Adolescência

Aula 1

Adolescência, Juventude e Desenvolvimento

Adolescência, juventude e desenvolvimento

Olá, estudante!

Como foi a adolescência para você? Como eram as relações familiares e as amizades? Esse período da vida deixa muitas memórias, pois é bastante importante para nosso desenvolvimento. Nesta aula, estudaremos sobre os conceitos de juventudes, juventude e adolescência, bem como os aspectos de desenvolvimento e as características sociais. Além disso, contextualizaremos as principais demandas de ensino-aprendizagem para jovens e adolescentes na atualidade. Preparado? Vamos juntos nesta nova trilha de conhecimentos!
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Bons estudos! 

Ponto de Partida

Boas-vindas à primeira aula da disciplina Adolescência e Juventude no Século XXI. Se você está aqui, em um curso de nível superior, certamente já vivenciou ou continua na fase da adolescência e da juventude. Mas será que há uma distinção clara entre adolescência e juventude? Podemos considerar adolescência como um processo inerente à condição humana? Qual é o papel da escola no desenvolvimento dos adolescentes? Refletir sobre esses questionamentos é crucial para uma compreensão mais ampla dos diferentes momentos de desenvolvimento humano em seu aspecto biopsicossocial.

Para nos aprofundarmos um pouco mais nesses assuntos, imagine uma turma do 9º ano do Ensino Fundamental de um colégio público, na qual alguns dos estudantes, nos últimos meses, parecem mais desmotivados, enquanto outros exibem mudanças de humor abruptas. O desempenho acadêmico de alguns deles está abaixo do esperado, e há relatos de conflitos interpessoais. Diante desses desafios, um professor começa a questionar-se sobre a importância de compreender melhor a adolescência para conseguir mediar algumas dessas situações em sala de aula.

As indagações a seguir podem servir de base para essa busca de maior entendimento:

  • O conhecimento das características do desenvolvimento adolescente pode auxiliar na abordagem de desafios comportamentais em sala de aula?
  • De que maneira a percepção das mudanças cognitivas e emocionais típicas da adolescência pode auxiliar o professor em relação ao trabalho pedagógico e educacional com os discentes?

Pensando em ajudar esse professor, exploraremos mais profundamente essas questões utilizando este material de estudo. Por isso, dedique tempo e energia ao aprendizado e encare este momento não como obrigação, mas como fonte valiosa de saberes.

Bons estudos!

Vamos Começar!

Adolescência e juventude: aspectos biológicos, políticos e sociais

Quando você pensa em sua adolescência, o que vem primeiro à mente? Quais são as principais lembranças? Com certeza, todos nós temos memórias positivas e negativas desse período da vida, dado que a adolescência é uma fase de transição para a vida adulta e um momento de construção interna como sujeitos no mundo. Todavia, não se trata de uma transição simples; ela apresenta especificidades que abordaremos mais detalhadamente a seguir.

Inicialmente, é necessário compreender o surgimento dessa concepção, pois nem sempre a ideia de adolescência existiu histórica e socialmente. O historiador francês Philippe Ariès (1986), em seus estudos sobre os contextos social, escolar e infantil durante a Idade Média na Europa, constatou que o conceito de adolescência só emergiu no final do século XVIII e só se disseminou efetivamente no século XX. Segundo esse autor, por volta dos 7 anos de idade, as crianças eram integradas ao mundo do trabalho, com poucas oportunidades de estudo. Eram consideradas “miniadultos”; não se via motivo para a diferenciação, nem se compreendiam as especificidades e necessidades de desenvolvimento da criança.

Isso também ocorria em idades posteriores, entre 13 e 20 anos. Por exemplo, no período medieval, era comum que estudantes de todas as idades ocupassem as mesmas salas de aula, estudando o mesmo conteúdo; essa mistura de idades era observada também fora da escola. Ou seja, a partir do momento que a criança adquiria um pouco mais de autonomia, já podia ser inserida no mundo adulto.

Com as transformações sociais pós-período de industrialização e a mudança na concepção da própria família burguesa (surgida durante a Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX, na Europa, a família burguesa caracterizava-se por uma estrutura nuclear, com ênfase em educação, papel definido para a mulher, transmissão de propriedade e herança e vida urbana), a infância e a adolescência começaram a ganhar mais destaque nas sociedades modernas. Conforme Avila (2005), a adolescência passou a ser considerada como um período de transição, um espaço intermediário entre a infância e a idade adulta, entre a maturidade biofisiológica e a maturidade psicossocial.

No contexto brasileiro, o reconhecimento da infância, bem como dos direitos e dos deveres das crianças, também foi se construindo ao longo dos séculos, conforme se ressignificava o papel das instituições escolares e da família e com a industrialização da sociedade. Durante o período colonial, por exemplo, era comum a atuação de crianças no trabalho escravo, assim como as questões de abandono de menores. Muitas dessas crianças abandonadas foram, inicialmente, acolhidas nas Santas Casas de Misericórdia, que implantaram as chamadas “rodas dos expostos”. Instaladas nos muros ou nas janelas das instituições, essas rodas tinham um formato cilíndrico e uma divisória ao meio. No lado externo, o responsável pelo abandono colocava a criança na abertura do dispositivo que, ao ser girado, transferia a criança para o lado interno.

Espaços como esses, e posteriormente creches, pré-escolas e escolas, começaram a trazer para discussão social e política as necessidades das crianças, que passaram a ser compreendidas e olhadas a partir das premissas da infância e, depois, da adolescência e da juventude.

A propósito, adolescência e juventude são sinônimos? Apesar de compreenderem um período de desenvolvimento etário próximo, ambas as etapas apresentam aspectos diferenciados em termos de desenvolvimento social, emocional e biológico. Enquanto a adolescência é uma fase marcada por mudanças físicas, emocionais e sociais intensas de formação biopsicossocial, a juventude é mais ampla e se caracteriza por aspectos sociais, como a busca de identidade e responsabilidades. Conforme Silva e Lopes (2009), o termo “adolescência” está associado principalmente às teorias psicológicas, centrando-se no indivíduo como ser psíquico e influenciado por sua realidade e experiência subjetiva. Em contraste, a “juventude” é mais destacada em teorias sociológicas e históricas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a adolescência como o período entre 10 e 19 anos de idade e a juventude, entre 15 e 24 anos. Ainda, existem outras divisões dentro da adolescência: pré-adolescência (de 10 a 14 anos), que se refere ao momento em que a criança começa a deixar a infância e adentra na puberdade; adolescência jovem (de 15 a 19 anos); e idade adulta jovem (de 20 a 24 anos). Tal definição cronológica está relacionada principalmente com fatores sociais, acompanhamento epidemiológico e desenvolvimento de políticas públicas para essa população, mas é importante destacarmos que as nuances sociais, culturais e educacionais modificam a experiência dessa fase para cada sujeito.

Exemplificando, podemos dizer que, na adolescência, o indivíduo enfrenta uma série de desafios e oportunidades que contribuem para a construção de sua identidade e autonomia. As transformações biológicas, como a puberdade, desencadeiam uma cascata de eventos que impactam não apenas o corpo, mas também as emoções e a cognição. As dinâmicas das relações sociais se tornam centrais, influenciando o desenvolvimento emocional e a construção de habilidades sociais do adolescente.

A juventude, por sua vez, expande as fronteiras da autonomia e da responsabilidade. Nesse período, os jovens buscam definir suas identidades, explorando carreiras, relacionamentos e valores. No caso da situação vivenciada pelo professor de nossa situação-problema, há um ponto importante, que é o papel da sociedade e da família na compreensão das necessidades específicas dessa fase, o que permite um olhar mais humanizado em relação às várias mudanças que esses sujeitos estão experienciando.

Siga em Frente...

Políticas públicas voltadas à juventude

Com o aumento da população infantil brasileira, durante o século XX, tornou-se necessário repensar as políticas públicas, bem como as ações do Estado em relação à assistência, à educação, aos direitos e aos deveres de crianças e adolescentes.

Na década de 1920, começaram no Brasil alguns movimentos importantes nos âmbitos político e legal, como a criação do Juizado de Menores e do Código de Menores. Posteriormente, em 1930, foi instaurado o Ministério da Educação, refletindo uma preocupação maior com a formação educacional das crianças. Já em 1959, foi publicado o documento internacional intitulado Declaração Universal dos Direitos da Criança, que enfatiza direitos como igualdade, proteção em seu desenvolvimento físico e mental, nome, nacionalidade, alimentação, moradia, assistência, educação, amor etc.

Esses direitos ressignificam e reconhecem a criança em sua plenitude, com necessidades específicas, diferentes das dos adultos, adentrando também no campo político. Quando pensamos em política, isso inclui decisões e ações governamentais concretizadas por meio das políticas públicas, a fim de resolver problemas ou promover objetivos sociais, econômicos e ambientais.

As políticas sociais configuram-se como uma resposta do Estado à demanda das questões sociais. Conforme Silva e Lopes (2009), em se tratando de adolescentes e jovens, temos ainda um grande desafio para impulsionar melhorias por meio de intervenções públicas. Para os autores, é imprescindível a adoção de políticas que combinem abordagens universalizantes e, consequentemente, sejam aptas a garantir direitos universais — considerando as vulnerabilidades sociais e compreendendo os jovens como sujeitos autônomos.

Ancorada nas ressignificações da concepção de infância e da criança como um ser de direitos, a Constituição Federal Brasileira de 1988 apresenta que a educação é “um direito de todos e dever do Estado e da família em colaboração com a sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Todavia, o direito à educação implica também uma série de outros fatores, como permanência e asseguramento das necessidades específicas de aprendizagem para cada pessoa, a depender de seu momento de desenvolvimento. É nesse sentido que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) mostra-se um dispositivo legal importante. Instituído pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente, considerando a pessoa até 12 anos incompletos como criança, e adolescentes aqueles que estão entre 12 e 18 anos.

Também há o Estatuto da Juventude, instituído por meio da Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013, que dispõe sobre os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude – SINAJUVE. Esse documento considera como jovens aqueles com idade entre 15 e 29 anos.

No caso da escola, a compreensão das necessidades dos jovens e adolescentes envolve também compreender a legislação e as políticas públicas existentes, que podem dar suporte à atuação do professor em sala de aula e ao trabalho pedagógico maior desenvolvido na instituição, a fim de promover o engajamento cívico e prevenir outros problemas no contexto educacional, como violência e discriminação.

 

O jovem e o adolescente no mundo atual e suas necessidades de aprendizagem

Ao longo do desenvolvimento humano, diferentes necessidades de aprendizagem surgem, pois conforme crescemos nosso círculo de interações aumenta e adquirimos novas habilidades e competências. Inicialmente, nosso contato principal é com os pais e responsáveis; e, quando entramos na escola, passamos a interagir com outros grupos e estabelecer novas conversas, relações e, consequentemente, adquirir novos aprendizados. Desse modo, podemos compreender que a aprendizagem de algo depende de inúmeros fatores e decorre da interação entre nossas estruturas mentais e o contexto social. Na adolescência e na juventude, a busca de quem somos e as mudanças cerebrais, emocionais, fisiológicas e sociais despertam necessidades que diferem das ligadas à infância.

De acordo com Dayrell (2003), a juventude é uma categoria social, mas também uma forma de representação que pode ser entendida de maneiras muito variadas por cada sociedade, momento histórico e grupo social. Essa diversidade se relaciona com condições sociais (classes sociais) e aspectos culturais (etnias, identidades religiosas, valores), de gênero, territoriais (regiões geográficas) etc. Por isso, o autor propõe pensarmos em juventudes, no plural; os jovens, a depender de suas experiências sociais, constroem determinados modos de ser jovem.

As demandas de aprendizagem dos jovens abrangem áreas cruciais, como acesso a uma educação de qualidade, desenvolvimento de habilidades socioemocionais, competências tecnológicas, orientação profissional, cidadania e saúde mental. Capacitá-los nessas esferas não apenas os prepara para o mercado de trabalho, mas também promove um desenvolvimento integral, possibilitando que enfrentem desafios pessoais e sociais de maneira informada e resiliente, o que contribui para uma sociedade mais engajada e sustentável. Nesse cenário, professores, famílias e escolas têm papéis fundamentais quando se trata de assegurar um bom acompanhamento desse processo formativo.

Segundo dados do Atlas da Juventude (2021), existem aproximadamente 47,8 milhões de jovens (entre 15 e 29 anos) no Brasil. Eles circulam e se espalham de maneiras distintas pelas regiões do país, todavia essa distribuição não é sinônimo de qualidade de vida. Muitos jovens vivem em situações de desigualdade social, pobreza, falta de perspectiva, desemprego, evasão ou abandono escolar. Por isso, refletir sobre as características desse período da vida e as próprias políticas que contemplam e asseguram os direitos desses sujeitos é essencial. Precisamos acolher nossos jovens e cuidar deles. Trata-se de uma fase muito potente, que demanda crescimento constante e apresenta diversos desafios que devem ser assumidos e compartilhados por toda sociedade.

Isso também se estende aos adolescentes. Repensar as práticas docentes na atualidade tendo em vista as múltiplas realidades dos jovens e adolescentes, os contextos sociais diversos e as demandas de aprendizagem mais coerentes com a sociedade do conhecimento e conectada que temos hoje, é muito significativo. Pensar em uma perspectiva de educação integral que abarque habilidades socioemocionais, saúde, inclusão digital, orientação vocacional, cidadania participativa e consciência ambiental, é um caminho para promover uma educação que vá ao encontro das necessidades de aprendizagem desses sujeitos.

Em síntese, adolescência e juventude representam momentos fundamentais no desenvolvimento humano. Ao reconhecermos as complexidades desse período da vida, tornamo-nos mais aptos enquanto educadores e docentes a criar ambientes educacionais e sociais que promovam o fortalecimento das juventudes, tendo uma visão mais humanizada e acolhedora das diversas transformações que envolvem esse período. Assim, para auxiliar o professor de nossa situação-problema, podemos destacar que o diálogo com esses sujeitos, os estudos sobre os impactos das transformações biológicas e sociais que eles vivenciam e o que esperam da escola e de seu processo de aprendizagem são passos significativos para aprimorar as relações entre professores, alunos e conhecimento. 

Vamos Exercitar?

No início desta aula, apresentamos a situação-problema envolvendo, de um lado, os estudantes do Ensino Fundamental desmotivados e com baixo desempenho acadêmico e, de outro, as reflexões de um professor diante dessa situação. Colocando-se no lugar desse professor e com base nos conhecimentos adquiridos por você até aqui, quais são os principais caminhos a se trilhar?

A adolescência e a juventude são fases complexas de desenvolvimento psicossocial, que vão muito além de mudanças biológicas e amadurecimento cerebral; trata-se de períodos de transição para a vida adulta, repletos de desafios e influências socioculturais. Desse modo, uma primeira abordagem do professor nesse cenário é buscar, junto à coordenação da escola e a outros membros da equipe docente, treinamentos e leituras sobre as características do desenvolvimento dos adolescentes e jovens.

Para promover maior engajamento e interesse pela aprendizagem, também é importante estruturar avaliações individuais e planos de aprendizagem diversificados, criar um ambiente de aceitação e respeito à diversidade e trabalhar em conjunto com outros profissionais aspectos relacionados à saúde mental e emocional de adolescentes e jovens, bem como desenvolver atividades utilizando diferentes abordagens.

Familiarizando-se com as temáticas abordadas nesta aula, você progredirá em direção ao objetivo desta unidade, que consiste em compreender as principais características da adolescência, considerando o contexto em que ocorrem e suas especificidades. Assim, estará mais apto a lidar com os desafios educacionais, políticos e culturais de jovens e adolescentes na contemporaneidade, aplicando esses saberes em diferentes contextos.

Bons estudos!

Saiba Mais

Acesse o portal do Observatório da Juventude da UFMG e consulte o acervo disponível no menu de Arquivos. O observatório faz parte da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, teve início em 2002 e situa-se no contexto das políticas de ações afirmativas da UFMG, apresentando uma proposta de extensão articulada com ações de pesquisa e ensino em torno da temática educação, cultura e juventudes. 
Também leia o capítulo 3 do livro Políticas públicas e a proteção integral para a infância e juventude no Brasil, disponível na Biblioteca Virtual. Nele é possível se aprofundar mais nos aspectos históricos, políticos, culturais e familiares que envolvem a juventude e a adolescência na contemporaneidade.

Referências Bibliográficas

ARIÈS, P. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

ATLAS das juventudes: evidências para a transformação das juventudes. 2021. Disponível em: https://atlasdasjuventudes.com.br/wp-content/uploads/2021/11/ATLAS-DAS-JUVENTUDES-2021-COMPLETO.pdf. Acesso em: 24 nov. 2023.

AVILA, S. de F. O. de. A adolescência como ideal social. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DO ADOLESCENTE, 1., 2005, Rio de Janeiro. Anais […]. Rio de Janeiro: Faculdades Integradas Maria Thereza e Centro Universitário Metodista UniBennett, 2005. Disponível em: http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000082005000200008&script=sci_arttext. Acesso em: 20 mar. 2024.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2024]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 20 mar. 2024.

BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 24 nov. 2023.

BRASIL. Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013. Institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude- SINAJUVE. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12852.htm. Acesso em: 24 nov. 2023.

DAYRELL, J. O Jovem como sujeito social. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 24, 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/zsHS7SvbPxKYmvcX9gwSDty/abstract/?lang=pt. Acesso em: 20 mar. 2024.

MOCELIN, M. R. Políticas públicas e a proteção integral para a infância e a juventude no Brasil. São Paulo: Contentus, 2020. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/185194. Acesso em: 24 nov. 2023.

SILVA, C. R.; LOPES, R. E. Adolescência e juventude: entre conceitos e políticas públicas. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, São Carlos, v. 17, n. 2, 2009. Disponível em: https://www.cadernosdeterapiaocupacional.ufscar.br/index.php/cadernos/article/view/100. Acesso em: 20 mar. 2024.

Aula 2

Adolescência e o Espaço Educativo

A adolescência e o espaço educativo

Olá, estudante!

Você se lembra de seu primeiro dia de aula no Ensino Médio? Como foi? E como estava a escola? Você encontrou seus amigos? Tais perguntas fazem parte de um exercício de reflexão a respeito do espaço educativo e de como adolescentes e jovens se relacionam com a escola e os processos de ensino que ocorrem nela. Nesta aula, trataremos desses temas, relacionando-os com metodologias de ensino, papel da escola, projeto de vida e muito mais. Vamos lá? 

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Bons estudos! 

Ponto de Partida

Agora que já exploramos um pouco os conceitos de adolescência e juventudes, nesta aula vamos nos aprofundar em discussões sobre adolescentes nos espaços educativos e processos de ensino e aprendizagem envolvendo esse público.

Para iniciarmos esse novo percurso, é importante retomar alguns aspectos legais. Em nossa Constituição Federal de 1988, a educação é concebida como “direito social de todos e dever do Estado e da família, sendo promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Podemos inferir que a educação é um dos requisitos essenciais para que os indivíduos possam usufruir do conjunto de bens e serviços disponíveis na sociedade. No caso do Estatuto da Criança e do Adolescente, o Artigo 53 ressalta que crianças e adolescentes têm direito à educação, assegurando-lhes:

I - Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita, próxima de sua residência, garantindo-se vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica. (Brasil,1990)

A partir desse princípio do direito à educação, imagine que você atua como coordenador pedagógico — em um colégio da rede pública de ensino, composto de alunos de diferentes origens sociais, religiosas, étnicas e culturais — e vem percebendo desafios constantes nas interações e socialização entre os estudantes. Diante desse problema, como superar as divisões culturais entre os alunos e promover uma maior integração e valorização da diversidade? Como lidar com estereótipos e preconceitos que podem surgir devido às diferenças culturais? Como possibilitar o diálogo e alterar o ambiente escolar para torná-lo mais respeitoso, colaborativo e inclusivo?

Essas questões serão guias para a discussão que vamos propor aqui, a fim de compreender as diferentes dinâmicas sociais: como jovens e adolescentes lidam, ocupam, se reconhecem e dão importância para os diferentes espaços educativos. Lembre-se que se trata do início de um caminho de aprendizagem, então seus estudos não devem se encerrar ao término desta leitura. Continue buscando novas informações, pesquisas e troque informações com outras pessoas sobre os temas abordados aqui; desse modo, sua aprendizagem será muito mais significativa.

Bons estudos!

Vamos Começar!

A relação do adolescente com o espaço da escola

Você se lembra de seu período escolar? Quando estava no Ensino Médio ou no Ensino Fundamental, o que mais gostava de fazer? Qual era a importância daquele espaço para você e o que aprendeu? Com certeza, ao recuperar suas lembranças, você terá memórias ruins e boas que lhe marcaram profundamente; afinal, a adolescência é um período de intenso desenvolvimento biológico, psicológico, emocional e social, e a escola é um dos espaços significativos de construção de cidadania, aprendizagens e relações sociais. Quando pensamos em espaços educativos, a primeira referência que nos vem à mente é a escola, mas é importante destacar que a educação não ocorre apenas nos espaços formais de ensino; também aprendemos em espaços não formais.

Segundo Gadotti (2005), a educação formal é predominantemente associada às escolas e universidades e tem objetivos claros e específicos, guiados por currículos, estruturas hierárquicas e burocráticas estabelecidas em nível nacional pelos órgãos de fiscalização responsáveis. Já a educação não formal é caracterizada por sua natureza mais difusa, menos hierárquica e menos burocrática. Essa diferenciação é importante para olharmos de maneira mais ampla para os processos de ensino e aprendizagem que envolvem a adolescência, principalmente com o contexto de desenvolvimento das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TIDCS), que trazem novas formas de interação, comunicação e aprendizagem por meio das redes sociais e internet.

Em uma pesquisa com 57 adolescentes brasileiros para investigar a percepção deles acerca da escola, constatou-se que para muitos a escola ainda é um local privilegiado para a formação, embora, atualmente, ela compita com dispositivos móveis e o acesso à internet — que, em certa medida, democratizaram o conhecimento (Campeiz et al., 2017). Pelos discursos dos adolescentes, pode-se inferir que a construção do conhecimento ocorre por meio das interações estabelecidas por eles, entre os conteúdos e vivências. Nesse sentido, o contexto histórico e cultural dos adolescentes, considerados nativos digitais — ou seja, aqueles sujeitos que já nascem em um contexto tecnológico digital —, confere significado e fundamentação à sua aprendizagem, que na atualidade ocorre em diversos espaços cotidianos, inclusive no virtual.

Apesar das variadas possibilidades de aprendizagem dos espaços não formais, neste momento nos concentraremos no espaço formal, composto das instituições escolares. Na contemporaneidade, a escola enfrenta desafios que vão desde acompanhar e avaliar o conhecimento fornecido formalmente, por meio dos currículos, até acompanhar como os estudantes adquirem conhecimento fora dos bancos escolares, a fim de estabelecer uma proximidade entre os conteúdos curriculares e as vivências cotidianas dos adolescentes. Isso se dá pelo fato de a escola não ser um espaço isolado, desconexo da realidade social. Habilidades socioemocionais, aceitação, medo, ansiedade, evasão escolar, violência e suicídio, por exemplo,  integram a realidade de muitos estudantes e das sociedades modernas; portanto, adentram as discussões e os comportamentos de muitos adolescentes e jovens no contexto escolar.

Sob essa perspectiva, podemos fazer algumas indagações: o que os adolescentes esperam? O modelo de educação oferecido é suficiente para atrair a atenção e despertar o desejo de aprendizagem deles, considerando a realidade atual da sociedade? Essas são questões complexas, mas nos últimos anos têm guiado novas pesquisas, que buscam tanto compreender melhor o desenvolvimento dos adolescentes e os processos de aprendizagem quanto apresentar caminhos para ressignificar a função da escola e do ensino para esses sujeitos.

Observar as interações estabelecidas pelos adolescentes e como eles significam o espaço escolar é uma conduta importante para alterar práticas educativas partindo do aluno como foco desse processo. Assim, o processo de ensino-aprendizagem envolve o professor enquanto mediador e incentivador da busca pelo saber, o estudante como o protagonista e a escola como o local onde a relação entre professor, aluno e conhecimento se estabelece.

Siga em Frente...

Modelos de educação e metodologias de ensino para aprendizagem significativa

A aprendizagem é fruto de uma interação entre as estruturas cognitivas e o meio social. Para entenderem melhor esse processo, vários teóricos desenvolveram diferentes abordagens e estudos voltados a analisar as especificidades da aprendizagem durante o desenvolvimento humano. Nesta aula, destacaremos a Epistemologia Genética, a Teoria Sociointeracionista, a Teoria da Bioecologia do Desenvolvimento Humano, a Teoria da Psicogênese da Pessoa Completa e a Teoria da Aprendizagem Significativa.

Um dos principais teóricos que contribuíram para pensarmos a respeito de mecanismos da aprendizagem foi o psicólogo e biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), que dedicou boa parte de seus estudos a compreender como ocorre esse processo. Segundo Brandão (2018), a teoria desenvolvida por Piaget, denominada Epistemologia Genética, permite-nos diferenciar significativamente a lógica de funcionamento mental da criança e do adulto. Sua teoria enfatiza o processo de construção e desenvolvimento mental por meio dos processos de assimilação, acomodação e equilibração, além de contribuir para analisarmos o papel da afetividade nos processos de ensino-aprendizagem.

Os processos de equilibração, acomodação e assimilação correspondem à recepção da informação, à interação dessa informação com conhecimentos prévios do sujeito e à formação de novos saberes a partir das informações adquiridas e processadas. Ainda segundo esse autor, o desenvolvimento cognitivo passa por etapas distintas entre o nascimento e o início da adolescência: sensório-motor, pré-operatório, operatório-concreto e operatório-formal. Piaget destaca que, a partir da etapa operatório-formal (a partir dos 12 anos), o raciocínio do indivíduo se torna mais concreto, no sentido da percepção da realidade, e desenvolve-se o pensamento abstrato.

Apesar de sua teoria centrar-se mais no desenvolvimento infantil, permite-nos compreender a importância do desenvolvimento cognitivo humano em cada momento da vida e os aspectos que influenciam no processo de aprendizagem. Assim, entende-se que o conhecimento se constrói gradativamente.

No que tange aos aspectos históricos e sociais na formação da aprendizagem humana, podemos destacar os estudos de Lev S. Vygotsky (1896-1934), professor e pesquisador que se dedicou a compreender as funções psicológicas superiores (controle sobre o comportamento, atenção, lembrança, memorização, pensamento abstrato, planejamento, linguagem etc.). Para ele, o comportamento humano é determinado por história e cultura, e a aprendizagem é o resultado das interações e mediações entre o que o sujeito sabe e aquilo que aprende com os outros — Teoria Sociointeracionista.

A Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) consiste na distância entre o desenvolvimento real, conquistas já realizadas pelo sujeito sozinho, e o desenvolvimento potencial, aquilo que ele é capaz de fazer com a intervenção de um adulto ou mediador. Brandão (2018) afirma que, além da ênfase no papel da linguagem no desenvolvimento do pensamento, a ZDP nos possibilita pensar a autonomia e a valorização do contexto dos sujeitos no processo de aprendizagem.

Piaget e Vygotsky contribuíram para a compreensão de várias questões do desenvolvimento e dos processos de aprendizagem, possibilitando outros estudos decorrentes de suas teorias. Podemos destacar, por exemplo, o psicólogo e médico francês Henri Wallon (1879-1962), que problematizou o desenvolvimento humano a partir de um olhar mais completo. Conforme Dautro e Lima (2018), a teoria psicogenética de Wallon se fundamenta na visão holística e completa da criança, abarcando os aspectos biológico, afetivo, social e intelectual. Por isso, era comumente chamada de Teoria da Psicogênese da Pessoa Completa. Essa abordagem destaca a importância da emoção, do aspecto orgânico e do papel do outro na formação da pessoa. Outro importante teórico foi David Ausubel (1918-2008), psicólogo e educador estadunidense que apresentou o conceito de aprendizagem significativa, o que significa que a aprendizagem ocorre somente quando a informação apresentada é significativa para nós e depende de nossos conhecimentos prévios.

Já a Teoria da Bioecologia do Desenvolvimento Humano, do psicólogo Urie Bronfenbrenner (1917-2005), compreende o desenvolvimento humano como um processo recíproco, resultado da interação com diferentes sistemas ao longo da vida. Segundo os estudos de Assis, Moreira e Fornasier (2021), inicialmente a teoria ecológica de Bronfenbrenner buscava compreender o desenvolvimento de maneira contextualizada em ambientes naturais para captar a realidade abrangentemente. Com a reformulação de sua teoria, ele passou a adotar a compreensão bioecológica do desenvolvimento humano e propôs um esquema de quatro aspectos inter-relacionais para entender o desenvolvimento: o processo, a pessoa, o contexto e o tempo — Modelo PPCT.

Com base nessas e em outras teorias, podemos compreender a aprendizagem como resultado de múltiplos fatores e olhar para o processo de aprendizagem de diferentes perspectivas, considerando o desenvolvimento do sujeito a partir de seu contexto social, cultural, emocional, biológico e psicológico. No contexto dos estudos envolvendo adolescentes, podemos nos ancorar em conceitos e concepções desenvolvidos esses teóricos para, então, repensar práticas educacionais tendo em vista as necessidades de aprendizagem dos estudantes do século XXI.

As metodologias e estratégias educacionais empregadas na atualidade devem não só estimular o aprendizado, mas também desenvolver habilidades essenciais para a vida e o mercado de trabalho. O Quadro 1 mostra alguns exemplos de estratégias e recursos que podem ser utilizados no trabalho com adolescentes, considerando os diferentes estilos de aprendizagem nos contextos escolares. 

Aprendizagem ativa e colaborativa

Em uma abordagem socioconstrutivista e construtivista, o professor pode usar metodologias ativas de aprendizagem, como sala de aula invertida, projetos práticos e atividades em grupo. O objetivo é envolver e tornar o estudante protagonista.

Tecnologias (TICs e TIDCs)

O professor pode utilizar plataformas on-line, recursos multimídia, realidade virtual e gamificação. O objetivo é aproximar, engajar, motivar e personalizar o ensino.

Habilidades socioemocionais

A chamada “alfabetização emocional” é essencial para adolescentes e jovens. Em sala, o professor pode usar resolução de problemas, estudo de casos e atividades que envolvam decisões. O objetivo é desenvolver nos estudantes habilidades como empatia, comunicação e pensamento crítico.

Interdisciplinaridade

Em uma perspectiva ecológica do desenvolvimento e da aprendizagem significativa, o professor pode integrar diferentes disciplinas em projetos e atividades variadas. O objetivo é desafiar e estimular os estudantes em diferentes áreas do saber, relacionando os conteúdos com seu contexto social.

Personalização

Visando ao protagonismo do estudante e considerando diferentes formas e suportes para aprendizagem, o professor pode adotar avaliação formativa, planos de ensino adaptativos e autogestão. O objetivo é favorecer e trabalhar com diferentes recursos, diversificando o modo como os conteúdos são apresentados e ensinados.

Quadro 1 | Estratégias metodológicas para o trabalho com adolescentes. Fonte: elaborado pela autora.

 

Essas são apenas algumas sugestões; o professor, enquanto mediador do conhecimento, deve adaptar e alterar recursos com base na realidade percebida e no diálogo com os estudantes. É importante considerar que a aprendizagem significativa ocorre à medida que o aluno consegue compreender, refletir e aplicar de maneira prática os conteúdos apresentados.

 

Projeto de vida e educação profissional

Nascimento (2002) explica que o projeto de vida é formado por um conjunto de representações construídas culturalmente em variadas esferas da vida. Trabalhar com projetos de vida permite inserir o adolescente no universo social considerando o bem-estar, a felicidade, o aprimoramento individual e coletivo; assim, ele é levado a tomar consciência de sua responsabilidade no que se refere à construção de sua vida e aprendizagem. Projetar a vida também envolve refletir e pensar sobre as diversas violências físicas e simbólicas que surgem devido às desigualdades sociais, étnicas e de gênero e como podemos lidar com elas.

No período da adolescência e da juventude, o sujeito passa a ser inserido gradativamente no mercado de trabalho, o que a depender do contexto pode dificultar a tarefa de conciliar os estudos e o momento laboral. Muitas vezes, a inserção precoce no mundo do trabalho, em virtude das necessidades de sobrevivência e das desigualdades, impede que o projeto de vida seja direcionado, qualificado e consciente. Em primeiro lugar, precisamos reconhecer que a felicidade é um bem coletivo; em seguida, devemos considerar a abordagem do mundo do trabalho na escola como uma maneira de ensinar a administração do dinheiro ganho, o consumo consciente, a responsabilidade no uso de bens e serviços públicos, a educação financeira, a alimentação saudável e a promoção da saúde e da qualidade de vida (Brasil, 2023).

Desse modo, ao trabalharmos projeto de vida, trazemos para os processos de ensino e aprendizagem reflexões importantes que tangenciam o dia a dia dos adolescentes, bem como suas dúvidas e seus anseios relacionados às mudanças diante da “vida adulta”. O diálogo com os estudantes e a mediação dos saberes são essenciais para o desenvolvimento de projetos, planos e atividades que contemplem esse projeto de vida.

Esse é um ponto que pode ser destacado nos conflitos identificados na escola da situação-problema apresentada do início da aula. A elaboração de projetos de vida e os diálogos com os estudantes são meios para trabalhar a convivência e o entendimento da individualidade e da coletividade.

Vamos Exercitar?

Na posição de educador, futuro educador ou coordenador, você pode se deparar com esses desafios de interação, socialização e relacionamentos, principalmente na fase da adolescência e da juventude, no âmbito escolar. Desse modo, o primeiro passo é conversar com os professores e estudantes, para reconhecer suas necessidades de ensino e aprendizagem e a percepção sobre a escola.

Nesse processo, é importante criar espaços de diálogo abertos para compartilhar experiências culturais e promover a valorização da diversidade de ideias e opiniões. Incentivar a representação positiva de diversas culturas em atividades escolares e eventos é uma das estratégias possíveis. Nessa mesma perspectiva, é possível integrar material educativo diversificado que reflita a pluralidade cultural na sala de aula, assim como estabelecer comitês culturais ou grupos de representatividade estudantil para garantir que as vozes de todos sejam ouvidas.

É importante que os adolescentes e jovens se envolvam ativamente nas atividades propostas e os professores tenham suporte à sua formação e reflexão sobre as práticas de ensino.

Bons estudos!

Saiba Mais

Assista ao vídeo Saúde mental e identidade na adolescência, publicado pelo canal TEDx Talks, com Catharina Morais e Maria Clara Nascente, que falam de maneira muito interessante sobre alguns problemas atuais, principalmente no âmbito da educação pública. 
Leia o artigo Aprendizagem na adolescência e práticas pedagógicas: as representações sociais de professores da Educação Básica, cujo objetivo foi identificar as representações sociais de professores da Educação Básica, de escolas públicas, sobre a aprendizagem escolar na fase da adolescência, sob a ótica das práticas pedagógicas realizadas por eles.

Referências Bibliográficas

ASSIS, D. C. M. de; MOREIRA, L. V. de C.; FORNASIER, R. C. Teoria bioecológica de Bronfenbrenner: a influência dos processos proximais no desenvolvimento social das crianças. Research, Society and Development, [S. l.], v. 10, n. 10, 2021.

BRANDÃO, A. L. Teorias do desenvolvimento e aprendizagem: possíveis implicações nas políticas de ensino de jovens e adultos. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, [S. l.], ano 3, ed. 8, v. 6, p. 5-28, 2018. Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/administracao/desenvolvimento-e-aprendizagem. Acesso em: 24 nov. 2023.

BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 24 nov. 2023.

BRASIL. BNCC. Projeto de vida ser ou existir? Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implementacao/praticas/caderno-de-praticas/aprofundamentos/200-projeto-de-vida-ser-ou-existir?highlight=WyJwcm9qZXRvIiwiZGUiLCJ2aWRhIiwicHJvamV0byBkZSIsInByb2pldG8gZGUgdmlkYSIsImRlIHZpZGEiXQ. Acesso em: 27 nov. 2023.

CAMPEIZ, A. F. et al. A escola na perspectiva de adolescentes da Geração Z. Revista Eletrônica de Enfermagem, Goiânia, v. 19, 2017. Disponível em: https://revistas.ufg.br/fen/article/view/45666. Acesso em: 20 mar. 2024.

DAUTRO, G.; LIMA, W. A teoria psicogenética de Wallon e sua aplicação na educação. In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 5., Campina Grande, 2018. Anais […]. Campina Grande: Realize, 2018. Disponível em: https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/46160. Acesso em: 20 mar. 2024.

GADOTTI, M. A questão da educação formal/não-formal. In: SION: INSTITUT INTERNATIONAL DES DROITS DE L’ENFANT (IDE). Droit à l’éducation: solution à tous les problèmes ou problème sans solution? Sion (Suíça), 2005. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5633199/mod_resource/content/1/eudca%C3%A7%C3%A3o%20n%C3%A3o%20formal_formal_Gadotti.pdf. Acesso em: 20 mar. 2024.

NASCIMENTO, I. P. As representações sociais do projeto de vida dos adolescentes: um estudo psicossocialPsicologia da Educação, São Paulo, n. 14-15, p. 265-283, 2002. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/psicoeduca/article/view/32034. Acesso em: 20 mar. 2024.

SAÚDE mental e identidade na adolescência: Catharina Morais & Maria Clara Nascentes. [S. l.: s. n.], 2021. 1 vídeo (14 min). Publicado pelo canal TEDx Talks. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xEkAMvv8uUY. Acesso em: 20 mar. 2024.

VIEIRA, V. M. de O. et al. Aprendizagem na adolescência e práticas pedagógicas: as representações sociais de professores da educação básica. Cadernos da FUCAMP, Monte Carmelo, v. 18, n. 33, 2019. Disponível em: https://revistas.fucamp.edu.br/index.php/cadernos/article/view/1705. Acesso em: 20 mar. 2024.

Aula 3

Identidade, Pais e Amigos

Identidade, pais e amigos

Olá, estudante!

Você já se perguntou “quem eu sou”? Provavelmente, sim. Na fase adulta, ainda podemos passar por períodos de questionamentos sobre quem somos, mas é na adolescência que começamos a desenhar os contornos de nossa identidade. Nesta aula, conversaremos sobre amizades, famílias, grupos sociais e constituição da identidade. Trata-se de aspectos essenciais na vida de qualquer adolescente e jovem, bem como um conhecimento indispensável para pais, professores e educadores que atuam com esse público. Vamos lá?

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Bons estudos!  

Ponto de Partida

Nesta aula, conversaremos um pouco mais sobre um importante aspecto da formação de todos nós: a construção de nossa identidade e o impacto dos pares e grupos sociais nessa formação. Para aprofundarmos nossa discussão, imagine a seguinte situação: uma professora recém-formada começou a dar aulas recentemente em uma escola pública do bairro onde mora, para adolescentes e jovens do Ensino Médio, e observou que eles vêm enfrentando desafios na construção de suas identidades. Alguns expressam dificuldades em lidar com as expectativas sociais e familiares, enquanto outros parecem influenciados por padrões de mídia pouco realistas. Essas questões têm sido frequentes nas rodas de conversas desses adolescentes.

Diante desse cenário, como essa professora poderia propor um ambiente em sala de aula que incentive conversas sobre identidade, de modo que os adolescentes se sintam confortáveis para compartilhar experiências e desafios? Como ela poderia integrar temas relacionados à diversidade e construção da identidade de forma orgânica à abordagem pedagógica, visando não apenas transmitir conhecimento, mas também promover um entendimento mais amplo? Essas questões são importantes para refletirmos sobre o papel da educação, mas também sobre o de outros agentes sociais na criação de um ambiente de aprendizagem inclusivo, onde a construção da identidade na adolescência seja abordada de maneira sensível, respeitosa e educativa.

Nossa jornada de descobertas continua longe de ter um ponto-final. Temos muitas páginas em branco para preencher, muitas ideias para explorar.

Bons estudos!

Vamos Começar!

A construção da identidade durante a adolescência

A palavra “identidade” tem origem no latim, formada a partir do adjetivo “idem” (com o significado de “o mesmo”) e do sufixo “-dade” (indicador de um estado ou uma qualidade). A identidade refere-se às características que atribuímos ao sujeito em sua individualidade e coletividade. Lepre (2003) explica que a formação da identidade é um processo social que ocorre ao longo de toda a vida. Desde o nascimento, os indivíduos iniciam uma extensa e duradoura interação com o ambiente. Por meio dessa interação, não apenas constroem sua identidade, mas também desenvolvem inteligência, emoções, medos, personalidade, entre outros aspectos. Rangel, Torman e Focesi (2012) afirmam que o desenvolvimento psicológico da identidade é contínuo, portanto a construção e a reconstrução são constantes. Nesse processo, o indivíduo se define, escolhe valores, ideais, sonhos… Em resumo, determina o que realmente deseja ser.

Assim, pode-se inferir que o adolescente está em um período de experimentar um novo espaço no mundo, no qual se deparará com outros grupos. Portanto, a construção da identidade é pessoal, mas também social, acontecendo de forma interativa, mediante trocas entre o indivíduo e o meio em que está inserido.

Para compreendermos melhor essa construção da identidade, podemos nos apoiar na Teoria do Desenvolvimento Psicossocial, proposta pelo psicólogo alemão-americano Erik Erikson (1902-1994). Para ele, o amadurecimento psicológico decorria de estágios e fases vividas pelo sujeito ao longo do tempo. Nesse processo, poderiam surgir crises que fariam a personalidade do sujeito se reformular de maneira positiva ou não, a depender das experiências. O Quadro 1 mostra tais estágios e suas respectivas características.

Estágio psicossociais

Características

Confiança vs. Desconfiança

0-2 anos: a criança adquire segurança sobre si e o mundo à sua volta por meio da relação com os pais.

Autonomia vs. Dúvida

2-3 anos: contradição entre suas vontades e as regras sociais. Senso de autonomia. Desenvolvimento da linguagem.

Iniciativa vs. Culpa

3-5 anos: a partir da confiança e da autonomia adquirida, a criança passa à iniciativa. Brincadeiras e interações sociais.

Diligência vs. Inferioridade

5-11 anos: percebe-se como pessoa trabalhadora, pode ter descrenças quanto às suas capacidades. Sentimento de orgulho por suas realizações. Ordem e formas são importantes.

Identidade vs. Confusão

12-18 anos: segurança por meio da identidade, preocupação com seu papel social.

Intimidade vs. Isolamento

18-40 anos: exploração de relacionamentos pessoais.

Generatividade vs. Estagnação

40-60 anos – afirmação pessoal, no mundo do trabalho e da família.

Integridade x Desespero

A partir dos 60 anos: balanço sobre o que fez na vida.

Quadro 1 | Estágios do desenvolvimento psicossocial segundo Erik Erikson. Fonte: adaptado de Santos (2023, [s. p.]).

 

Por volta dos 12 anos, o sujeito passa por uma fase de identidade e confusão, gerando crises, dado que precisa de segurança diante de todas as transformações pelas quais está passando. A busca por entender “quem eu sou” afeta a vida, pois ele sente uma necessidade de se encaixar em algum grupo social. Conforme os estudos de Rabello e Passos (2008), a busca do adolescente por um papel social provoca uma confusão de identidade, pois a preocupação com a opinião dos outros leva a mudanças constantes de atitude. Assim, sua personalidade é frequentemente remodelada em um curto período, acompanhando o ritmo das transformações físicas que ocorrem nessa fase.

No âmbito dos estudos sociológicos, o papel social refere-se a responsabilidades atribuídas aos indivíduos ou grupos em diferentes contextos. Se pensarmos em termos práticos, cada ambiente constrói padrões comportamentais específicos, definindo normas, direitos e deveres. Por exemplo, espera-se que um professor seja ético e responsável e conduza o processo de ensino-aprendizagem de modo eficaz; esse é um aspecto profissional definido e aceito socialmente.

O grupo social, por sua vez, nasce da interação estabelecida entre os sujeitos a partir do sentimento de identidade, compartilhando interesses, histórias, valores, tradições ou costumes. Ao longo da vida, podemos participar de diferentes grupos, dependendo dos ambientes sociais pelos quais passamos. Essas experiências e relações estabelecidas são fundamentais e marcam o processo de desenvolvimento da identidade do adolescente. No caso da escola, compreender como os adolescentes se percebem, identificam o outro e constroem seus grupos é fundamental para iniciarmos a discussão sobre construção da identidade, valorização e reconhecimento das diferenças culturais e sociais.

Siga em Frente...

A família, os pais e o papel do diálogo

Conforme os estudos de Barreto e Rabelo (2015), podemos compreender a família como uma instituição social que se organiza conectando os seres humanos por meio de nascimento, casamento e filiação. Essa estrutura se molda de acordo com os costumes, as configurações políticas do Estado e a cultura da época em que está inserida. A família tem um papel fundamental na formação dos sujeitos e do repertório dos adolescentes, por ser um pequeno grupo social em que estão estabelecidas formas de relação, compromisso, afeto e partilha entre seus membros.

Muitos pais podem se sentir inseguros ou não conseguir lidar bem com as abruptas e rápidas mudanças na vida dos filhos adolescentes, especialmente no que se refere ao modo de pensar e ver o mundo. O pensamento do adolescente passa por importantes e significativas transformações, tornando-se mais propício a perceber a realidade e refletir de maneira abstrata. A necessidade de explorar, conhecer e transformar o mundo torna-se imperativa. Consequentemente, a busca de identidade, papel social e compreensão de si causa muitas vezes um afastamento dos pais e uma supervalorização das amizades, pessoas que nesse estágio compartilham das mesmas angústias.

Vários questionamentos surgem nesse período e podem interferir no processo de formação da identidade e do comportamento dos adolescentes e jovens. Por exemplo, a preocupação com o trabalho e como conciliar sua vida pessoal com a profissional. Nesse sentido, os pais e a escola, em regime de parceria, devem apresentar possibilidades de escolhas. O mesmo diálogo deve ser existir em casos envolvendo questões de identidade de gênero; embora se trate de um assunto delicado, não deve ser negligenciado. A identidade de gênero reflete a experiência interna e individual de como a pessoa se vê e se identifica no mundo; ou seja, está ligada a uma construção social, autoimagem e percepção que o sujeito tem de si. 

Outro aspecto importante ao qual a escola e os pais devem estar abertos é a questão da educação sexual, dado que nesse período a sexualidade também ganha destaque para os adolescentes. Delboni (2023) lembra que a educação sexual se relaciona com a convivência e a ética, ao ressaltar o cuidado consigo mesmo e com o outro, considerando as várias dimensões e expressões da sexualidade.

Ainda que seja um tema bastante explorado de diferentes maneiras e que cada família promova esclarecimentos e conversas em casa, há ainda dúvidas, delicadezas e constrangimentos entre adolescentes, que buscam na escola um espaço de interlocução para tratar do assunto tanto na esfera do conhecimento científico, como da reflexão. (Delboni, 2023, p. 22)

Além desses aspectos, é necessário um diálogo sobre questões envolvendo violência de diferentes ordens, como bullying, violência sexual e automutilação, que também fazem parte da realidade de muitos adolescentes. Vários estudos na atualidade têm demostrado que adolescentes e jovens têm vivenciado e passado por situações de sofrimento emocional e, muitas vezes, não sabem como lidar com isso.

É importante destacar que o diálogo enfatizado aqui se refere a uma conversa entre duas ou mais pessoas, na qual todos os envolvidos expressam ideias ou sentimentos de modo alternado. Trata-se de um princípio fundamental no estabelecimento das relações humanas. Nesse sentido, dialogar sobre medos, desafios, perspectivas e projetos de vida com os adolescentes é fundamental para auxiliar em seu processo de desenvolvimento.

Em síntese, podemos destacar que as famílias na atualidade possuem um papel fundamental no diálogo com os adolescentes. Isso também se estende à escola, como um campo importante de mediação dos saberes acumulados historicamente com a realidade vivenciada pelos estudantes, de modo a tornar a aprendizagem mais significativa e colaborar para a criação de redes de apoio para os adolescentes.

A rede social é entendida como um conjunto complexo de relações entre membros de uma família ou de um sistema social como a escola, instituições de saúde e de assistência social, dentre outras, é uma ferramenta importante para o desenvolvimento e a proteção da saúde do adolescente e da população em geral. A ideia de rede expressa a articulação intencional de pessoas e grupos humanos, sobretudo como uma estratégia organizativa que ajuda os atores e agentes sociais a potencializar suas iniciativas para promover o desenvolvimento pessoal e social de crianças, adolescentes e famílias nas políticas sociais públicas. (Costa et al., 2015, p. 741) 

Por ser um dos primeiros grupos sociais em que os adolescentes se inserem, a família é percebida como o principal pilar de suporte e orientação. Porém, redes secundárias e intermediárias de educadores, profissionais da saúde e grupos de amigos beneficiam a saúde dos adolescentes. Isso os auxilia a enfrentarem os inúmeros desafios decorrentes das mudanças físicas, mentais e sociais desse período da vida.

 

Os grupos sociais, a comunidade e os amigos

Pense nos amigos que você fez na adolescência. Como eram? Qual era a importância deles para você? No dicionário, o termo “amizade” é descrito como “sentimento de grande afeição”, “simpatia” ou “apreço entre pessoas”. Nesse aspecto, a amizade faz parte do modo como nos relacionamos e criamos laços com outros ao longo da vida. Na adolescência, as amizades desempenham um papel fundamental, pois apresentam possibilidades de formação de laços para além do grupo social da família.

Os grupos sociais são essenciais para o desenvolvimento da vida humana, sendo fruto das relações em que compartilhamos interesses e objetivos comuns. No decorrer dos anos, participamos de diferentes grupos sociais com contato direto e próximo, como família, amigos e vizinhos; contato mais formal, como instituições que frequentamos; e grupos mistos, como a escola, onde convivemos com um número variado de pessoas e estabelecemos relações mais ou menos duradoras.

Nos espaços escolares, por exemplo, podemos ver o surgimento das chamadas “tribos urbanas”, pequenos grupos que compartilham interesses em comum, como gostos musicais e estéticos. Um exemplo de tribo urbana famosa foi o movimento dos chamados hippies no final da década de 1960, que propunha um modo de vida mais coletivo e pacificador.

Freitas et al. (2018) ressaltam que, durante a adolescência, as amizades adquirem uma relevância especial. A ênfase social muda da aceitação pelo grupo familiar para uma crescente necessidade de intimidade interpessoal, caracterizada por proximidade, empatia, amor e segurança, sendo fundamentalmente suprida pelos amigos. Essas relações de amizades são fundamentais para o desenvolvimento psicoemocional e a saúde dos adolescentes. Todavia, não é só a quantidade de amizades que importa; a qualidade dessas relações faz toda a diferença. Amizades pobres, caracterizadas por baixa proximidade, falta de intimidade ou suporte, podem desencadear sofrimento psíquico e solidão, além de interações negativas, podendo conduzir a uma maior vulnerabilidade e a dificuldades intrapessoais.

Em suma, o desenvolvimento dos adolescentes em aspectos cognitivos tem ligação direta com suas experiências individuais e sociais. As amizades são importantes para estabelecer relacionamentos, além de fornecerem suporte para a construção da rede de apoio dos adolescentes e a noção de pertencimento.

Vamos Exercitar?

Com base no que vimos até aqui, existem algumas possibilidades para abordar o caso identificado pela professora que apresentamos na situação-problema descrita no início da aula. Partindo de um olhar humanizado e sensível à realidade dos estudantes, podem ser desenvolvidos projetos educacionais que abordem o respeito, a pluralidade cultural e a diversidade.

Além disso, pode-se adotar uma comunicação mais empática, aberta às discussões sobre expectativas e pressões, promovendo um ambiente de apoio e aceitação. As mídias e redes sociais, além de outras tecnologias, não devem ser deixadas de lado, pois influenciam na percepção dos adolescentes de si mesmos e dos outros. Desse modo, introduzir a educação midiática, promovendo a análise crítica de imagens e mensagens nas diferentes mídias, e organizar atividades que destaquem a importância da autenticidade e da aceitação do próprio eu são caminhos para auxiliar os adolescentes no desenvolvimento de relações mais saudáveis no ambiente escolar.

Práticas de autorreflexão — como diários ou atividades de escrita, de exploração de sentimentos e identificação de metas pessoais — são fundamentais nesse período da vida, assim como envolver as famílias nesse processo de acompanhamento e participação do desenvolvimento dos estudantes.

Encorajamos todos a continuarem nessa jornada, pois cada passo contribui para um ambiente escolar mais inclusivo e enriquecedor. O aprendizado é uma jornada constante, e a busca de compreensão e aceitação é um caminho que vale a pena percorrer!

Até a próxima aula!

Saiba Mais

Leia a parte 3 (As relações sociais no universo do adolescente) do livro Desafios da adolescência na contemporaneidade: uma conversa com pais e educadores, disponível na Biblioteca Virtual. O texto aborda questões como consumo de álcool, gravidez, cyberbullying e música durante a adolescência. 
Assista ao filme Pro dia nascer feliz, que retrata as angústias e inquietações dos adolescentes brasileiros, e, em especial, a maneira como se relacionam com um ambiente fundamental em sua formação: a escola.

Referências Bibliográficas

BARRETO, M. J.; RABELO, A. A. A família e o papel desafiador dos pais de adolescentes na contemporaneidade. Pensando Famílias, [S. l.], v. 19, n. 2, p. 34-42, 2015. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/penf/v19n2/v19n2a04.pdf. Acesso em: 20 mar. 2024.

COSTA, R. F. da et al. Redes de apoio ao adolescente no contexto do cuidado à saúde: interface entre saúde, família e educação. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 49, n. 5, p. 741-747, 2015. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reeusp/a/NDnrtphtz37dvMJ6DgMdZXQ/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 20 mar. 2024.

DELBONI, C. Desafios da adolescência na contemporaneidade: uma conversa com pais e educadores. São Paulo: Summus, 2023. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br. Acesso em: 27 nov. 2023.

FREITAS, M. da C. N. de et al. Qualidade da amizade na adolescência e ajustamento social no grupo de pares. Análise Psicológica, Lisboa, v. 36, n. 2, p. 219-234, 2018. Disponível em: https://repositorio.ispa.pt/handle/10400.12/6460. Acesso em: 20 mar. 2024.

LEPRE, R. M. Adolescência e construção da identidade. 2003. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Rita-Lepre/publication/237343201_ADOLESCENCIA_E_CONSTRUCAO_DA_IDENTIDADE/links/573c9f6c08aea45ee84197bc/ADOLESCENCIA-E-CONSTRUCAO-DA-IDENTIDADE.pdf. Acesso em: 24 jan. 2024.

PRO DIA nascer feliz. Produção de Flávio R. Tambellini e João Jardim. Rio de Janeiro: Tambellini Filmes, 2006. (88 min), son., color.

RABELLO, E.; PASSOS, J. S. Erikson e a teoria psicossocial do desenvolvimento. 2008. Disponível em: https://josesilveira.com/wp-content/uploads/2018/07/Erikson-e-a-teoria-psicossocial-do-desenvolvimento.pdf. Acesso em: 24 jan. 2024.

RANGEL, A. P.; TORMAN, R.; FOCESI, L. V. Adolescência: construindo uma identidade. Revista Prâksis, Novo Hamburgo, v. 1, p. 39-44, 2012. Disponível em: https://periodicos.feevale.br/seer/index.php/revistapraksis/article/view/723. Acesso em: 20 mar. 2024.

SANTOS, J. V. Estágios do desenvolvimento psicossocial de Erikson. PsyMeet, 22 maio 2023. Disponível em: https://www.psymeetsocial.com/blog/artigos/estagios-de-desenvolvimento-psicossocial-de-erikson. Acesso em: 22 dez. 2023. 

Aula 4

As Contribuições da Neurociência para Adolescência

As contribuições da neurociência para a adolescência

Olá, estudante!

Estamos chegamos à fase final da primeira unidade. Já discutimos conceitos de adolescência, juventude, legislação, políticas públicas, teorias de desenvolvimento humano e cognitivo, relações sociais e identidade dos adolescentes. Agora, vamos nos aprofundar um pouco mais nos aspectos biológicos e nas contribuições da neurociência para a compreensão do funcionamento do cérebro humano. Trata-se de uma temática atual e muito importante para o desenvolvimento profissional. Prepare-se para essa jornada de conhecimento!

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Bons estudos! 

Ponto de Partida

Para abordamos as temáticas propostas nesta aula, reflita sobre a seguinte situação: em uma escola, um grupo de adolescentes vem enfrentando desafios relacionados à puberdade. Alguns estudantes parecem desconfortáveis e inseguros com as mudanças corporais, criando uma atmosfera de constrangimento e falta de comunicação. Na reunião pedagógica, surgem questionamentos: como abordar as questões relacionadas à puberdade em um ambiente escolar? Como promover um ambiente educacional que apoie e não estigmatize as experiências da puberdade, incentivando a comunicação aberta entre alunos e educadores?

Essas perguntas são desafiadoras, mas significativas para nos ajudar a pensar em termos biológicos e científicos sobre o que é a puberdade e como ela afeta os comportamentos dos sujeitos. Contudo, ressaltamos que os comportamentos dos adolescentes devem ser analisados levando-se em consideração os aspectos sociais também.

Bons estudos!

Vamos Começar!

As especificidades da puberdade e as mudanças biológicas

A puberdade é uma fase de grandes mudanças no corpo, principalmente no que se refere à maturidade sexual. Nas meninas, pode começar entre 8 e 13 anos, com o desenvolvimento de broto mamário (mamas), pelos na região genital e, mais tarde, a primeira menstruação, exceto em casos especiais. Já nos meninos, a puberdade inicia-se geralmente entre 9 e 14 anos, evidenciada por aumento dos testículos e crescimento do pênis. A voz fica mais grave, surgem pelos nas axilas e barba. Essas mudanças são normais e esperadas durante o desenvolvimento biológico e fisiológico de todos nós. No entanto, é crucial procurar ajuda médica se houver anormalidades ou desconfortos. Além disso, é importante destacar que a puberdade é vivenciada e sentida de maneiras diferentes por cada pessoa.

Partindo dessas considerações, podemos pensar: como essas mudanças ocorrem? A resposta é que não acontecem de repente. Esse processo é preparado no cérebro e em nosso organismo, desencadeando gradualmente uma série de mudanças químicas, físicas e hormonais que acarretam a maturação sexual e o desenvolvimento da sexualidade.

É importante diferenciarmos sexualidade e maturação sexual. A sexualidade é um fenômeno da existência humana que faz parte de nossa relação com o meio social (Zanotto; Crisostimo, 2010). Em termos gerais, podemos dizer que a sexualidade envolve identidade, atração e comportamentos, enquanto a maturação sexual refere-se às mudanças físicas e biológicas, como o desenvolvimento dos órgãos sexuais na puberdade. Obviamente, esses dois aspectos estão em mútua atuação, principalmente na adolescência.

Dada a abrangência dessas duas esferas no desenvolvimento humano, torna-se frequentemente um tema desafiador de abordar, permeado por dúvidas, preconceitos, estereótipos e tabus. Por isso, os questionamentos dos professores da situação-problema apresentada no início da aula são pertinentes se a ideia é romper com certos estigmas. Quando falamos em processo biológico, entendemos a puberdade como mais uma etapa de desenvolvimento na adolescência, que traz significativas mudanças, a começar por transformações hormonais. Os hormônios são substâncias químicas mensageiras produzidas por glândulas especializadas; cada hormônio tem funções específicas, que vão desde a maturação sexual até regulação do crescimento.

Zanotto e Crisostimo (2010) explicam que, perto da puberdade, a área do cérebro denominada hipotálamo envia uma mensagem para uma glândula chamada pituitária ou hipófise, que passa a produzir dois hormônios específicos: hormônio luteotrófico (LH) e hormônio folículo-estimulante (FSH). Após caírem na corrente sanguínea, esses dois hormônios seguem até os ovários das meninas ou os testículos dos meninos a fim de iniciar os processos necessários para preparar os indivíduos biologicamente para a reprodução humana. Além desses hormônios, podemos destacar a produção maior de estrogênio (hormônio sexual feminino) e testosterona (hormônio sexual masculino).

Em suma, muitas mudanças ocorrem no período da adolescência — antes, durante e pós-puberdade. Pelo fato de o corpo se reestruturar de diferentes formas para a vida adulta, as alterações internas e externas podem afetar os comportamentos e os modos como esses sujeitos respondem às situações experienciadas em seu cotidiano. Então, o primeiro ponto a ser considerado é a compreensão desses processos intensos de transformação.

Siga em Frente...

Processo de amadurecimento neuronal

A educação no processo formal de ensino gera novos conhecimentos e comportamentos nos aprendentes. A aquisição de competências para resolver diversos problemas e realizar tarefas, por meio de atitudes, habilidades e conhecimentos aprendidos, caracteriza a aprendizagem. Em síntese, ao adquirir novas informações a partir daquilo que já temos internalizado em nossas estruturas mentais, podemos gerar novos comportamentos, transformando nossa prática, a atuação social e o mundo ao nosso redor.

As atividades ligadas ao comportamento e à aprendizagem têm origem nas funções cerebrais, especificamente no funcionamento do sistema nervoso, que engloba sensações, percepções, ações motoras, emoções, pensamentos, ideias e decisões. O sistema nervoso é um dos sistemas mais importantes, visto que é responsável por coordenar todas as ações, voluntárias ou não, em nosso organismo.

Por meio do avanço das pesquisas da neurociência, hoje sabemos que o cérebro é o órgão central da aprendizagem, mas nem sempre foi assim (Cosenza; Guerra, 2011). Anteriormente, embora os educadores percebessem dificuldades de aprendizagem levantando a hipótese de problemas neurobiológicos, não havia clareza de que o processo de aprendizagem é mediado por estruturas cerebrais com propriedades e funções específicas.

Mas o que é neurociência? Trata-se de um campo da ciência que estuda os neurônios e suas moléculas, constituições e funções dentro do sistema nervoso, bem como aspectos ligados às funções cognitivas. O cérebro do adolescente, por exemplo, passa por uma complexa e profunda reorganização química e física, que altera a quantidade de neurotransmissores (substâncias químicas produzidas pelos neurônios) e afeta as respostas aos estímulos e às experiências.

O cérebro adolescente passa por uma enorme reestruturação, impactando a capacidade de troca de sinais entre suas células nervosas, além de outras áreas específicas, como o córtex pré-frontal e a amígdala. O córtex-pré-frontal, por exemplo, é responsável pelas funções executivas, habilidades mentais mais complexas que incluem a memória de trabalho, o pensamento flexível e o autocontrole. Usamos essas habilidades todos os dias para aprender, trabalhar e gerenciar a vida. Atualmente, por meio dos estudos acerca do cérebro, sabe-se que o córtex-pré-frontal é a última parte a concluir sua formação; ou seja, não está completa e amadurecida totalmente até a pessoa ter 25 anos de idade.

Assim, apesar de adolescentes terem a capacidade de tomar decisões, em termos de neurodesenvolvimento continuam em processo de amadurecimento e aprimoramento das habilidades mais complexas do cérebro. Por isso, o diálogo e o estudo dessas mudanças são importantes para favorecer um olhar mais compreensivo, e não apenas da adolescência como “mais uma crise” ou “problema”.

A Figura 1 mostra as principais partes do cérebro humano (lobos) e suas respectivas atividades e responsabilidades no nível cognitivo. Vale ressaltar que, apesar de suas funções específicas, todas as áreas estão em contínuo diálogo e interação durante o processo de aprendizagem, e esse processo de aprendizagem só se efetiva por meio da relação do sujeito com seu contexto social.

Lobo parietal Leitura, orientação corporal e compreensão da linguagem.  Lobo occipital Visão.  Cerebelo Coordenação, atenção e equilíbrio.  Tronco encefálico Frequência cardíaca, respiração e temperatura.  Lobo temporal Memórias, audição, comportamento e emoções.  Lobo frontal Pensamento, fala, raciocínio, resolução de problemas e funções executivas.
Figura 1 | Funcionalidades dos lobos. Fonte: elaborado pela autora.

Ao entendermos mais sobre a neurociência e a importância do cérebro para o processo de ensino e aprendizagem, podemos repensar nossas práticas. Esse conhecimento contribui para fundamentar abordagens e recursos mais eficazes para a aprendizagem, considerando diferentes recursos e estímulos, bem como melhor compreensão do funcionamento da memória e da atenção, aspectos basilares para o processo de internalização e assimilação de informações.

 

Regulação das emoções e busca de estímulos

Além das mudanças físicas e neuronais, existem alterações no nível emocional durante o período da adolescência. Para compreendermos o papel das emoções no corpo e nas relações, é importante diferenciar os conceitos de emoção e sentimento. Segundo António Damásio (2013), a emoção consiste em respostas motoras do cérebro em reação a eventos variados, incluindo aceleração/desaceleração do coração e tensão/relaxamento muscular. Cada emoção possui um programa específico, como medo ou raiva. O sentimento, por sua vez, é a interpretação mental desses movimentos; ou seja, trata-se da avaliação, da sensação e da percepção das emoções.

A adolescência é um novo “redescobrir”. A busca constante de novos estímulos para gerar prazer e satisfação imediata, muitas vezes, leva jovens e adolescentes a situações arriscadas. Baixos níveis de serotonina e dopamina — neurotransmissores responsáveis por gerar a sensação de bem-estar — podem acarretar um misto de emoções e sentimentos.

Emoções como medo, tristeza, alegria, raiva e nojo são importantes para nosso corpo e podem influenciar o modo como reagimos ao mundo. Então, as mudanças nas relações e a busca de identidade podem gerar um misto de emoções simultâneas que dificultam, para os adolescentes, as tarefas de compreender seus sentimentos e regular suas emoções. Além disso, ocorre uma forte alteração na produção de alguns hormônios para regular o crescimento e as funções sexuais: androgênios, estrogênios e progesterona. Essas substâncias são importantes no cérebro e, além de provocarem mudanças físicas, afetam o humor e suas respostas emocionais, principalmente no que envolve a autoestima e o nível de estresse.

Macedo e Sperb (2013) explicam que a regulação emocional consiste em processos que envolvem comportamentos, habilidades e estratégias, conscientes ou inconscientes, automáticas ou controladas por esforço. Tais ações têm o propósito de modular, inibir ou estimular a experiência e a expressão emocional do sujeito. Essa capacidade de regular as emoções exige determinados níveis de desenvolvimento, o que pode ser difícil na adolescência, visto que o cérebro continua se desenvolvendo e algumas partes não estão plenamente amadurecidas.

Entender a situação e as respostas emocionais emitidas diante das experiências, sejam positivas ou negativas, é um processo desafiador para os adolescentes, mas plenamente possível por meio da mediação adequada com pares, escola e familiares. Cabe ressaltar que experiências desagradáveis, como as que causam tristeza e raiva, também desempenham um papel crucial no desenvolvimento emocional dos sujeitos. É importante lembrarmos que a capacidade de lidar com as emoções é fortalecida por oportunidades positivas, negativas e contínuas de discussão, especialmente nos contextos familiar e educacional.

Retomando a situação-problema apresentada no início desta aula, para um trabalho mais efetivo, pais e educadores devem atuar em parceria de modo a fortalecer habilidades de comunicação, autorregulação das emoções, vocabulário emocional, pensamento crítico sobre situações de risco, gerenciamento de estresse e, principalmente, prestar atenção nos “sinais de avisos”, como ansiedade, depressão, aumento de estresse e irritabilidade, raiva, mudanças de hábitos e sentimento excessivo de solidão.

Em síntese, as mudanças neurobiológicas vividas na fase da adolescência fazem parte do desenvolvimento do sujeito e da preparação para sua vida adulta. Essas mudanças se dão tanto nos aspectos físicos e comportamentais quanto nos neuronais, que impactam significativamente o modo como os sujeitos lidam com seu contexto e as novas demandas e necessidades. Nesse cenário, cabe aos professores buscarem conhecimentos constantes sobre a temática e estarem atentos às demandas apresentadas pelos estudantes, tratando esses temas de maneira respeitável e cuidadosa. 

Vamos Exercitar?

Com base no que vimos nesta aula, podemos pensar um pouco mais sobre a situação-problema apresentada inicialmente. Para abordar de modo eficaz as questões ligadas à puberdade em um ambiente escolar, é essencial integrar descobertas científicas de diferentes áreas, como neurociência e pedagogia, e estabelecer uma relação de parceria com pais e até mesmo com a comunidade. No contexto escolar, podemos pensar em projetos educacionais que expliquem as mudanças físicas e emocionais de maneira acessível, para promover compreensão e aceitação, e no trabalho interdisciplinar.

Para criarem um ambiente que apoie as experiências da puberdade e incentive a comunicação aberta e consciente, os educadores devem organizar espaços seguros e inclusivos. Discussões em sala de aula, palestras e grupos de estudo podem facilitar essa proposta. A empatia dos educadores e familiares é fundamental para evitar a estigmatização, contribuindo para um ambiente educacional saudável.

Por meio das temáticas tratadas aqui, desde os conceitos de adolescência e juventudes até as mudanças biológicas, sociais e cognitivas que envolvem essa etapa do desenvolvimento humano, convidamos cada um de vocês a continuar aprofundando-se nessa temática vital. A adolescência é um campo dinâmico e desafiador, por isso esse aprendizado é um ponto de partida para contribuições significativas em prol do entendimento e do apoio à juventude.

Bons estudos!

Saiba Mais

Leia a reportagem Modelo de escola atual parou no século 19, diz Viviane Senna, com a psicóloga Viviane Senna, sobre a defasagem da escola brasileira e alguns caminhos possíveis para avançarmos rumo a uma educação do século XXI.
Veja também o artigo Erik Erikson e a construção da identidade, que possibilita compreender como Erik Erikson aborda a identificação e as crises na adolescência, a centralidade do eu (ego) e a adolescência a partir de uma visão psicossocial.

Referências Bibliográficas

COSENZA, R. M.; GUERRA, L. B. Neurociência e educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011.

COSTAS, R. Modelo de escola atual parou no século 19, diz Viviane Senna. BBC News Brasil, São Paulo, 5 jun. 2015. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/06/150525_viviane_senna_ru. Acesso em: 29 nov. 2023.

DAMÁSIO, A. António Damásio: o homem está evoluindo para conciliar a emoção e a razão. Veja, jul. 2013. Disponível em: https://www.fronteiras.com/leia/exibir/antonio-damasio-o-homem-esta-evoluindo-para-conciliar-a-emocao-e-a-razao. Acesso em: 29 nov. 2023.

ERIK Erikson e a construção da identidade. Revista Educação, 8 maio 2017. Disponível em: https://revistaeducacao.com.br/2017/05/08/erik-erikson-e-construcao-da-identidade/. Acesso em: 29 nov. 2023.

MACEDO, L. S. R. de; SPERB, T. M. Regulação de emoções na pré-adolescência e influência da conversação familiar. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 29, n. 2, p. 133-140, 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ptp/a/mQ6HQxfWXD7CBWP68fQLZpL/. Acesso em: 20 mar. 2024.

ZANOTTO, L. S.; CRISOSTIMO, A. L. Sexualidade e mudanças que ocorrem na puberdade. O professor PDE e os desafios da escola pública paranaense, 2010. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2010/2010_unicentro_cien_artigo_lenir_salette_zanotto.pdf. Acesso em: 20 mar. 2024.

Encerramento da Unidade

Adolescência

Adolescência

Olá, estudante! 
Chegamos na etapa final desta unidade. Ao longo das aulas, estudamos as especificidades do desenvolvimento da adolescência e da juventude e seus aspectos psicossociais. Pudemos entender a adolescência como uma fase importante da vida, marcada pela transição da infância para a fase adulta, com aspectos biológicos (puberdade) e de construção histórica e social. Agora, vamos retomar alguns conceitos importantes e seguir adiante. Prepare-se para essa jornada de conhecimento. 

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Bons estudos! 

Ponto de Chegada

Vamos relembrar alguns conceitos fundamentais dos estudos realizados ao longo das aulas, pois é importante discutirmos o contexto e a dinâmica da adolescência e da juventude e sua relação com o espaço educativo, seus pares e o próprio desenvolvimento ao longo da história. Conforme os estudos de Ariés (1986), a infância e a criança nem sempre foram reconhecidas e consideradas pela sociedade em suas especificidades. Por meio desse historiador, podemos inferir que o sentimento da infância foi se desenvolvendo ao longo dos séculos, ao passo que as sociedades foram se industrializando, estabelecendo novas relações, e houve a redefinição da função e do papel da família na modernidade.

Os aspectos históricos e sociais que compõem a discussão sobre adolescência e juventudes são fundamentais, pois possibilitam uma visão mais ampla da formação dos sujeitos e da pluralidade que envolve esse processo. Afinal, os jovens e adolescentes podem perceber e vivenciar esse período de diferentes formas a depender dos estímulos e contextos.

Também vimos a diferença entre adolescência e juventude, algo importante para entender um pouco mais as mudanças que ocorrem durante a fase de desenvolvimento da adolescência. Nesse sentido, podemos recorrer a Moraes e Weinmann (2020), que destacam que a juventude pode ser compreendida com base em dois princípios fundamentais: o juvenil e o cotidiano. O termo “juvenil” refere-se ao desenvolvimento psicossocial da identidade, enquanto “cotidiano” diz respeito ao contexto de relações e práticas sociais em que esse processo acontece.

Apesar de terem especificidades, políticas e legislações próprias, a adolescência e a juventude se relacionam mutuamente e se complementam; em cada momento desse processo, o sujeito adquire novos repertórios para a fase adulta. Podemos dizer que compreender a adolescência passa pelos discursos culturais associados à juventude e as concepções de adolescência contribuem para a definição do que representa ser jovem.

Nesse cenário social, não podemos deixar de lado o papel das políticas públicas e da legislação voltadas para as especificidades de adolescentes e jovens. Conforme o Estatuto da Juventude e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), consideram-se adolescentes aqueles com idade entre 12 e 18 anos, e jovens aqueles entre 15 e 29 anos. Essa definição cronológica é importante para auxiliar no processo de elaboração de novas políticas.

Percebe-se que a adolescência e a juventude são fases relativamente longas do desenvolvimento dos sujeitos. O principal ponto que indica seu início é a puberdade. Ao longo das últimas décadas, pesquisadores têm discutido qual idade marcaria de fato o fim desse período, muito em decorrência das transformações sociais e comportamentais das últimas gerações. Isso inclui, por exemplo, a permanência na casa dos pais por um tempo maior, bem como a independência financeira e o matrimônio mais tardios.

Segundo Ávila (2011), muitos jovens estão enfrentando o que se chama de “síndrome da adolescência interminável”. Essa nova maneira de se configurarem como jovens apresenta várias ambiguidades, tornando desafiador compreender e apoiar esses indivíduos em seu desenvolvimento pessoal, interpessoal e como sujeitos históricos. Essa é uma característica importante de nosso momento histórico e deve ser pauta de novos estudos, diálogos e pesquisas para melhor compreender as necessidades de aprendizagem desses sujeitos do século XXI.

Isso também abarca as políticas públicas, enquanto conjunto de ações em diferentes esferas sociais por parte do Estado, para garantir o direito e a proteção de adolescentes e jovens, bem como programas específicos para suas necessidades e o direito à educação.

Ao conhecermos essas diferentes perspectivas sobre a adolescência e a juventude, podemos olhar de uma forma diferente para os espaços escolares e a atuação de professores, coordenadores e comunidade escolar. Para um trabalho efetivo com esses sujeitos, é necessário atentar para as questões que permeiam essa fase, como a busca de aceitação, as mudanças decorrentes do estirão de crescimento, o neurodesenvolvimento, a maturação sexual, o papel dos amigos e a confusão em relação às suas próprias emoções. Aqui, podemos destacar o papel da escola, indo além da transmissão de conhecimentos para oferecer uma formação integral dos indivíduos e promover o desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais e cidadãs essenciais.

Lembre-se que a adolescência e a juventude são períodos que marcam a passagem da vida dos sujeitos de diferentes formas a partir dos estímulos e contextos sociais. Trata-se de uma rica fase de desenvolvimento de personalidade, identidade, conquistas e aprimoramento de habilidades e competências que nos dão base para o restante de nossa trajetória.

É Hora de Praticar!

Vamos refletir juntos sobre a seguinte situação: em determinado colégio, pós-período de emergência sanitária da pandemia de covid-19, observou-se um aumento significativo nas queixas relacionadas a ansiedade, estresse e baixa autoestima dos estudantes adolescentes, na faixa etária entre 12 e 14 anos. Em alguns casos, houve retrocessos significativos em seus processos de aprendizagem e desempenho acadêmico; o bem-estar geral dos estudantes foi avaliado e percebido, por alunos e professores da escola, como impactado negativamente.

Reflita

Qual é a importância de compreendermos conceitualmente a adolescência e a juventude, bem como as mudanças que ocorrem nessa fase da vida? Como eu, enquanto professor, educador, pedagogo, diretor etc., posso usar desses conhecimentos para modificar minhas práticas e promover uma educação mais dialógica, acolhedora e humanizada? Quais são os desafios que ainda existem nas políticas públicas voltadas para os adolescentes e jovens, principalmente no contexto brasileiro?

 

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Resolução do estudo de caso

A situação descrita está presente em diferentes contextos escolares do Brasil, principalmente pós-pandemia, já que muitos alunos passaram um longo período fora da escola e tiveram uma piora em sua qualidade de saúde mental e emocional em virtude de inúmeros fatores. Para resolver esse caso, são indicados alguns passos.

1º passo: avaliar e identificar os fatores principais que geram essas queixas. Por exemplo, interações negativas entre colegas e dificuldade de socialização, problemas familiares ou metodologia usada em sala de aula.

2º passo: interpretar esses fatores para construir, com professores, familiares e comunidade escolar, ações visando à melhora da saúde mental e emocional dos estudantes. Por exemplo, programas extracurriculares que promovam a resiliência, a autoestima e habilidades de enfrentamento; contato com profissionais de saúde mental, como psicólogos escolares, para oferecer suporte individualizado aos alunos; identificação e intervenção nos fatores ambientais que contribuem para o estresse, promovendo um espaço mais saudável e acolhedor.

3º passo: implementar gradativamente as ações, envolvendo os estudantes, os professores e as famílias. Avaliar e reavaliar os resultados obtidos para traçar planos de ações de curto, médio e longo prazos.

Por meio deste estudo de caso, queremos destacar a importância de abordagens integradas, democráticas e coletivas para promover a saúde emocional de adolescentes na escola, visando não apenas lidar com a superficialidade dos sintomas, mas também desenvolver habilidades que os beneficiarão ao longo da vida toda. Esse objetivo pode ser alcançado por meio de uma cultura escolar que valorize a saúde mental dos adolescentes e dos professores, para enfrentar os desafios atuais e futuros

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Assimile

A figura a seguir reúne alguns dos principais tópicos estudados nesta unidade:

Adolescência e juventude  Construção Adolescência e juventude são conceitos, construções sociais e históricas que se referem à transição da infância para a vida adulta.  Políticas As legislações como ECA e Estatuto da Juventude consideram como adolescentes pessoas entre 12 e 18 anos de idade, e jovens como aquelas entre 15 e 29 anos.  Puberdade Relaciona-se com os processos de maturação sexual. É a fase em que o corpo passa por mudanças físicas e hormonais.  Tribos urbanas Grupos sociais que compartilham interesses, estilo de vida e identidade, os quais se expressam por meio de características visuais, comportamentais, musicais etc.  Amigos Fundamentais como apoio emocional e social. Referências para a construção das relações humanas, sobretudo na adolescência.  Juventudes Existem diferentes formas de ser e se perceber jovem em nossa sociedade. Por isso, consideremos juventudes no plural.  Desafios As mudanças rápidas e em várias áreas da vida trazem novos desafios para os adolescentes. Por isso, a compressão das mudanças, o diálogo e o acolhimento são fundamentais para passar por essa fase de forma mais saudável e positiva.  “Idade-problema”  Compreender as dinâmicas da adolescência e das juventudes permite romper com estereótipos e discursos que menosprezam ou desqualificam esses sujeitos. Adolescência é uma fase com desafios, mas também rica na construção de repertórios.
Figura 1 | Adolescência e Juventude: principais tópicos. Fonte: elaborada pela autora.

Referências

ARIÉS, P. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

ÁVILA, L. A. Adolescência sem fim. Vínculo, São Paulo, v. 8, n. 1, 2011. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/vinculo/v8n1/a07.pdf. Acesso em: 20 mar. 2024.

MORAES, B. R. de; WEINMANN, A. de O. Notas sobre a história da adolescência: transformações e repetições. Estilos da Clínica, [S. l.], v. 25, n. 2, p. 280-296, 2020. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/estic/article/view/160346. Acesso em: 20 mar. 2024.