deverá primeiramente conhecer os conceitos fundamentais dos precursores do pensamento econômico clássico.

Inicialmente, ao conhecer as bases do mercantilismo você compreende o processo de formação do estado absolutista europeu nos séculos XVI e XVII, no qual destaca-se a importância da acumulação de metais preciosos e o papel do Estado na regulação da economia. Posteriormente, ao estudar a escola fisiocrata, você compreende a ideia do "laissez-faire", bem como a importância da agricultura como fonte primária de riqueza econômica.

Ao avançarmos para as teorias liberais, desde seu surgimento até as escolas clássica e neoclássica, busca-se aprofundar a compreensão sobre os princípios fundamentais que moldaram a visão econômica capitalista. Nesse contexto, ao explorar conceitos como a mão invisível do mercado e a importância da livre concorrência, você obtém as ferramentas analíticas necessárias para examinar criticamente as dinâmicas entre produção, distribuição e consumo.

Adam Smith, em sua obra A riqueza das nações, é central para o desenvolvimento da competência desta unidade. Analisar suas ideias sobre a divisão do trabalho, a busca pelo interesse próprio e os benefícios para a sociedade é crucial para aplicar os princípios da economia política clássica na análise das interações econômicas.

Finalmente, direcionamos nossa atenção para as contribuições de David Ricardo. Ao estudar as teorias da renda diferencial e da vantagem comparativa, você desenvolve a capacidade de aplicar os princípios clássicos na análise das interações entre produção, distribuição e consumo, compreendendo as complexidades da alocação de recursos em uma economia.

Dessa forma, ao percorrer esses conteúdos, você fortalecerá sua competência em compreender, analisar e aplicar os princípios centrais da economia política clássica, essenciais para uma avaliação crítica das relações econômicas fundamentais.

É Hora de Praticar!

A cidade de Prosperidade, no século XVIII, é fortemente influenciada pelos princípios mercantilistas. No entanto, a comunidade enfrenta desafios na produção agrícola e distribuição desigual de riqueza. Em busca de soluções, os líderes locais decidem explorar as teorias econômicas emergentes, como as dos fisiocratas e dos teóricos liberais. 

Desafio econômico:

Prosperidade se depara com uma estagnação econômica devido à dependência excessiva do comércio internacional e à desigualdade na distribuição de recursos. A população está dividida entre manter as práticas mercantilistas tradicionais e abraçar mudanças para impulsionar o crescimento econômico.

Introdução às teorias econômicas:

Os líderes da cidade iniciam uma análise das teorias mercantilistas, que enfatizam a acumulação de riqueza através do comércio. Ao reconhecerem as limitações dessa abordagem, eles também se voltam para as ideias dos fisiocratas, que destacam a importância da agricultura na economia.

Desenvolvimento da Escola Clássica:

Diante das lacunas nas teorias anteriores, os líderes decidem explorar as teorias liberais em ascensão. Eles estudam o surgimento da escola clássica, focando nas ideias de Adam Smith e sua obra A riqueza das nações. A perspectiva de um mercado livre e a importância da busca do interesse próprio despertam interesse.

No entanto, surgem desafios na adaptação da comunidade a esse novo modelo, incluindo resistência de alguns membros e incertezas sobre como garantir uma distribuição justa dos benefícios.

Problematização:

  • Como os princípios liberais poderiam impulsionar o desenvolvimento econômico da comunidade?
  • Quais as mudanças econômicas que a comunidade deverá adotar para mudar de um modelo mercantilista para um modelo liberal?

Este estudo de caso ilustra a complexidade da transição econômica, analisando criticamente as teorias da economia política clássica. As perguntas propostas estimulam a reflexão sobre os desafios enfrentados pela comunidade de Prosperidade na busca por um modelo econômico mais eficiente e equitativo.

Reflita

  • Analise criticamente as abordagens mercantilistas e fisiocratas em relação ao papel do Estado na economia. Em que medida as ideias dessas correntes ainda têm relevância nas discussões contemporâneas sobre a intervenção estatal na economia?
  • Considerando as ideias de Adam Smith sobre a divisão do trabalho e a mão invisível, como esses conceitos influenciam a produção, a distribuição e o consumo de bens e serviços na sociedade contemporânea?

Resolução do estudo de caso

Com base na competência de compreender, analisar e aplicar os princípios centrais da economia política clássica, a resolução deste estudo de caso visa examinar criticamente as interações entre produção, distribuição e consumo de bens e serviços.

A cidade de Prosperidade, no século XVIII, enfrenta uma estagnação econômica devido à dependência excessiva do comércio internacional e à desigualdade na distribuição de recursos. Diante desse desafio, os líderes locais buscam soluções explorando teorias econômicas emergentes, como as dos fisiocratas e dos teóricos liberais.

As questões norteadoras são:

  1. Como os princípios liberais poderiam impulsionar o desenvolvimento econômico da comunidade?
  2. Quais as mudanças econômicas que a comunidade deverá adotar para mudar de um modelo mercantilista para um modelo liberal?

Resolução:

Para impulsionar o desenvolvimento econômico da comunidade, os líderes de Prosperidade devem considerar uma transição gradual e bem gerenciada dos princípios mercantilistas para os liberais.

  Inicialmente, os princípios liberais, como propostos por teóricos como Adam Smith, destacam a importância do mercado livre e da busca do interesse próprio como motores do desenvolvimento econômico. Na perspectiva liberal, a remoção de restrições ao comércio e a promoção da concorrência podem aumentar a eficiência econômica. Os líderes de Prosperidade podem esperar um aumento na produtividade e na inovação à medida que adotam esses princípios.

A transição de um modelo mercantilista para um liberal implica várias mudanças. Isso pode incluir a remoção de restrições comerciais, a promoção da liberdade individual para buscar interesses econômicos próprios e a implementação de políticas que incentivem a concorrência e a inovação. A comunidade também precisará lidar com a distribuição desigual de riqueza, buscando meios de garantir que os benefícios do novo modelo sejam distribuídos de maneira mais equitativa.

Dê o play!

Assimile

A imagem exibe um mapa mental focado nos principais conceitos dentro da Economia Política Clássica, representado por uma caixa central preta conectada a quatro caixas coloridas ao redor. O fundo é decorado com elementos abstratos coloridos.  Texto no centro do mapa: ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA. Está conectado por setas pretas às quatro caixas ao seu redor. Caixa Superior na cor Verde clara, com o título: MERCANTILISMO e o texto: Destacava a acumulação de ouro e prata como indicador de riqueza nacional. A intervenção estatal na economia era vista como essencial. Caixa à Direita na cor Amarelo clara, com o título: FISIOCRACIA e o texto: A verdadeira riqueza estava na agricultura, considerando-a como única fonte produtiva. Interferência mínima do estado na economia. Caixa Inferior na cor Rosa clara, com o título: ADAM SMITH e o texto A divisão do trabalho pode aumentar a eficiência econômica. O mercado é autorregulado. Pessoas agem por seus próprios interesses guiados pela mão invisível. Caixa à Esquerda na cor Lilás com o título DAVID RICARDO e o texto Introduziu a ideia dos 'rendimentos decrescentes da terra'. Propôs a teoria do valor trabalho e vantagens comparativas.
Figura 1 | Economia política clássica.

Referências

BRUE, S. L.; GRANT, R. R. História do pensamento econômico. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2016.

GENNARI, A. História do pensamento econômico. São Paulo: Editora Saraiva, 2009.

HUNT, E. K.; LAUTZENHEISER, M. História do pensamento econômico: uma perspectiva crítica. 3. ed. 11ª Reimpr. Rio de Janeiro: GEN, 2012.

SANDRONI, P. Dicionário de economia do século XXI. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005.

SILVA, F. P. M.; DALCIN, A. K.; STEFANI, R. Economia política. Porto Alegre: Grupo A, 2019.