Os Resultados da Pesquisa Científica
Aula 1
Conhecendo as Etapas da Pesquisa Científica
Conhecendo as etapas da pesquisa científica
Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação profissional. Vamos assisti-la?
Ponto de Partida
Olá, estudante!
Ao realizar um trabalho acadêmico, o pesquisador propõe-se a seguir de forma criteriosa algumas regras e normas que são pertinentes da ciência para poder investigar seu problema de forma relevante e obter respostas consistentes e importantes para a comunidade acadêmica e para a sociedade de uma forma geral. O estudante universitário é um pesquisador em formação, que, após a conclusão do curso, pode escolher seguir no caminho acadêmico ou ingressar no mercado de trabalho, por exemplo. Para a conclusão do curso, as universidades solicitam a elaboração de uma monografia ou de um trabalho de conclusão de curso (TCC). Vamos falar de forma aprofundada a respeito desses trabalhos e das suas diferentes etapas.
Vamos tomar como base a seguinte questão: você está desenvolvendo seu trabalho de conclusão de curso, você já definiu o tema da sua pesquisa: “impacto da tecnologia na saúde mental de adolescentes” e definiu também o problema da sua pesquisa: em que medida o uso noturno de dispositivos eletrônicos interfere nos padrões de sono e bem-estar emocional em adolescentes de 13 a 17 anos? A partir desse tema e do problema de pesquisa, ao final da aula, vamos pensar em como a justificativa pode começar a ser redigida; vamos refletir também sobre o objetivo geral da pesquisa.
Bons estudos!
Vamos Começar!
Diferentes são os conceitos encontrados na literatura para se definir o que é o TCC e o que é a monografia. O que podemos entender como um consenso entre os autores é que se trata de estudos sobre um determinado tema que obedecem a uma metodologia específica. Ou seja, partem do método científico no tocante ao rigor para a sua elaboração. De acordo com Baptista e Campos (2016, p. 54), “o uso do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi regulamentado pela Resolução n.º 11/84 do Conselho Federal de Educação com o intuito de proporcionar maior aprofundamento de um tema ao aluno”. Ainda segundo os autores, o TCC normalmente é um trabalho interdisciplinar que visa demonstrar o conhecimento adquirido.
“A palavra ‘monografia’ deriva do grego monos (um só) + graphein (escrever). Logo se percebe que se trata de um documento escrito que trata de um só assunto” (Silva, 2015, p. 100). A monografia pode ser entendida como um trabalho que aborda um assunto ou um problema de maneira sistemática, profunda e completa em uma determinada área do conhecimento. Segundo Baptista e Campos (2016, p. 54), “há três tipos básicos de trabalhos monográficos: tais como as monografias de conclusão de curso, as dissertações de mestrado e as teses de doutorado”. Vamos conhecer mais sobre esses trabalhos, focando especificamente no TCC.
Trabalho de conclusão de curso
A elaboração da monografia ou do TCC, em um sentido amplo, tem o objetivo de satisfazer um dos requisitos necessários para a obtenção de grau, título ou avaliação acadêmica em nível de graduação ou pós-graduação. Nos cursos de pós-graduação, os trabalhos de conclusão de curso se diferenciam pelo grau de aprofundamento que precisam apresentar no tema abordado. Esses cursos se dividem em lato sensu, que conferem ao concluinte o título de especialista, e stricto sensu, que conferem ao concluinte o título de mestre ou doutor em uma área. Vamos acompanhar no Quadro 1 os diferentes tipos de Pós-Graduação:
Especialização – Lato Sensu | Enfoca no nível técnico profissional, fornecendo o título de especialista no campo de estudo e objetiva o aprofundamento dos conhecimentos da sua área de formação, fazendo o direcionamento da graduação. Para obter o título de especialista, é necessário a entrega de uma monografia. |
Mestrado acadêmico – Stricto Sensu | Tem o período fixo de dois anos e é voltado para a pesquisa cientifica. O seu objetivo é aprofundar e direcionar os conhecimentos obtidos na graduação e formar pesquisadores e professores de ensino superior. Ele conta com a supervisão de um orientador e exige defesa de uma dissertação para a obtenção do título de mestre. |
Doutorado – Stricto Sensu | Objetiva um aprofundamento maior que o mestrado e é voltado para a pesquisa científica. Esse tipo de formação leva quatro anos e exige a elaboração de uma tese sobre uma área a ser defendida como requisito para obtenção do título. Essa tese, em geral, deve possuir um conteúdo original que contribuía com o avanço do campo de estudos. |
Quadro 1 | Tipos de pós-graduação. Fonte: elaborado pela autora.
A diferença básica entre essas produções é o aprofundamento teórico e metodológico que elas precisam apresentar. O principal em um trabalho acadêmico, em qualquer nível de formação, é que ele atenda os critérios científicos. O autor precisa ser responsável na sua condução, fundamentando posições e ideias, citando e referenciando corretamente os autores que tomar como base e seguindo os preceitos éticos de uma pesquisa científica (Crivelaro; Crivelaro; Miotto, 2011). Assim, o trabalho de conclusão de um curso, seja de graduação ou de pós-graduação, é de extrema relevância no processo de aprendizagem do aluno, pois visa articular e consolidar o processo formativo do aluno por meio da construção do conhecimento científico em uma determinada área.
No âmbito da graduação, diferentes são os tipos de trabalho de conclusão de curso que podem ser feitos, como relatos de pesquisa ou de estágio acadêmico, pesquisa bibliográfica, pesquisa de campo. Isso depende do que a instituição de ensino propõe que o aluno realize. Dessa forma, o TCC pode ser entendido como um “produto intelectual do pesquisador a partir das leituras, reflexões e interpretações do tema de interesse” (Baptista; Campos, 2016, p. 55). O estudante precisa, então, a partir da escolha do tema, organizar suas ideias, buscar o referencial teórico, realizar análises e sínteses sobre o tema abordado.
Siga em Frente...
A escolha do tema da pesquisa
O tema da pesquisa é o assunto que se pretende desenvolver. Ao escolher um tema a ser pesquisado, é importante que o pesquisador tenha alguma familiaridade com o assunto ou interesse por aquela realidade que deseja pesquisar. As fontes para a escolha do tema podem ser diversas, como a experiência pessoal ou profissional do pesquisador, o interesse despertado por uma disciplina, um fato cotidiano que chamou a sua atenção, ou outras situações (Marconi; Lakatos, 2024). No entanto, não são somente esses fatores que precisam ser considerados, outras questões podem ser elencadas e precisam ser avaliadas:
- O tema precisa ser relacionado à área de formação do pesquisador, isso proporciona maior credibilidade e reconhecimento ao trabalho realizado.
- O objeto de pesquisa precisa ser relevante para a ciência, e não apenas para o pesquisador.
- É necessário que exista uma base teórica sobre o assunto para que o pesquisador possa buscar seu referencial bibliográfico.
Após a escolha do tema, ele precisa ser bem delimitado. E o que isso quer dizer? O autor precisa ser bem específico com os aspectos que vai abordar a respeito daquele assunto para que seja possível trabalhá-lo no todo, da forma mais abrangente possível. Vamos pensar de que forma é possível delimitar um tema de pesquisa a partir de um exemplo prático na Figura 1:
Problema e hipóteses
Um dos primeiros passos ao desenvolver uma pesquisa científica passa por elaborar a pergunta de pesquisa. O problema da pesquisa está intimamente ligado ao tema, é a pergunta que o pesquisador vai buscar responder ao longo da investigação. Na maioria das áreas de estudo, é uma tarefa quase impossível sanar todos os questionamentos que surgem ao olhar para o tema escolhido e no decorrer da pesquisa. A pergunta elaborada para direcionar a pesquisa não deve derivar de uma simples opinião ou de um questionário, mas sim ter cunho científico. A pergunta da pesquisa não apresenta uma resposta imediata e permite que sejam levantadas várias respostas hipotéticas a respeito do assunto em questão (Crivelaro; Crivelaro; Miotto, 2011).
Há ainda as questões-problemas que surgem a partir do avanço na ciência. As novas tecnologias e os novos instrumentos utilizados pela ciência geraram uma série de perguntas sobre questões já conhecidas que originaram novos paradigmas de pesquisa. Essa capacidade de gerar novas perguntas é algo intrínseco ao pensamento científico. Dessa maneira, não faltam incertezas a serem trabalhadas e desenvolvidas em projetos de pesquisa. O desafio que se coloca ao pesquisador é conseguir elaborar uma questão que possa ser transformada em um projeto de estudo possível e válido de ser realizado.
Assim, para elaborar uma boa pergunta de pesquisa, é necessário ter um certo domínio da literatura da área de estudos. Também é recomendável que o pesquisador discuta sobre ela com os seus pares. A pergunta de pesquisa é o ponto de partida de todos os estudos científicos. Ela expressa a dúvida, inquietação e incerteza do pesquisador frente a uma parte do campo de estudo de uma disciplina. Tomando como base o exemplo do tema anterior, a pergunta da pesquisa poderia ser: “Como o trabalho industrial no Brasil se modificou nas décadas de 2000 a 2020?” ou ainda “Como o trabalho no Brasil foi afetado pela 4ª Revolução Industrial no período de 2000 a 2020?”. Após a elaboração a pergunta da pesquisa, o pesquisador deve elaborar as hipóteses, um passo que orientará o trabalho investigativo.
Levantando as hipóteses da pesquisa
Após a elaboração do problema da pesquisa, a depender do seu tipo, pode ser necessário a elaboração de hipóteses que serão testadas e posteriormente darão uma resposta em relação ao problema colocado pelo pesquisador. Nem todas as pesquisas formulam hipóteses. A formulação de hipóteses é dada apenas em estudos correlacionais ou explicativos, isto é, que preveem um dado acerca do fenômeno analisado. Em geral, pesquisas apenas exploratórias não formulam hipóteses. No entanto, o fato de uma pesquisa não formular uma hipótese não significa que ela não está pautada nos pressupostos científicos. As pesquisas bibliográficas, por exemplo, não formulam hipóteses, mas, ao seguirem os critérios do desenvolvimento de um estudo científico, podem produzir conhecimentos relevantes para aquela área a que a pesquisa se destina.
As pesquisas que formulam hipóteses se utilizam do método hipotético-dedutivo. Ele consiste na construção de conjecturas, isto é, premissas altamente prováveis baseadas em hipóteses que, se verificadas, confirmam também sua veracidade. Um estudo que busque medir o índice de delitos de uma cidade pode ter como hipótese que o índice para determinado semestre será menor que o semestre anterior baseado em determinados fatores, como o aumento das vagas de emprego no local, por exemplo. Ou então: quanto maior variedade houver no trabalho, maior será a motivação do trabalhador.
As fontes comuns para formulação de hipóteses são as teorias, generalizações empíricas sobre o problema de pesquisa e estudos revisados, mas elas também podem surgir em campos de estudo pouco explorados. Um erro grave ao elaborar hipóteses se faz quando o pesquisador não revê a literatura do campo de estudo e formula hipóteses que já foram significativamente aceitas ou descartadas por outros estudos. Existem algumas características que as hipóteses precisam apresentar para, vamos acompanhar no Quadro 2:
Consistência lógica | O enunciado da hipótese não deve ser contraditório, além disso, deve ser compatível com o conhecimento científico já existente. |
Verificabilidade | A hipótese deve ser passível de verificação.
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Apoio teórico | A hipótese precisa ser baseada em uma teoria já estabelecida, a fim de que haja uma probabilidade maior de produção de conhecimento relevante. |
Plausibilidade e clareza | A hipótese deve ser provável e seu enunciado claro.
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Quadro 2 | Características de uma boa hipótese. Fonte: adaptado de Marconi e Lakatos (2022).
É importante ressaltar que, mesmo quando a hipótese inicial for negada, a pesquisa tem sua relevância: isso pode indicar que novos conceitos estão sendo construídos. O importante é que todos os cuidados sejam tomados na interpretação e análise nas buscas bibliográficas.
Justificativa da pesquisa
A justificativa da pesquisa é o momento que se apresenta para o leitor o porquê de a pesquisa estar sendo feita. O pesquisador deve incluir uma consideração sobre a relevância do tema ou problema a ser investigado, o que e onde se pode contribuir com a realização da pesquisa. É uma apresentação completa das razões (teóricas) e dos motivos de ordem prática que mostram a importância da realização da pesquisa. De acordo com Marconi e Lakatos (2024, p. 120), a justificativa da pesquisa, de maneira geral, deve enfatizar:
- Como está estruturada a teoria que embasa o tema da pesquisa.
- As contribuições teóricas que a pesquisa pode trazer.
- Importância do ponto de vista geral e para casos específicos.
- Possibilidade de sugerir modificações no âmbito da realidade abarcada pelo tema proposto.
- Descoberta de soluções para casos gerais e/ou particulares.
Dessa forma, a justificativa da pesquisa deve ser redigida de modo a sustentar o motivo da realização, sendo ela bem argumentada e embasada teoricamente. Isso é fundamental para mostrar a sustentação da argumentação para o leitor e convencer uma possível banca julgadora sobre a importância da realização da pesquisa. A justificativa deve ser escrita de forma clara e objetiva para que o leitor compreenda exatamente o que o pesquisador pretende desenvolver no decorrer da pesquisa.
Objetivos: geral e específicos
A pesquisa precisa ser clara quanto os seus propósitos. Os objetivos devem ser bem definidos e coerentes, além de compatíveis com os métodos e o corpo de conhecimento estabelecido da área. O objetivo da pesquisa pode variar significativamente com base na área de estudo, na natureza do projeto e nas perguntas específicas que estão sendo investigadas. Existem alguns questionamentos que podem ser feitos para orientar o desenvolvimento dos objetivos da pesquisa: pensar em “para que fazer” ou “por que fazer” pode nos orientar a estabelecer o objetivo geral do estudo. Pensar em “para quem fazer” nos orienta a desenvolver os objetivos específicos.
De maneira geral, os objetivos da pesquisa podem:
- Descrever fenômenos: entender e descrever a natureza de um determinado problema.
- Explicar: investigar relações de causa e efeito entre variáveis.
- Predizer resultados: prever resultados com base em determinadas condições ou variáveis.
- Analisar e interpretar: analisar dados para tirar conclusões e interpretar significados.
- Resolver problemas práticos: encontrar soluções para problemas práticos ou aplicados.
- Avaliar programas ou intervenções: avaliar a eficácia de programas, intervenções ou políticas.
- Explorar novas ideias: investigar conceitos ou ideias inexploradas.
- Validar teorias existentes: confirmar ou refutar teorias existentes por meio de evidências.
- Compreender percepções e atitudes: explorar e compreender as percepções e atitudes das pessoas em relação a um determinado tópico.
É importante que o pesquisador defina claramente os objetivos de sua pesquisa antes de iniciar o trabalho, pois isso orientará a metodologia da pesquisa, a coleta de dados, a análise e a interpretação dos resultados. Os objetivos específicos são metas mais detalhadas e específicas que são específicas para atingir o objetivo geral da pesquisa. Eles fornecem uma direção mais precisa para a condução da pesquisa. De maneira mais específicas, os objetivos podem:
- Descrever características: identificar e descrever as características-chave de um objeto específico.
- Analisar relações: investigar as relações entre variáveis específicas para entender melhor os padrões ou correlações.
- Coletar dados: realizar pesquisas de campo, entrevistas ou experimentos para coletar dados relevantes.
- Testar hipóteses: formular e testar hipóteses específicas com base nas relações esperadas entre as variáveis.
- Avaliar impacto: avaliar o impacto de uma intervenção, programa ou política em uma população específica.
- Identificar padrões: identificar padrões ou tendências nos dados coletados por meio de análises estatísticas.
- Validar instrumentos: validar instrumentos de medição, questionários ou métodos utilizados na coleta de dados.
- Comparar grupos: comparar grupos específicos para entender diferenças ou semelhanças em relação a determinadas variáveis.
- Explorar percepções: explorar as percepções, atitudes e opiniões das pessoas em relação a um tópico específico.
- Identificar fatores de influência: identificar fatores que influenciam um determinado comportamento, preferências ou condição.
- Corrigir problemas de implementação: identificar e propor soluções para problemas práticos encontrados durante a implementação de um projeto ou intervenção.
É importante ressaltar que os objetivos, geral e específicos, precisam ser escritos com verbos no infinitivo, ou seja, desejamos “alcançar” os objetivos da pesquisa. Os verbos devem ser claros e diretos, como: verificar, indicar, identificar, citar, localizar, organizar, entre outros. Assim, é mais preciso traçar um cronograma de execução da pesquisa.
Vamos Exercitar?
Vamos retomar a nossa situação inicial: você começou a redigir seu TCC; seu tema de pesquisa é o “impacto da tecnologia na saúde mental de adolescentes”. Você definiu também o problema da sua pesquisa: “em que medida o uso noturno de dispositivos eletrônicos interfere nos padrões de sono e bem-estar emocional em adolescentes de 13 a 17 anos?”. A justificativa pode começar a ser redigida contextualizando o uso de tecnologia pelos adolescentes: “Diante da experiência de adolescentes na era digital, com o uso generalizado de dispositivos tecnológicos e plataformas online, surge a necessidade de investigar os potenciais impactos específicos na saúde mental dessa faixa etária. O problema de pesquisa consiste em compreender de que forma a exposição constante à tecnologia influencia fatores como ansiedade, depressão e qualidade do sono entre os adolescentes”. O objetivo da pesquisa é analisar o impacto da tecnologia na saúde mental de adolescentes na faixa etária de 13 a 17 anos.
Saiba Mais
- A justificativa de pesquisa deve ser bem elaborada e fundamentada, para mostrar ao leitor a importância da realização do estudo e do desenvolvimento do tema em questão. Para se aprofundar nesse assunto, acesse o texto: “Exemplos de justificativa de TCC”, da Biblioteca da Faculdade de Direito da UFMG.
- Os objetivos gerais e específicos de uma pesquisa são os fios condutores para a posterior delimitação da metodologia. Assim, os objetivos precisam ser coerentes com o tema e o problema da pesquisa, e estar de acordo com o referencial teórico que vai embasar o desenvolvimento do estudo. Para compreender melhor como elaborar os objetivos da pesquisa, acesse o link a seguir e leia o texto “Como elaborar objetivos gerais e específicos”, de Amanda Tracera.
Referências Bibliográficas
BAPTISTA, Makilim Nunes; CAMPOS, Dinael Corrêa de. Metodologias de Pesquisa em ciências: análises quantitativas e qualitativas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ltc, 2016.
CRIVELARO, Lana Paula; CRIVELARO, Lara Andréa; MIOTTO, Luciana Bernardo. Guia prático de monografias, dissertações e teses: elaboração e apresentação. 5ª ed. Campinas: Editora Alínea, 2011.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia Científica. 8ª ed. Barueri: Atlas, 2022.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico: projetos de pesquisa, pesquisa bibliográfica, teses de doutorado, dissertações de mestrado, trabalhos de conclusão de curso. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 2024.
SILVA, Airton Marques da. Metodologia da pesquisa. 2ª ed. Fortaleza: EDUECE, 2015.
Aula 2
Referencial Teórico e Metodologia
Referencial teórico e metodologia
Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação profissional. Vamos assisti-la?
Ponto de Partida
Olá, estudante!
Chegou o momento de pensarmos na condução da pesquisa, em como desenvolver e dar a condução da metodologia da pesquisa. Para isso, vamos refletir sobre a diferença entre método da pesquisa e metodologia da pesquisa, que, embora pareçam ter o mesmo significado, não são a mesma coisa. Precisamos compreender também o que é o estado da arte da pesquisa e, então, pensar nos procedimentos, ou seja, nos sujeitos e em como os dados da pesquisa serão coletados, se em campo ou em material bibliográfico.
Vamos refletir sobre a seguinte questão: você está avançando no desenvolvimento da sua pesquisa cujo tema é “impacto da tecnologia na saúde mental de adolescentes”. Você já sabe que o seu público-alvo são adolescentes de 13 a 17 anos e o problema de pesquisa reside na necessidade de identificar os fatores específicos associados ao uso intensivo de tecnologia que são importantes para desafios na saúde mental dos adolescentes.
Agora você precisa definir o recorte temporal para realizar o estado da arte, definir o recorte em relação aos sujeitos que vão participar da pesquisa e os instrumentos para a coleta dos dados. Bons estudos!
Vamos Começar!
Estamos caminhando para a compreensão da construção de uma pesquisa acadêmica bem estruturada, pautada nos princípios científicos e éticos no tocante à sua organização e sistematização. Precisamos começar a pensar no desenvolvimento do “corpo da pesquisa”, ou seja, no método, na metodologia e nos procedimentos técnicos e teóricos. Vamos começar diferenciando método e metodologia, que muitas vezes são usados como sinônimos, um equívoco. De maneira simplificada, o método é mais específico e se refere aos procedimentos concretos utilizados em uma pesquisa, enquanto a metodologia é mais abrangente e aborda as considerações teóricas e conceituais que orientam a escolha e aplicação desses métodos.
O método refere-se ao conjunto específico de procedimentos ou técnicas que são utilizadas para realizar uma pesquisa ou investigação. Refere-se a uma abordagem específica ou a um conjunto de técnicas que os pesquisadores utilizam para conduzir uma investigação ou realizar um estudo. É mais focado e específico, representando as etapas práticas e a sequência de atividades que os pesquisadores seguem para examinar dados, analisar informações e chegar a conclusões. Exemplos de métodos incluem o método experimental, método de estudo de caso, método survey, entre outros (Marconi; Lakatos, 2022).
A metodologia é um termo mais abrangente que engloba não apenas os métodos específicos, mas também os princípios teóricos, as abordagens gerais e os fundamentos filosóficos que orientam a pesquisa. Ela inclui a escolha e a justificativa do método, bem como a estruturação geral do processo de pesquisa, desde a formulação das perguntas de pesquisa até a análise e interpretação dos resultados. A metodologia responde à pergunta “como a pesquisa será realizada?”, incluindo considerações sobre o desenho da pesquisa, a abordagem teórica, a coleta e análise de dados, entre outros.
Em resumo, a metodologia é o plano geral que orienta a pesquisa, enquanto o método é a implementação específica desse plano. Em outras palavras, a metodologia é a estrutura mais ampla que informa como a pesquisa será realizada, enquanto o método refere-se aos detalhes práticos e técnicos de como cada parte da pesquisa será concluída. Ambos são essenciais para garantir a qualidade e a validade de um estudo.
O estado da arte da pesquisa
O termo “estado da arte” refere-se ao ponto mais avançado ou à situação atual de desenvolvimento em uma área específica de pesquisa ou tecnologia. O estado da arte da pesquisa representa o conhecimento mais recente, as descobertas mais avançadas e as práticas mais inovadoras em um determinado campo. Quando se fala do “estado da arte da pesquisa”, geralmente está se referindo ao panorama mais recente e avançado de descobertas e contribuições em uma área específica de pesquisa acadêmica. Isso pode incluir novas teorias, métodos, experimentos, descobertas ou avanços técnicos que representam o auge do conhecimento e progresso daquele campo em um determinado momento.
É comum que os pesquisadores revisem o estado da arte para contextualizar sua própria pesquisa, identificando lacunas no conhecimento existente e entendendo como sua contribuição se relaciona com o que já foi feito. A revisão do estado da arte é importante ao iniciar um novo projeto de pesquisa para garantir que o trabalho seja relevante, inovador e contribua para o avanço do conhecimento na área em questão (Baptista; Campos, 2016).
Os passos comuns ao realizar uma revisão do estado da arte incluem:
- Identificação de fontes relevantes: revisão de artigos acadêmicos, livros, conferências, patentes e outros recursos relevantes para encontrar trabalhos relacionados à sua área de estudo.
- Análise e síntese: análise crítica das descobertas e contribuições dos trabalhos encontrados. Síntese das informações para ter uma compreensão clara do que já foi feito na área.
- Identificação de lacunas e desafios: identificação de lacunas no conhecimento existente e desafios não resolvidos. Isso pode fornecer oportunidades para novas pesquisas.
- Contextualização do próprio estudo: com base na revisão do estado da arte, os pesquisadores contextualizam seu próprio trabalho, destacando como ele se relaciona com as contribuições existentes e como pode contribuir para novas pesquisas.
- Atualização contínua: dado que o estado da arte está em constante evolução, é importante que os pesquisadores atualizem suas revisões ao longo do tempo, incorporando novas descobertas e desenvolvimentos à medida que ocorrem.
O estado da arte é um componente crucial de muitos projetos de pesquisa, teses e artigos científicos, pois fornece uma base sólida para o trabalho futuro e demonstra ao leitor o contexto em que uma nova pesquisa está inserida.
Siga em Frente...
Metodologia da pesquisa
A metodologia da pesquisa se refere ao conjunto de procedimentos, técnicas e ferramentas utilizadas na realização de um estudo ou pesquisa científica. Ela descreve o caminho que o pesquisador seguirá para coletar dados, analisá-los e chegar às conclusões. A metodologia é fundamental para garantir a validade e confiabilidade dos resultados obtidos. Assim, ela é uma parte crucial de qualquer pesquisa, pois fornece o arcabouço teórico e prático que orienta o pesquisador durante todo o processo. Ela ajuda a garantir que a pesquisa seja realizada de maneira sistemática e que os resultados sejam confiáveis e relevantes (Marconi; Lakatos, 2022).
Os sujeitos e os procedimentos da pesquisa
No desenvolvimento da pesquisa, a definição dos sujeitos ou participantes da pesquisa é uma etapa fundamental. Essa parte é crucial para entender quem está envolvido no estudo, fornecendo informações sobre quem foram os participantes, como foram selecionados e quais características são relevantes para a pesquisa. A descrição detalhada dos sujeitos é primordial para que os leitores compreendam a base da amostra sobre a qual os resultados da pesquisa são generalizados. Isso também ajuda a avaliar a validade e a aplicabilidade dos resultados em contextos mais amplos.
Alguns aspectos são essenciais na escolha dos sujeitos e na condução da pesquisa:
- Características demográficas: são informações sobre características básicas dos participantes, como idade, gênero, raça/etnia, nível educacional, entre outras. Esses detalhes ajudam a contextualizar os resultados em relação à diversidade da amostra.
- Critérios de inclusão e exclusão: especificam os critérios que determinam a seleção dos participantes para o estudo. Por exemplo, um estudo pode incluir apenas adultos entre 25 e 40 anos que tenham uma condição específica de saúde.
- Processo de seleção: descreve como os participantes foram recrutados. Pode incluir informações sobre abordagens de recrutamento, locais de recrutamento, parcerias com instituições, etc.
- Tamanho da amostra: informa quantos participantes foram incluídos no estudo. A justificativa para o tamanho da amostra também pode ser discutida.
- Consentimento informado: deixa claro como o consentimento dos participantes foi obtido, garantindo que eles estejam cientes dos objetivos da pesquisa, dos procedimentos envolvidos e dos possíveis riscos. Isso é particularmente importante em estudos que envolvem seres humanos e é uma prática ética padrão.
- Anonimato e confidencialidade: no caso de pesquisas envolvendo seres humanos, a metodologia deve manter o anonimato e a confidencialidade para proteger a identidade dos participantes.
Os dados da pesquisa
Após a seleção dos objetos/sujeitos ou participantes da pesquisa é necessário pensar nos dados dessa pesquisa. Todavia, os métodos e procedimentos de coleta serão diferentes para cada tipo de pesquisa. Para fins didáticos, para compreendermos como podemos coletar os dados, podemos dividir as pesquisas em duas áreas: experimental, que envolve a coleta de dados em campo ou laboratório, podendo ser tanto qualitativa quanto quantitativa, e a pesquisa bibliográfica, que envolve a procura na literatura existente de uma resposta para o problema tratado.
Como se pode observar, ambas abordagens são complementares e geralmente trabalham juntas. Na pesquisa experimental, as fontes dos dados mais comuns são: experimentos laboratoriais, estudos de campo, entrevistas, estudos de caso, observações empíricas, experimentos computacionais etc. Na pesquisa bibliográfica, as fontes são documentos, registros, atas, cartas, livros, teses, artigos científicos, relatórios, periódicos técnicos, estudos gerais, metanálises, bancos de dados digitais, etc. Cada fonte exige um tratamento específico para melhor proveito da informação obtida.
Há pesquisas que contam com fontes secundárias e fontes primárias de informação. As fontes secundárias são geralmente dados que já foram coletados por outros estudos e estão disponíveis por meio de alguma listagem de informação. As fontes primárias seriam os dados brutos a serem coletados na pesquisa, como os dados obtidos de um questionário elaborado pelo pesquisador. Devido ao grande volume de informações disponíveis nas pesquisas bibliográficas, que ocorrem tanto para fundamentar teoricamente a pesquisa quanto para dar respostas ao problema tratado, deve-se ter muito cuidado com a confiabilidade e autenticidade das informações coletadas.
A fontes primárias da pesquisa quantitativa, em geral, podem ser a observação ou a utilização de instrumentos como levantamentos ou survey, que são formas de descobrir o que existe e como existe no ambiente social analisado. Em geral, são descritivos e visam determinar as características e opiniões de populações, a partir de amostragens representativas. Têm como vantagem a aplicação simples, fácil decodificação e análise dos dados. Como desvantagem, há o problema de confiabilidade, pois uma vez que se faz perguntas às pessoas, elas podem se recusar a prestar informações verídicas. Por isso, é necessário muito cuidado na análise dos dados coletados.
É importante compreender que os dados da pesquisa se constituem como as variáveis coletadas e que posteriormente serão analisadas. Uma variável é simplesmente algo que muda, ou seja, as variáveis devem assumir valores diferentes ou categorias diferentes. Exemplo, as variáveis de valor podem ser as idades: 17, 18, 20, 32, 45. As variáveis de categoria podem ser os gêneros: feminino, masculino, não binário, etc. As variáveis são muito importantes porque, através delas, observamos as variações dos fenômenos analisados na pesquisa. Elas podem ser de dois tipos: qualitativas e quantitativas. As variáveis qualitativas são os dados de atributos ou qualidades, por exemplo, sobre o assunto que você mais lê: literatura. Já as variáveis quantitativas são números em certa escala, por exemplo, quantos livros você lê ao ano: 12.
Técnicas de coleta de dados
Há diversas técnicas de coletas de dados. Cada pesquisa utilizará uma técnica que esteja mais adequada aos seus objetivos. Nas pesquisas quantitativas, os dados podem vir da observação, de levantamentos ou de surveys. A observação pode ser: estruturada (em que é especificado o que deve ser observado e como deve ser sua coleta); natural (no ambiente em que a situação ocorre); planejada (em um ambiente artificial); disfarçada (entrevistados não sabem que estão sob observação); não disfarçada (entrevistados sabem que estão sob observação).
A observação é muito importante na pesquisa científica e, em relação a outros métodos, traz a vantagem de que os dados são apreendidos diretamente, sem intermediação. Contudo, uma possível desvantagem é que o próprio pesquisador pode provocar alterações nos fenômenos observados, podendo dar uma interpretação deslocada do objeto e produzindo resultados pouco confiáveis. Os levantamentos, por sua vez, examinam amostras de uma população ou grupo por meio de documentos, questionários, entrevistas e formulários.
A entrevista é a técnica em que o pesquisador formula perguntas ao sujeito observado. As questões devem ser elaboradas pensando nas mais relevantes ao estudo, além de estarem baseadas em uma bibliografia atualizada do assunto. Todos os dados coletados devem ser verificados em termos da sua credibilidade. Como vantagem, a entrevista: é eficiente na obtenção de dados com profundidade; seus dados são suscetíveis à classificação e quantificação; ela permite a avaliação de informações não previstas anteriormente; etc. As desvantagens seriam: fornecimento de respostas inverídicas, influência exercida pelo entrevistador no entrevistado, etc.
O questionário se constitui como uma série de perguntas que devem ser respondidas pelos sujeitos da pesquisa. Ele deve ser objetivo e com uma extensão limitada, estando acompanhado de instruções que esclareçam o propósito e facilitem o preenchimento pelo público-alvo. As vantagens dos questionários são: menor curso, anonimato das respostas e menor influência dos entrevistadores. As desvantagens podem ser: baixo índice de retorno; são limitados a quem saiba ler e escrever. É preciso que o número de questões não seja extenso. Os tipos de questões podem ser classificados em abertas (em que o informante pode responder livremente), fechadas (escolha entre duas opções disponíveis de resposta) e múltipla escolha (dispõe uma série de respostas possíveis).
Os formulários, por sua vez, são coleções de questões anotadas pelo entrevistador na presença do público-alvo; eles podem ser configurados como um meio-termo entre entrevista e questionário. Suas vantagens são: a presença do pesquisador, que pode elucidar os objetivos da pesquisa; ser amplamente utilizável e flexível. Como desvantagens possíveis do formulário, podemos citar: menor liberdade de respostas dada a presença do pesquisador, tempo de resposta mais demorado e risco de distorções pela presença do pesquisador entrevistador.
Depois de feita a coleta, os dados estão desorganizados e pouco claros, então, a primeira coisa a fazer é tratá-los. A apresentação dos dados pode se dar por meio de tabelas, quadros e gráficos que permitam ao pesquisador fazer inferências e chegar a conclusões. Para a elaboração desses, há inúmeros recursos digitais que auxiliam a apresentação dos dados, como o Excel.
Vamos Exercitar?
Você se lembra da nossa situação inicial? Você está avançando no desenvolvimento da sua pesquisa, cujo tema é “impacto da tecnologia na saúde mental de adolescentes”. Você já sabe que o seu público-alvo são adolescentes de 13 a 17 anos e o problema de pesquisa reside na necessidade de identificar os fatores específicos associados ao uso intensivo de tecnologia que são importantes para desafios na saúde mental dos adolescentes. Agora você precisa definir o recorte temporal para realizar o estado da arte, definir o recorte em relação aos sujeitos que vão participar da pesquisa e os instrumentos para a coleta dos dados. Vamos lá?
Você precisa deixar claro para o leitor o recorte temporal que fará na busca pelos estudos disponíveis, o estado da arte da pesquisa. Isso é necessário porque é relevante buscar as últimas produções a respeito do tema da pesquisa. Então, como o tema é referente ao uso da tecnologia, o recorte pode ser referente aos últimos cinco anos. É necessário também mostrar o recorte em relação aos sujeitos, pois não é possível coletar dados com todos os adolescentes do país, por exemplo. Assim, os dados podem ser coletados com adolescentes de uma cidade do sul de Minas Gerais por meio de um questionário com respostas de múltipla escolha. Por se tratar de participantes menores de idade, para que eles possam participar da pesquisa, é necessário o consentimento prévio dos pais.
Saiba Mais
- Saber coletar os dados de uma pesquisa científica é essencial para a obtenção de bons resultados e para que eles sejam confiáveis aos olhos do leitor da pesquisa. A coleta de dados varia, a depender do tipo de pesquisa que está sendo realizado: se é qualitativa ou quantitativa, por exemplo. Para se aprofundar no assunto, leia o artigo “Um apanhado teórico-conceitual sobre a pesquisa qualitativa: tipos, técnicas e características”, de Cristiano Lessa de Oliveira.
- Método e metodologia são elementos interligados no desenvolvimento da pesquisa científica. Embora sejam elementos que precisam ser desenvolvidos, são distintos e o pesquisador precisa compreender a diferença entre ambos. Saiba mais sobre o método da pesquisa e como fazer essa escolha lendo o artigo: “A seção de método de um artigo científico”, de Mauricio Gomes Pereira.
Referências Bibliográficas
BAPTISTA, Makilim Nunes; CAMPOS, Dinael Corrêa de. Metodologias de Pesquisa em ciências: análises quantitativas e qualitativas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ltc, 2016.
CRIVELARO, Lana Paula; CRIVELARO, Lara Andréa; MIOTOO, Luciana Bernardo. Guia prático de monografias, dissertações e teses: Elaboração e apresentação. 5ª ed. Campinas: Editora Alínea, 2011.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia Científica. 8ª ed. Barueri: Atlas, 2022.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico: projetos de pesquisa, pesquisa bibliográfica, teses de doutorado, dissertações de mestrado, trabalhos de conclusão de curso. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 2024.
SILVA, Airton Marques da. Metodologia da pesquisa. 2ª ed. Fortaleza: EDUECE, 2015.
Aula 3
Análise e Interpretação dos Dados da Pesquisa
Análise e interpretação dos dados da pesquisa
Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação profissional. Vamos assisti-la?
Ponto de Partida
Olá, estudante!
Caminhando para a finalização do relatório de pesquisa, este é o momento de pensar na apresentação dos resultados, nas considerações finais e na formatação, que deve seguir a ABNT NBR 14724 (2011). A seção dos resultados indica o que foi encontrado na pesquisa, isto é, mostra os dados relevantes obtidos pelo pesquisador. Os resultados podem ser apresentados junto com a discussão, pois assim é possível que os leitores entendam o que os resultados significam. As considerações finais apresentam o resultado do trabalho, interpretando os achados em um nível de abstração mais alto do que a discussão e relacionando esses achados ao problema de pesquisa declarado na introdução.
Vamos treinar a análise de tabelas e gráficos a partir da seguinte questão: você e sua equipe foram contratados para realizar uma pesquisa quantitativa sobre a inserção das mulheres no mercado de trabalho e suas condições de vida no município de Campinas. O estado de São Paulo será analisado em um contexto mais amplo, para fins comparativos a partir de uma base de dados secundários. Após a coleta dos dados, ao colocar os valores referentes às populações do município de Campinas e do estado na construção de um mesmo gráfico, a barra correspondente à população do município ficou quase invisível.
Vamos Começar!
Quadros, gráficos e tabelas
Após coletarmos os dados, realizamos as análises iniciais, sejam estatísticas, sejam algum tipo de interpretação. É necessário inserir os resultados na pesquisa. Este é o momento de mostrar para o leitor o que você encontrou com o desenvolvimento do seu estudo. Apresentar os resultados de uma pesquisa científica de forma clara e eficaz é fundamental para comunicar suas descobertas de maneira acessível e compreensível para os leitores. Os resultados precisam ser discutidos articulando a hipótese inicial da pesquisa e outros estudos relevantes no campo em questão (Shishito, 2018).
Segundo Pereira (2013), é importante que se apresentem as características demográficas, socioeconômicas, clínicas ou de outra natureza do objeto estudado. Gráficos, quadros e tabelas podem ser utilizados para apresentar os resultados da pesquisa de uma maneira visualmente mais atraente. Esse tipo de apresentação dos resultados permite que as análises sejam realizadas por meio de uma visualização de conjunto. Os recursos visuais podem ser utilizados para buscar por padrões e relações de uma ou mais variáveis, descobrir novos fenômenos, verificar suposições etc. A representação de uma variável a partir de um gráfico/tabela tem a vantagem de informar de forma rápida e concisa a sua variabilidade (Shishito, 2018).
As tabelas são formas não discursivas, representadas por números e códigos, dispostos em ordem, segundo as variáveis analisadas do fenômeno. As tabelas, preferencialmente, devem ser completas para que dispense a consulta ao texto, contenha os dados necessários, tenha uma estrutura simples, objetiva e certa consistência lógica. Vamos acompanhar a seguir um exemplo de como os dados da pesquisa podem ser apresentados em uma tabela:
Grau de instrução | Frequência ni | Proporção fi | Porcentagem 100 fi |
Fundamental | 12 | 0,3333 | 33,33 |
Médio | 18 | 0,5000 | 50,00 |
Superior | 6 | 0,1667 | 16,67 |
Total | 36 | 1,0000 | 100,00 |
Tabela 1 | Exemplo de tabela com distribuição de frequências. Fonte: adaptada de Shishito (2018, p. 137).
No exemplo acima, a frequência se refere aos números absolutos da contagem; a proporção é em relação ao total e a porcentagem também é calculada em relação ao total. Esse recurso de distribuição de uma variável a partir de percentuais é bastante útil quando se pretende comparar essa variável entre grupos distintos. A maneira como esses dados serão descritos após a apresentação da tabela depende do objetivo da pesquisa, do que o pesquisador se propôs a investigar. Podemos pensar em um exemplo: os dados da Tabela 1 indicam que a maior parte dos respondentes da pesquisa (50%) possuem o ensino médio completo, enquanto apenas 16,67% declararam ter concluído algum curso superior.
Outra forma de apresentar os dados da pesquisa é por meio do gráfico de barras. Eles permitem uma comparação visual por meio da altura das barras. Os dados são indicados no gráfico para que o leitor entenda a que o autor está se referindo. Os gráficos de barras são mais apropriados para as variáveis ordinais, ou seja, aquelas em que os atributos têm uma ordenação, por exemplo a distribuição por anos ou por grau de instrução. Para os gráficos que utilizam os eixos verticais (y) e horizontais (x), como o da Figura 2 a seguir, é importante sinalizar, a partir de legendas, quais valores estão referenciados em cada eixo.
Pode ser feita uma introdução antes da inserção do gráfico, por exemplo: Os dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios Contínua divulgada pelo IBGE em 2023 indicaram que de 2016 a 2022 a presença de telefone fixo convencional diminui mais de 20% nas residências brasileiras. Por outro lado, no mesmo período a presença de telefone móvel celular subiu mais de 3%, mas ainda não chegou à totalidade dos lares brasileiros. Os dados podem ser visualizados na Figura 2 a seguir.
Também podem ser utilizados os gráficos de setores (pizza) para a apresentação dos resultados da pesquisa. Esse gráfico apresenta uma frequência relativa de uma observação. Eles não são bons para comparações temporais. Os gráficos de setores são mais apropriados para representar variáveis qualitativas nominais, ou seja, aquelas em que os atributos descritos não têm uma relação de ordem entre si. A Figura 3 traz um exemplo desse tipo aplicado às notas dos alunos. A discussão pode ser relacionada a motivação dos alunos, à indisciplina, a frequência nas aulas ou a outro fator que esteja associado ao que foi pesquisado.
Após a explicitação da amostragem, os resultados devem ser elencados em uma ordenação. Primeiro, os mais relevantes, aqueles que respondem diretamente à questão central da pesquisa. O pesquisador, na sequência, poderá expor os resultados secundários, aqueles achados que não eram esperados, mas que são relevantes. Há algumas dicas que podem ser seguidas para facilitar a elaboração da seção de resultados:
- Apresentar os resultados de forma ordenada e lógica.
- Dar ênfase somente a informações imprescindíveis.
- Não emitir opiniões ou julgamentos sobre o que foi encontrado, pois a parte interpretativa cabe à seção de discussão.
- Não replicar no texto os resultados que estão nas ilustrações.
Esses são alguns exemplos de como os dados podem ser apresentados, mas também podem ser utilizados histogramas, tabulação cruzada, diagramas de dispersão, gráfico sequencial, dentre outros. É importante ressaltar que, na hora de interpretar os dados e expor os resultados, o pesquisador deve ter muito cuidado para não enviesar e comprometer esses dados com sua análise. Assim, espera-se que, na seção de resultados, se encontrem as informações mais relevantes que a pesquisa obteve. A seção de resultados deve ter um texto simples, objetivo, que preze pela clareza e pela ordenação lógica, seguindo sempre as regras da comunicação científica. Muitas vezes, se faz necessário redigir o texto mais de uma vez, até alcançar a clareza pretendida.
Siga em Frente...
As considerações finais
Após a apresentação e discussão dos resultados, a pesquisa se encaminha naturalmente para as considerações finais. Alguns autores se referem a esse momento da pesquisa como a etapa das conclusões. Entretanto, se consideramos o processo de construção do conhecimento como algo fluído e dinâmico, em constante construção, é possível admitir que o tema escolhido não é algo que se finda. Sempre haverá a possibilidade de trabalhar o tema de uma outra maneira, a partir de uma outra perspectiva, abordando novos tópicos ou novos questionamentos.
Independente de chamarmos essa parte de pesquisa de considerações finais ou conclusões, ela tem características próprias que precisam ser observadas. É o momento em que o autor retoma de forma sintetizada as principais argumentações desenvolvidas no decorrer do trabalho, buscando as relações entre as ideias apresentadas e os resultados obtidos. É uma parte do texto que deve ser redigida de forma clara, precisa e objetiva, não sendo recomendado retomar citações ou trazer novas informações (Baptista; Campos, 2016; Crivelaro; Crivelaro; Miotto, 2011).
Marconi e Lakatos (2024, p. 151) apontam que, ao finalizar um trabalho, se deve “a) Evidenciar as conquistas alcançadas com o estudo. b) Indicar as limitações e as reconsiderações. c) Apontar a relação entre os fatos verificados e a teoria”. É importante mostrar para o leitor que os argumentos, teorias, hipóteses e conceitos conversam entre si, se unem e se complementam. Dessa forma, o autor pode apresentar também propostas e sugestões para novos estudos e depois se preocupar com a elaboração dos documentos pós-textuais.
Formatação do relatório de pesquisa
A norma da ABNT que define como um trabalho final deve ser formatado é a NBR 14724 (2011). Ela apresenta os elementos pré-textuais, os elementos textuais e os elementos pós-textuais que devem ser apresentados, e define aqueles que são obrigatórios e os que são opcionais. O TCC é definido como um “documento que apresenta o resultado de estudo, devendo expressar conhecimento do assunto escolhido, que deve ser obrigatoriamente emanado da disciplina, módulo, estudo independente, curso, programa, e outros ministrados” (ABNT, 2011, p. 4). A seguir, na Figura 4, podemos visualizar um esquema que apresenta a estrutura do trabalho acadêmico:
O TCC sistematiza os resultados de uma pesquisa científica, sendo assim, para a sua elaboração, é necessário aplicar os procedimentos observados na construção de um estudo científico. O seu intuito é aprofundar o conhecimento do aluno/pesquisador em um determinado tema. Ele é realizado normalmente no final de um curso para demonstrar o conhecimento adquirido durante aquele período. Não existe um padrão quanto ao tipo de trabalho que será solicitado, podendo ser um artigo, uma monografia, um paper, relatório de estágio, etc. Assim, cada instituição de ensino faz a determinação do tipo de trabalho que o aluno fará (Baptista; Campos, 2016).
O esquema anterior nos permitiu visualizar aqueles elementos que são obrigatórios e os que são opcionais. Vamos olhar de maneira mais detalhada para esses elementos. Não podemos esquecer que a NBR 14724 (2011) nos orienta quanto à estrutura do trabalho; o conteúdo deve ser desenvolvido pelo pesquisador, contemplando de maneira detalhada aqueles elementos abordados no projeto de pesquisa.
No exemplo anterior, apresentamos apenas a lista de tabelas, mas podem ser inseridas também listas de ilustrações, abreviaturas, siglas e símbolos; isso depende desses elementos estarem presentes ou não no decorrer do trabalho. O sumário deve ser elaborado de acordo com a ABNT NBR 6027 (2013). As margens das páginas devem ser de 3cm para a esquerda e a superior e 2cm para a direita e a inferior. A recomendação é que o texto seja digitado em fonte 12 e o espaçamento entre linhas deve ser 1,5. Por fim, é importante fazer toda a parte textual primeiro para depois voltar nos elementos pré-textuais.
Vamos Exercitar?
Retomando a nossa situação inicial, você e sua equipe estavam realizando um trabalho com a sistematização e apresentação gráfica de dados da pesquisa survey e de dados coletados de bases de dados secundárias. Por estar trabalhando com dois grupos populacionais de tamanhos distintos: amostra da população do município de Campinas e população total do estado de São Paulo, a representação gráfica apresentou um desenho de difícil visualização e comparação dos dados. Uma forma de permitir a comparação de padrões de distribuição de frequências a partir de gráficos é a transformação dos dados em valores percentuais.
Considerando que as populações totais do estado de São Paulo e de Campinas eram 41 milhões e cerca de 1 milhão, respectivamente, na representação gráfica da Figura 1, fica difícil visualizar os valores para Campinas. Dessa forma, a conversão dos valores em percentuais é a maneira mais fácil para que posteriormente seja possível construir um gráfico de barras com a finalidade de comparar o nível de instrução da cidade com o nível do estado. Veja como ficou a conversão na Tabela 2:
População de Campinas e do estado de São Paulo segundo nível de instrução, 2010 | ||||
| Estado de São Paulo | Campinas | ||
Nível de instrução | Frequência | Percentual % | Frequência | Percentual % |
Fundamental incompleto | 20.496.012 | 49,7 | 449.715 | 41,6 |
Fundamental completo | 6.706.403 | 16,3 | 165.218 | 15,3 |
Médio completo | 9.577.010 | 23,2 | 259.218 | 24,0 |
Superior completo | 4.171.221 | 10,1 | 200.252 | 18,5 |
Não determinado | 295.913 | 0,7 | 6.944 | 0,6 |
Total | 41.246.559 | 100,0 | 1.081.927 | 100,0 |
Tabela 2 | Tabela com distribuição de frequências absolutas e percentuais. Fonte: adaptada de IBGE (2010).
Saiba Mais
- Representar os dados da pesquisa de maneira gráfica pode ser uma estratégia interessante para prender a atenção do leitor e deixar o conteúdo visualmente mais atrativo. Para isso, é necessário que o autor da pesquisa saiba como elaborar os gráficos e tabelas. O Microsoft Excel é um forte aliado nesse sentido. Para saber mais sobre o assunto, acesse o capítulo 6 – “Gráficos” (p. 60-97), do livro Gráficos em Dashboard para Microsoft Excel 2013, de José Eduardo Chamon, disponível na Minha Biblioteca.
- A elaboração do trabalho de conclusão de curso concretiza a finalização de todo um processo de formação que se deu durante um tempo, seja em um curso de graduação, seja na pós-graduação. Ele sintetiza os conhecimentos adquiridos pelo aluno/pesquisador nesse período. Por isso, é importante saber elaborar corretamente esse trabalho. Para conseguir compreender melhor esse processo, leia o texto “Pequeno guia prático para se fazer uma monografia acadêmica” de Paulo Roberto de Almeida.
Referências Bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). ABNT NBR 14724: informação e documentação: Trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2011.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). ABNT NBR 6027: informação e documentação: Sumário: apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2013.
BAPTISTA, Makilim Nunes; CAMPOS, Dinael Corrêa de. Metodologias de Pesquisa em ciências: análises quantitativas e qualitativas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ltc, 2016.
CRIVELARO, Lana Paula; CRIVELARO, Lara Andréa; MIOTTO, Luciana Bernardo. Guia prático de monografias, dissertações e teses: Elaboração e apresentação. 5ª ed. Campinas: Editora Alínea, 2011.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua: acesso à internet e à televisão e posse de telefone móvel celular para uso pessoal 2022. Rio de Janeiro: IBGE, 2023. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv102040_informativo.pdf. Acesso em: 9 nov. 2023.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico: projetos de pesquisa, pesquisa bibliográfica, teses de doutorado, dissertações de mestrado, trabalhos de conclusão de curso. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 2024.
PEREIRA, M. G. A seção de resultados de um artigo científico. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 22, n. 2, p. 353-354, 2013.
SHISHITO, Katiani Tatie. Pesquisa aplicada às ciências sociais. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018.
Aula 4
Normas e Padronização Científica
Normas e padronização científica
Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação profissional. Vamos assisti-la?
Ponto de Partida
Olá, estudante!
Chegou o momento de pensarmos nas normas e na padronização de um trabalho acadêmico. Esse momento, para muitas pessoas, pode parecer um pesadelo, mas vamos ver que não é. Trata-se de processo bem simples, a partir do momento em que compreendemos os elementos que precisam ser apresentados tanto nas citações quanto nas referências. E a melhor maneira para chegarmos a essa compreensão é praticando.
Vamos refletir e exercitar sobre a seguinte questão: você finalizou seu trabalho de conclusão de curso e seguiu a norma 14724 da ABNT no tocante à formação. Agora é o momento de revisar as referências e as citações que foram feitas no decorrer do texto. Você percebeu que suas citações não estão padronizadas; à medida que foi escrevendo o texto, você se confundiu. Então para ficar mais fácil realizar o ajuste, você vai elaborar um esquema que sintetize as principais características de cada tipo de citação para que você possa voltar no texto e realizar a revisão de maneira mais eficaz. Bons estudos!
Vamos Começar!
Falamos bastante nas normas que precisam ser aplicadas nos trabalhos acadêmicos, na padronização científica, mas por que precisamos seguir essas normas? Só existem as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)? Muitos outros questionamentos podem ser feitos, mas o que nos importa saber é que existem outras normas que são utilizadas para padronizar os trabalhos acadêmicos, como a American Psychological Association (APA). As normas da APA são direcionadas principalmente para as áreas da Psicologia e da Administração e não apresentam orientações quanto a formatação de capa, folha de rosto, anexos, etc. (PUCMG, 2022). Existem ainda outras normas, como a Chicago, a Harvard ou a Vancouver. Cada uma delas tem seus elementos específicos e formas próprias de formatação.
Por que utilizamos, na maioria das vezes, as normas da ABNT? Porque são as mais utilizadas nacionalmente, mesmo sendo facultativas do ponto de vista institucional. Isso quer dizer que as instituições podem adotá-las em partes ou no todo (no entanto, uma vez adotadas, todos os trabalhos realizados para a instituição devem se adequar a elas). Elas são necessárias, pois a ciência exige um padrão não apenas na condução de seus experimentos, mas também na divulgação de seus resultados. Nesse sentido, compreendemos que as normas não têm o intuito de limitar a produção científica, e sim de adequar as produções a fim de favorecer a transmissão e divulgação do conhecimento. Vamos falar especificamente das normas de citações e de referências, que são dois elementos primordiais na realização de um bom trabalho acadêmico.
Siga em Frente...
Citações – ABNT NBR 10520/2023
Sempre que vamos construir um texto científico, é necessário dialogar com outros autores, por meio da consulta a textos já publicados. Precisamos nos lembrar de que o conhecimento é dinâmico e está constantemente em construção; essa busca permite também a compreensão do estado da arte do tema em questão. Dessa forma, ao construir o texto, o pesquisador vai inserir conceitos e ideias que são de outros pesquisadores e, para que a pesquisa seja ética e não configure plágio, é necessário que as citações sejam feitas conforme estabelece a norma. A norma da ABNT NBR 10520 (2023) é a que estabelece como as citações devem ser inseridas no texto.
Quando realizamos uma citação no decorrer de nosso texto, estamos dando crédito ao autor que utilizamos como fonte. Estamos sinalizando para o nosso leitor que aquela ideia, aquele conceito ou aquela visão não é nossa, mas de outra pessoa. Entretanto, concordamos com o autor ou estamos colocando no texto para, a partir dele, elaborar um contraponto. As citações podem ser diretas ou indiretas. Também pode ser feita a citação da citação. Elas podem ser inseridas em qualquer parte do texto. Precisamos nos atentar para como mencionar o autor no decorrer do texto. Vamos ver todas essas questões de maneira mais detalhada.
Citações diretas
As citações diretas consistem na transcrição literal das palavras do autor base no texto que estamos escrevendo. De maneira geral, elas podem ser curtas (até 3 linhas, entre aspas duplas no corpo do texto) ou longas (mais de 3 linhas, em parágrafo a parte com recuo lateral). Em ambos os casos, é preciso mencionar o sobrenome do autor, o ano da publicação e a página de onde aquele trecho foi retirado (Marconi, Lakatos, 2024). Vamos ver alguns exemplos no Quadro 1:
CITAÇÕES DIRETAS CURTAS | |
Um autor | Quando se pensa na história da ética das pesquisas com seres humanos, Faintuch (2021, p. 9) aponta que “o primeiro registro encontra-se na Bíblia, com uma pesquisa prospectiva controlada não aleatorizada”. |
Dois ou três autores | De acordo com Marconi e Lakatos (2024, p. 15), a leitura é “um dos fatores decisivos do estudo, é imprescindível em qualquer tipo de investigação científica”. Quando pensamos na formação dos indivíduos para a atuação na sociedade, é preciso que essa formação seja “considerada algo em constante processo de construção e desenvolvimento” (Mariano; Franco; Oliveira, 2021, p. 364). |
Quatro ou mais autores | O início da vida acadêmica ocasiona muitas mudanças na vida dos estudantes. “É um processo marcado por modificações nos vínculos comportamentais, que juntamente com fatores psicossociais, estilo de vida e situações do meio acadêmico torna-os vulneráveis a circunstâncias de risco à saúde” (Neves et al., 2015, p. 65). |
Quadro 1 | Exemplos de citações diretas curtas. Fonte: elaborado pela autora.
Note que a inserção da citação no texto varia de acordo com a estrutura da frase e de acordo com a maneira com que ela está sendo escrita. O que não muda na citação direta curta é a maneira como ela é apresentada no texto, sempre entre aspas duplas, acompanhada do sobrenome do autor ou autores, do ano da publicação e da página de onde foi retirada. As aspas simples são utilizadas para indicar citação no interior da citação. Em relação às citações diretas longas, a maneira como elas aparecem nos textos é diferente das curtas, mas permanece a obrigatoriedade de indicação de autor, ano e página ou localização do trecho citado quando for possível. Vejamos alguns exemplos:
Note que o espaçamento entrelinhas utilizado no texto é de 1,5, mas, na citação, o espaçamento entre linhas é simples. A ABNT (2023) recomenda que seja feito o recuo de 4 centímetros da margem esquerda, com letra menor que a utilizada no texto e sem aspas. Se forem dois, três ou mais de três autores, a indicação dos sobrenomes seguem o modelo que foi apresentado nas citações diretas curtas. Mas atenção: no caso de uma obra com quatro autores ou mais, se você optar por utilizar a expressão et al., isso precisa ser feito para todas as obras com quatro autores ou mais, a fim de que haja padrão no texto. As supressões ou os acréscimos no decorrer das citações são indicadas por colchetes e reticências [...].
Citações indiretas
As citações indiretas são aquelas em que não há transcrição literal de alguma parte do texto, mas o autor se baseou no texto-fonte para escrever. As citações indiretas podem ser comentários ou críticas a uma determinada ideia; podem ser usadas para concordar ou refutar um argumento. Isso sempre depende da estrutura do texto em questão. A maneira como o sobrenome do autor ou dos autores aparecem no texto ou no final da frase deve seguir o que está determinado na norma da ABNT. Por não serem transcrições literais, elas não apresentadas entre aspas e não há a necessidade de indicação da página do texto base (Marconi; Lakatos, 2024). Acompanhe alguns exemplos a seguir:
Citação da citação – apud
A palavra apud pode ser traduzida como “citado por”; isso quer dizer que o autor não teve contato diretamente com a obra citada: ele a leu por meio de outra citação (Marconi, Lakatos, 2024). Por ser uma palavra que vem do latim, ela deve sempre ser apresentada em itálico no texto. A citação da citação deve ser evitada: o recomendado é que sempre se busque o texto-fonte a que se está referindo. Entretanto, existem alguns casos em que de fato não é possível consultar o texto original, então realiza-se o apud. As regras de apud seguem as regras de citações diretas e indiretas:
A norma apresenta diversos outros detalhes quanto as citações; por exemplo, em relação à maneira como devem ser apresentados autores com o mesmo sobrenome e data de publicação. “Para autores com o mesmo sobrenome e data de publicação, devem-se acrescentar as iniciais de seus prenomes. Se persistir a coincidência, colocam-se os prenomes por extenso” (ABNT, 2024, p. 8). Ela esclarece também como devem ser feitas as citações de diversos documentos do mesmo autor, com publicações em anos diferentes, devem ser “mencionados simultaneamente, devem ter as suas datas em ordem cronológica, separadas por vírgula” (ABNT, 2023, p. 5).
Por fim, devemos nos atentar para o fato de que, quando há a indicação de siglas (ABNT, IBGE, APA, MEC etc.) no corpo do texto ou no final da frase, a recomendação é para que elas sejam grafas em letras maiúsculas. O essencial é que a norma seja consultada sempre que ocorra alguma dúvida, isso facilita a escrita do texto e diminui a possibilidade de cometermos erros no momento da escrita. Em algumas ocasiões, como no envio de um artigo para um evento ou para uma revista científica, a inserção correta das citações e das referências pode ser um diferencial para que o responsável pelo texto o envie ou não para a correção.
Referências – ABNT NBR 6023/2018
As referências de um texto devem ser elaboradas de acordo com a ABNT NBR 6023 (2018). Ao longo da elaboração do texto, de qualquer natureza, o pesquisador usa diferentes fontes na sua construção, como livros, artigos, teses, matérias de jornais, entrevistas, entre outros tipos de materiais. Tudo o que é citado no decorrer do texto precisa ser referenciado e, para isso, o pesquisador precisa conhecer o formato de apresentação de cada documento a fim de elaborar a referência pertinente de maneira correta.
Isso quer dizer que não existe um padrão para todos os documentos. Cada tipo de documento é apresentado de uma maneira específica nas referências do texto. Isso não quer dizer que não existam regras para a elaboração das referências. De maneira geral,
[...] as referências devem ser elaboradas em espaço simples, alinhadas à margem esquerda do texto e separadas entre si por uma linha em branco de espaço simples, [...] a pontuação deve ser uniforme para todas as referências. [...] O recurso tipográfico (negrito, itálico ou sublinhado) utilizado para destacar o elemento título deve ser uniforme em todas as referências (ABNT, 2018, p. 5).
Vamos buscar compreender como cada documento deve ser apresentado. Começando pela autoria de pessoas físicas, o autor ou os autores devem ser apresentados pelo último sobrenome, em letras maiúsculas, seguidos pelos prenomes e outros sobrenomes abreviados ou não. Os autores devem ser separados por ponto e vírgula. Precisamos padronizar a forma de apresentação dos prenomes e sobrenomes. Isso quer dizer que se apresentarmos todo o nome de um autor em uma referência, em todas isso deve ser feito. Se apresentarmos apenas a inicial, isso deve ser seguido nas outras também. Acompanhe os exemplos no Quadro 2:
Um autor | ALVES, Roque de Brito. Ciência criminal. Rio de Janeiro: Forense, 1995. ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro. 8ª ed. São Paulo: Atlas, 2007. |
Dois ou três autores | SOUZA, J. C.; PEREIRA, A. M. Metodologia de trabalho. 3ª ed. São Paulo: Estrela, 2011. PASSOS, L. M. M.; FONSECA, A.; CHAVES, M. Alegria de saber: matemática, segunda série, 2, primeiro grau: livro do professor. São Paulo: Scipione, 1995. 136 p. |
Quatro ou mais de quatro autores
| URANI, A. et al. Constituição de uma matriz de contabilidade social para o Brasil. Brasília: IPEA, 1994. TAYLOR, Robert; LEVINE, Denis; MARCELLIN-LITTLE, Denis; MILLIS, Darryl. Reabilitação e fisioterapia na prática de pequenos animais. São Paulo: Roca, 2008. |
Quadro 2 | Exemplos: referências de monografia no todo. Fonte: elaborado pela autora.
Note que, quando há a indicação de quatro ou mais autores, a norma estabelece que convém indicar todos; entretanto, é permitido utilizar a expressão et al. após o nome do primeiro autor. Outro ponto importante é que as referências devem obedecer aos mesmos princípios; portanto, se utilizar a inserção de elementos complementares, como o número de páginas no caso de um livro, estes devem ser incluídos em todas as referências daquela lista. Mas atenção: se você estiver se referindo ao capítulo de um livro ou ao artigo de um periódico, a indicação da página final e inicial são obrigatórias, a menos que não seja possível a localização. O Quadro 3 nos possibilita visualizar outros tipos de referências:
Livro com responsabilidade Intelectual | LANDAU, L.; CUNHA, G. G.; HANGUENAUER, C. (org.). Pesquisa em realidade virtual e aumentada. Curitiba: Editora CRV, 2014. 164 p. |
Autoria institucional, disponibilidade e acesso | OMS - Organização Mundial da Saúde. Mulheres e saúde: evidências de hoje: agenda de amanhã. Geneva: OMS, 2009. 92 p. Disponível em: https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/7684/9788579670596_por.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 9 nov. 2023. |
Autoria do capítulo distinta da autoria do livro no todo | BACHEGA, K.; ACCETTURI, E. Transplantes de tecido ósseos no Brasil: uma história segura de sucesso da odontologia. In: SANTOS, P. S. S. et al. (org.). Odontologia em transplante de órgãos e tecidos. Curitiba: Editora CRV, 2018. cap. 7, p. 109-127. |
Artigo de periódico disponível na internet | MARIANO, M. L. S.; FRANCO, S. A. P.; OLIVEIRA, K. L. de. Estágio em docência no curso de doutorado em educação: relatos de experiência. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 361–375, 2021. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/12785. Acesso em: 9 nov. 2023. |
Quadro 3 | Exemplos: referências de diferentes formatos. Fonte: elaborado pela autora.
Perceba que, no caso de documentos com título e subtítulo, apenas o título aparece em destaque. No caso de um artigo de revista, o elemento destacado é o nome da revista; o mesmo acontece quando utilizamos apenas o capítulo de um livro como referência. Existem ainda muitos outros documentos que podem ser referenciados, como legislações, vídeos, podcasts. Vamos acompanhar alguns outros exemplos no Quadro 4:
Constituição Federal | BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, [2016]. 496 p. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_EC91_2016.pdf. Acesso em: 9 nov. 2023. |
Atos administrativos normativos | BRASIL. Ministério da Educação. Ofício circular 017/MEC. Brasília, DF: Ministério da Educação, 26 jan. 2006. Assunto: FUNDEB. |
Documento sonoro em meio eletrônico | MAMILOS: A Nova Tradicional Família Brasileira. Entrevistadoras: Juliana Wallauer e Cris Bartis. Entrevistado: Pastor Henrique Vieira. [S. l.]: B9, fev. 2019. Podcast. Disponível em: https://open.spotify.com/episode/676wEdjCL6LsjOFconIH0K?si=7e56a08736d94147. Acesso em: 9 nov. 2023. |
Filmes, vídeos, entre outros em meio eletrônico
| BOOK. [S. l.: s. n.], 2010. 1 vídeo (3 min). Publicado pelo canal Leerestademoda. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=iwPj0qgvfIs. Acesso em: 9 nov. 2023. BLADE Runner. Direção: Ridley Scott. Produção: Michael Deeley. Intérpretes: Harrison Ford; Rutger Hauer; Sean Young; Edward James Olmos e outros. Roteiro: Hampton Fancher e David Peoples. Música: Vangelis. Los Angeles: Warner Brothers, c1991. 1 DVD (117 min), widescreen, color. Baseado na novela “Do androids dream of electric sheep?”, de Philip K. Dick. |
Quadro 4 | Exemplos: referências de diferentes formatos. Fonte: elaborado pela autora.
Todas as possibilidades estão listadas na norma da ABNT. Por ser muito ampla, é claro que não damos conta de recordar de todas de maneira automática. Por isso, o essencial é sempre consultar o manual a fim de elaborar de maneira correta o corpo de referências de um trabalho acadêmico. E você pode se questionar: mas onde eu encontro todas essas informações? A resposta é: depende! Dependendo da fonte, você encontrará a chamada ficha catalográfica com todas as informações necessárias no próprio documento. Se for um artigo científico, as informações normalmente constam no cabeçalho da página ou no rodapé. Quando a publicação não apresentar essas informações tão explicitamente, o pesquisador fará uso da norma para identificar os elementos essenciais, a fim de referenciá-los corretamente.
Vamos Exercitar?
Agora que já compreendemos a inserção de citações no decorrer dos textos acadêmicos e como devemos elaborar as referências, é hora de retomarmos nossa situação inicial. Você está finalizando seu TCC e percebeu que suas citações não estão padronizadas; à medida que você foi escrevendo o texto, você se confundiu. Então, para ficar mais fácil realizar o ajuste, você decidiu elaborar um esquema que sintetize as principais características de cada tipo de citação, para que você possa voltar no texto e realizar a revisão de maneira mais eficaz.
Citação direta curta |
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Citação direta longa |
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Citação indireta |
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Citação da citação (apud) |
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Quadro 5 | Tipos de citação. Fonte: elaborado pela autora.
Saiba Mais
Inserir corretamente citações no decorrer de um texto acadêmico e posteriormente elaborar o corpo de referências é primordial para um trabalho acadêmico confiável e dentro do que se espera dos padrões científicos. Assim, é necessário que você tenha conhecimento sobre esses tópicos. Para isso, leia o capítulo 6 – “Apresentação de citações diretas e indiretas e elaboração de referências bibliográficas”, p. 207-237, do livro Metodologia do trabalho científico, de Marina de Andrade Marconi e Eva Maria Lakatos – Minha Biblioteca.
Referências Bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). ABNT NBR 6023: informação e documentação: Referências: elaboração. Rio de Janeiro: ABNT, 2018.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). ABNT NBR 10520: informação e documentação: Citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2023.
CRIVELARO, Lana Paula; CRIVELARO, Lara Andréa; MIOTOO, Luciana Bernardo. Guia prático de monografias, dissertações e teses: Elaboração e apresentação. 5ª ed. Campinas: Editora Alínea, 2011.
MARCONI, Marina de Andrade.; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico: projetos de pesquisa, pesquisa bibliográfica, teses de doutorado, dissertações de mestrado, trabalhos de conclusão de curso. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 2024.
MICHAELIS Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2023. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/. Acesso em: 8 out. 2023.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS (PUCMG). Orientações para elaboração de citações e referências: conforme a American Psychological Association (APA) 7ª edição. Belo Horizonte, 2022. Elaboração: Fabiana Marques de Souza e Silva. Disponível em: https://portal.pucminas.br/biblioteca/documentos/APA-7-EDICAO-2022-NV.pdf. Acesso em: 7 nov. 2023.
Encerramento da Unidade
Os Resultados da Pesquisa Científica
Videoaula de Encerramento
Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação profissional. Vamos assisti-la?
Ponto de Chegada
Olá, estudante! Para desenvolver a competência desta unidade, que é “compreender a construção e estruturação de um relatório final de pesquisa, suas normas e padronizações, possibilitando a articulação dos conhecimentos adquiridos e a prática do pensar científico”, você deve primeiramente entender o que é um trabalho de conclusão de curso. Depois é preciso compreender as partes desse TCC, ou seja, todos os elementos que precisam ser contemplados no seu desenvolvimento de maneira teórica e metodológica. Por fim, é necessário também observar as normas e a padronização científica, a maneira como o TCC precisa ser formatado e como as citações e referências precisam ser inseridas no texto.
A elaboração do TCC é um dos elementos que marcam a finalização de uma etapa, seja de um curso de graduação ou de pós-graduação. Para a sua correta elaboração, ela precisa seguir normas de estruturação e estar dentro do que se espera dos padrões científicos de um trabalho acadêmico. A ética é primordial no desenvolvimento da pesquisa, independentemente do seu tipo. Para além disso, é preciso pensar em cada etapa específica da pesquisa e o que precisa ser desenvolvido nela. É importante relembrar que a NBR 14724 (2011) nos orienta quanto à formatação e apresentação do TCC, mas o conteúdo fica sob responsabilidade do pesquisador.
Assim, é fundamental conhecer cada uma dessas partes da pesquisa e compreender como elas devem ser desenvolvidas. No entanto, lembre-se: mesmo que elas pareçam partes independentes, um ponto fundamental é a atenção ao fato de que elas são interligadas e precisam conversar entre si para que a pesquisa faça sentido como um todo. Isso significa que, quando você escolhe um tema de pesquisa, a pergunta deve ser pertinente a esse tema, assim como as hipóteses, as justificativas e as demais partes da pesquisa.
A partir do momento em que conseguimos delimitar o tema, levantar o problema, elencar as hipóteses (se for o caso) e estabelecer os objetivos da pesquisa, podemos estabelecer o tipo de pesquisa que vamos realizar e o método a ser utilizado. Não é possível fazer o caminho inverso, ou seja, estabelecer o tipo de pesquisa e o método para depois pensar em um tema de pesquisa. Por exemplo: fica inviável estabelecer o desejo de fazer uma pesquisa quantitativa de levantamento a partir de uma entrevista com uma pessoa referência em uma determinada área. O mais pertinente seria uma pesquisa qualitativa a partir de um estudo de caso.
No momento de escrita do trabalho acadêmico, outra questão a ser observada é a inserção de citações no decorrer do texto. É a NBR 10520 (2023) que indica como as citações devem ser inseridas e referenciadas no corpo do texto. As citações são imprescindíveis, pois elas dão crédito à nossa escrita a partir do embasamento em outros estudos já publicados. Por isso, é importante a busca por pesquisas de cunho científico em bases confiáveis, os quais publiquem trabalhos que se preocupem com o desenvolvimento sistematizado e ético da ciência.
Por fim, e não menos importante, a NBR 6023 (2018) apresenta as instruções de como o corpo de referências do trabalho deve ser elaborado. Cada documento tem um formato específico de apresentação dos elementos que são essenciais para a sua identificação individual. As referências devem ser elaboradas em ordem alfabética a partir do último sobrenome do autor ou conforme ocorrer o elemento de entrada na referência.
Reflita A partir do que foi exposto, reflita sobre os seguintes questionamentos:
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É Hora de Praticar!
A apresentação, a análise e a discussão dos dados da pesquisa são os momentos em que o pesquisador vai conseguir mostrar para o leitor aquilo que ele encontrou durante a sua busca. É o momento de defender seu ponto de vista buscando embasamento no referencial teórico. Os dados da pesquisa podem ser dados primários, aqueles coletados pelo próprio pesquisador, ou secundários, aqueles dados coletados por outros pesquisadores ou órgãos governamentais, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo.
Vamos pensar em uma situação em que, na sua pesquisa, você está investigando a ocupação de jovens entre 15 e 29 anos. Você estabeleceu um recorte temporal dos últimos 10 anos. Assim, você buscou os dados divulgados pelo IBGE na Síntese de indicadores sociais de 2012 e de 2022. Os gráficos encontrados foram os seguintes:
Agora, responda aos seguintes questionamentos:
- É possível fazer a comparação entre os dois gráficos? Se sim, faça a comparação entre eles. Se não, justifique o motivo de não ser possível.
- Como cada gráfico pode ser interpretado?
Bons estudos!
Reflita
Qual é a recomendação para se trabalhar com dados em uma pesquisa? Na hora de interpretá-los e expor os resultados, o pesquisador deve ter muito cuidado para não enviesar e comprometer esses dados com sua análise.
Resolução do estudo de caso
É possível fazer a comparação entre os dois gráficos, pois eles apresentam as mesmas variáveis e a mesma população. Ambos apresentam o tipo de atividade exercida por jovens de 15 a 29 anos de idade na semana de referência. As variáveis são divididas em: somente estuda, trabalha e estuda (estuda e está ocupado), somente trabalha (só está ocupado) e não trabalha nem estuda (não estuda e não está ocupado).
Pensando na comparação entre os gráficos e na proposta feita, é possível pensar em cada variável de maneira isolada ou na totalidade da amostra. Vamos pensar nas variáveis de maneira isolada para fazer a reflexão: no ano de 2012, a população que declarou somente trabalhar foi de 45,2%; no ano de 2016, esse percentual era de 39,4%. A queda na variável “somente ocupado” pode indicar o investimento governamental no setor educacional no período de referência, o que possibilitou a permanência dos jovens no setor educacional e ampliou o acesso às universidades por meio de subsídios financeiros proporcionando condições à população menos favorecida permanecer por mais tempo na escola.
Olhando para o mesmo indicador no período seguinte em 2017 e 2018, o índice dos jovens entre 15 e 29 anos que somente trabalhavam se manteve em 39,4%, tendo um discreto aumento em 2019 para 40,2%, e caindo significativamente em 2020 para 35,1%. Precisamos nos recordar de que 2020 foi o ano da pandemia de Covid-19; portanto, a queda significa o desemprego da população. Essa afirmação fica evidente quando olhamos para os dados referentes aos jovens que declararam não estudar nem estar ocupados em 2019: o percentual era de 24,1% e sobe para 28% em 2020.
Esse é apenas um exemplo de como os dados podem ser interpretados e discutidos, mas essa interpretação e discussão também pode ser feita de outras formas, trazendo ainda outros dados a nível de comparação. Que tal treinar um pouco mais?! Agora é com você!
Dê o play!
Assimile
Vamos analisar a figura a seguir para compreender de maneira sintetizada as etapas a serem seguidas na elaboração de um Trabalho de Conclusão de Curso.
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). ABNT NBR 14724: informação e documentação: Trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2011.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). ABNT NBR 6023: informação e documentação: Referências: elaboração. Rio de Janeiro: ABNT, 2018.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). ABNT NBR 10520: informação e documentação: Citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2023.
CRIVELARO, Lana Paula; CRIVELARO, Lara Andréa; MIOTOO, Luciana Bernardo. Guia prático de monografias, dissertações e teses: Elaboração e apresentação. 5ª ed. Campinas: Editora Alínea, 2011.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv66777.pdf. Acesso em: 14 nov. 2023.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 2022. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101979.pdf. Acesso em: 14 nov. 2023.