Ciência e Pesquisa
Aula 1
Os Dilemas do Conhecimento na Atualidade
Os dilemas do conhecimento na atualidade
Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação profissional. Vamos assisti-la?
Ponto de Partida
Olá, estudante!
Há alguns anos, nem se podia imaginar que você conseguiria ter, em um só aparelho, suas músicas preferidas, câmera fotográfica, aplicativos que dão acesso a bancos e um telefone com acesso à internet. Graças à tecnologia, isso é possível. Será que você se lembra como era a vida antes do smartphone, do tablete e do Wi-Fi? O progresso da tecnologia sem dúvidas nos trouxe inúmeros avanços, facilidades e melhorias, mas precisamos olhar também pelo lado negativo. O desenvolvimento e a ampliação das mídias sociais, a facilidade de acesso e de compartilhamento de informações também proporcionou a desinformação e a disseminação de fake news (notícias falsas).
Para refletirmos sobre conhecimento, informação e desinformação, vamos pensar na seguinte situação: imagine-se como um pesquisador científico que foi convidado por um jornal de grande circulação para falar dos efeitos nocivos que as fakes news podem causar à sociedade como um todo. O jornal pede que você formule um roteiro com os principais meios para reconhecer a falsidade de uma notícia. Elenque cinco passos a serem seguidos pelos leitores que os auxiliarão nessa tarefa. Bons estudos!
Vamos Começar!
Você já deve ter ouvido falar em fake news. Elas são notícias fabricadas que propagam mentiras a respeito de um assunto em particular ou sobre uma pessoa, em geral, pública. Elas são extremamente danosas à sociedade e muitas vezes causam danos irreversíveis, como a queda brusca nas taxas de vacinação de uma população. Elas podem afetar também a vida financeira das pessoas, a integridade física e até mesmo o exercício da cidadania. As fakes news devem ser combatidas com informações contextualizadas e conhecimento de qualidade; nós sabemos que o conhecimento científico pode ser muito útil nessa tarefa. Para isso, precisamos começar compreendendo a diferença entre informação e conhecimento.
Informação versus conhecimento
Você já deve ter notado que muitas vezes tratamos dados como sinônimo de informação e informação como sinônimo de conhecimento, mas essas são associações equivocadas. Na atualidade, temos acesso a um grande volume de informação apenas com um clique, na maioria das vezes nas telas dos nossos smartfones. Antigamente, reis e rainhas eram privilegiados por possuírem uma, duas ou três centenas de livros. Ou, se olharmos para a Idade Média, o conhecimento em grande parte ficava restrito àqueles que faziam parte do clero (Aranha; Martins, 2003). Hoje em dia, qualquer pessoa pode ter facilmente essa quantidade de livros, principalmente em formatos digitais. Com tanta informação disponível, é comum nós assimilarmos inteligência com quantidade de informação, mas essa conexão pode ser bastante enganosa.
Tratar a informação e o conhecimento como sinônimos é uma crença bastante comum nos nossos tempos. Nós lidamos com dados, informações e conhecimento diariamente; todavia, muitas vezes os tomamos como sinônimos, quando cabe saber diferenciá-los. Essas questões são importantes para pensarmos posteriormente no desenvolvimento de pesquisas científicas, pois esses três elementos precisam ser trabalhados para a produção de pesquisas coerentes e consistentes, embasadas de fato no conhecimento científico.
Dados podem ser definidos como a matéria-prima da informação; eles representam significados que, isoladamente, não transmitem nenhuma mensagem ou conhecimento. Eles são as unidades a partir das quais as informações poderão ser elaboradas (Semidão, 2014). Em uma pesquisa de opinião sobre a qualidade de um produto, por exemplo, a coleta da opinião de cada pessoa só poderá produzir alguma informação significativa sobre a satisfação com o produto depois de ser tratada e agregada às demais. Os dados isolados não querem dizer nada, não transmitem informação nenhuma.
As informações, por sua vez, são os dados tratados. A informação é resultado do processamento dos dados coletados que interessam ao pesquisador. Ela é o dado inserido em um contexto, dotado de relevância e propósito (Semidão, 2014). Como ela possui significado, auxilia o processo de tomadas de decisão. No exemplo anterior, a informação expressaria os níveis de satisfação das pessoas entrevistadas com o produto, revelando se a imagem que elas possuem é positiva ou negativa. Frequentemente, utilizam-se ferramentas estatísticas como indicadores para tratar os dados e obter alguma informação que antes não poderia ser vista.
O conhecimento está além da informação, porque tem tanto significado como aplicação. O conhecimento envolve nossa faculdade de abstração, a qual é capaz de produzir novas ideias a partir das informações que temos em dado momento. O conhecimento exige que um sujeito seja capaz de processar as informações, identificando o que é importante nelas e as direcionando para algum fim. Nesse sentido, a informação é como se fosse a matéria-prima do conhecimento. O quadro a seguir sintetiza essas definições para que possamos compreender melhor:
DADOS | INFORMAÇÃO | CONHECIMENTO |
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Quadro 1 | Diferença entre dados, informação e conhecimento. Fonte: elaborado pela autora.
Siga em Frente...
As fake news e o dano real à sociedade
Nos dias de hoje, o termo fake news tem sido adotado como referência às notícias que divulgam informações falsas ou manipuladas e que têm dominado as mídias digitais em escala global. A ciência, embora preserve sua integridade pelo rigor na aplicação do método científico, não está imune de seus efeitos. As fake news também podem se perpetuar utilizando de bases supostamente científicas a fim de convencer o maior número de pessoas. Sua atuação pode ser vista tanto em reportagens sensacionalistas sobre assuntos científicos na mídia em geral, que podem ser mal-intencionadas, quanto por notícias falsas deliberadamente fabricadas.
As fake news podem provocar sequelas permanentes em pessoas e afetar um país inteiro, por exemplo, quando divulgam supostos efeitos negativos das vacinas. Esse assunto ganhou relevância com a pandemia da covid-19, quando notícias totalmente falsas e sem comprovação científica começaram a circular nas redes sociais e nos aplicativos de trocas de mensagens, desinformando a população. Algumas podem ser destacadas, como: “a vacina contra a covid-19 vai modificar o DNA dos seres humanos”, “a vacina contra a covid-19 tem chip líquido e inteligência artificial para controle populacional”, “imunizantes contra covid-19 estão relacionados à transmissão de HIV” “ou vacinas contra covid-19 criam campo magnético no corpo de quem é imunizado” (Lorenzetti; Verdum, 2021). Todas essas notícias foram desmentidas, você pode encontrar os fatos checados no site da Agência Da Hora (Lorenzetti; Verdum, 2021).
Quando lemos tais afirmações, elas soam como absurdas, mas muitas pessoas acreditaram nessas e em outras mentiras, o que fez com que elas deixassem de se vacinar contra a covid-19. Não somente isso, essa onda de desinformação levou também a uma queda expressiva na vacinação infantil do país. O Brasil, que já foi exemplo mundial de vacinação devido ao Sistema Único de Saúde (SUS), chegou no ano de 2022 ao menor índice de vacinação infantil dos últimos 30 anos. A queda generalizada se deu em vacinas contra a hepatite B, o tétano, a difteria, o sarampo, caxumba, rubéola e contra a paralisia infantil (Westin, 2022).
No ano de 2016, o Brasil recebeu da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) o certificado de território livre do sarampo. Entretanto, entre 2018 e 2021, os casos voltaram a ser registrados (cerca de 40 mil), com 40 mortes. Em 2019 o Brasil perdeu o certificado que havia recebido três anos antes. O sarampo é uma doença grave, não se trata apenas de pequenas manchas vermelhas que aparecem na pele; ele pode retardar o crescimento e reduzir a capacidade mental. Outro problema é a falta de investimento governamental para conscientização da população sobre a importância de se vacinar e de levar as crianças. De 2017 a 2021, o governo federal reduziu de R$ 97 milhões para R$ 33 milhões o valor investido na publicidade da vacinação (Westin, 2022).
A melhor forma de combater as fake news é pela informação, mas não basta afirmar a autoridade científica, é preciso contribuir no sentido de fazer as pessoas entenderem o porquê tais afirmações são falsas. É necessário levar o conhecimento básico científico até elas; além disso, é preciso incentivar o pensamento científico para que se desenvolva o pensamento crítico. Para isso, é preciso levar a ciência às pessoas de uma maneira acessível, de uma maneira que seja compreensível a todas as camadas da população. A ciência acessível permite que as pessoas conheçam as características dela e, então, percebam o porquê de ser um conhecimento confiável.
Uma das características do conhecimento científico é a falibilidade. Isso significa que todo discurso científico é passível de correção; evita-se, assim, qualquer tipo de dogmatismo, como a estagnação de uma hipótese científica e o culto à autoridade. A falibilidade permite que a ciência progrida com novos dados e evidências, fazendo também com que as teorias sejam cada vez mais (re)ajustadas à realidade. Com isso, produz-se um conhecimento diferenciado em comparação com os outros, mais profundo e verdadeiro.
A ciência também mantém um aspecto de questionabilidade ou ceticismo, que significa dúvida metodológica. Ela consiste na adoção do ceticismo científico, que é o princípio segundo o qual todas as hipóteses e teorias devem ser questionadas de forma metódica, responsável e cientificamente orientada. Isso significa que a ciência não adota um tipo de ceticismo conhecido como radical, o qual advoga por um questionamento absoluto, irresponsável, descontrolado de tudo; este tipo de ceticismo é dogmático. A questionabilidade promovida na ciência é a que submete alegações e hipóteses razoáveis à crítica de outros cientistas, promovendo um diálogo construtivo, sadio e útil para o desenvolvimento da ciência (Corrêa; David, 2020).
O ceticismo científico não deve ser confundido com o negacionismo da ciência, o qual é a posição que defende a rejeição completa ou parcial do conhecimento científico. O negacionismo da ciência está atrelado a posições ideológicas de seus praticantes, entrando em cena quando a ciência revela um fato em relação ao qual a pessoa está em desacordo por alguma razão política, religiosa ou cultural. Alguns exemplos de negacionismo da ciência incluem a negação de efetividade das vacinas, a rejeição da circunferência da Terra ou a depreciação das consequências das mudanças climáticas, por exemplo (Corrêa; David, 2020).
Outra característica a ser destacada é a acumulabilidade do conhecimento científico, que é o que justifica seu aspecto de progresso, justamente porque exemplos de experimentos malsucedidos são considerados, não apenas para refletir sobre os desafios metodológicos e epistemológicos da ciência, mas também para aumentar o rigor necessário para a realização das pesquisas. Por fim, a verificabilidade da ciência também é importante de ser destacada, que é a ideia segundo a qual um enunciado, uma hipótese ou uma teoria deve ser passível de ser colocada à prova, ser verificada.
É possível combater as fake news?
As características citadas anteriormente são importantes para que se possa pensar a confiabilidade do conhecimento e consequentemente combater as fake news que, em muitos momentos, têm o intuito de colocar em xeque as produções e os postulados científicos. Há alguns passos básicos para identificar se uma notícia é falsa. O primeiro deles é verificar a fonte da informação, o site em que está sendo divulgado e o autor do conteúdo. Todavia, muitos sites possuem nomes semelhantes a sites confiáveis, sendo necessário estar atento à autenticidade daquele endereço.
O segundo passo é verificar a estrutura do texto, pois as fake news frequentemente apresentam erros de português; eles mostram que o texto não foi revisado. Também apresentam um teor sensacionalista e muitas afirmações com explicações rasas e simplórias dos assuntos. O terceiro passo é verificar a data de publicação. Muitas vezes notícias antigas são divulgadas como sendo novas. Além disso, é necessário ir além do título e do subtítulo. Frequentemente, o conteúdo contradiz o que se está dizendo no título.
O quarto passo é checar as afirmações feitas em outros sites, utilizando mecanismos de pesquisa como Google, por exemplo. No entanto, lembre-se: nem sempre as primeiras respostas que aparecem nos mecanismos de busca são de fato confiáveis; então, é preciso ir além delas. Também é importante acessar artigos e revistas científicas de referência para uma determinada área, pois eles divulgam informações especializadas sobre o assunto em questão. Há ainda diversos blogs e sites que se preocupam em desmentir as notícias falsas que estão circulando na web, além de agências de checagem que fazem esse trabalho de monitoramento e correção.
Por fim, cabe frisar que, em se tratando de assuntos complexos, não existem respostas absolutas. É prudente sempre adotar uma postura questionadora, compatível com o pensamento científico, a fim de evitar consumir conteúdos de pessoas que se apresentam como “donos da verdade” e que pregam conspirações ou pseudociências. Além disso, o não compartilhamento dessas notícias, mesmo que para criticá-las, é importante, porque o compartilhamento em si traz engajamento ao conteúdo e, com frequência, ajuda a disseminá-las.
Vamos Exercitar?
Você se lembra da nossa situação inicial? Agora que já compreendemos a diferença entre informação e conhecimento, e o papel das mídias sociais na atualidade e como elas podem impulsionar a disseminação de fake news, é hora de elaborar um roteiro para o jornal que o contratou, com alguns passos que ajudem a reconhecer a falsidade de uma notícia:
- Ir além do título. Muitas vezes os títulos contradizem ou distorcem o conteúdo publicado.
- Verificar a fonte da informação. Existem sites confiáveis em que a notícia foi publicada?
- Verificar a gramática e estrutura lógica do texto. As notícias falsas frequentemente apresentam erros de português ou mesmo contradições.
- Verificar a data da publicação. Muitas vezes notícias antigas são republicadas a fim de modificarem alguma circunstância atual. É comum o uso delas durante as eleições.
- Verificar as informações por meio de pesquisas sobre o tema e em sites que fazem sistematicamente a verificação de notícias falsas, como agências de checagem de fatos.
Saiba Mais
- Com tamanha quantidade de informação e desinformação disponível no nosso cotidiano, você já se questionou de que maneira a ciência é afetada por essas questões? É certo que, se as ciências são meios de produção de verdade no mundo, seu objetivo não é produzir verdades indiscutíveis, mas conhecimentos de procedimentos certificados pelas instituições, com certeza, eficácia e objetividade. É fato também que existe uma crise em torno da ciência moderna: suas produções são negadas constantemente por informações que visam relativizar e enfraquecer as evidências científicas. Preocupados com isso, pesquisadores começaram a utilizar as redes sociais para levar a ciência de uma maneira descomplicada às pessoas. Leia o texto a seguir para se aprofundar no assunto: “Em reação a negacionismo, pesquisadores levam ‘ciência descomplicada’ às redes sociais”, no site da BBC Brasil.
- Nós já compreendemos a importância da realização de pesquisas para a construção do conhecimento e para a verificação das fontes utilizadas. A produção do conhecimento deve ser sempre subsidiada por pesquisas e verificações sistemáticas. Devemos proceder da mesma forma com as informações que recebemos no nosso cotidiano. Em 2022, o Brasil passou talvez pelo processo eleitoral presidencial mais disputado tanto no tocante aos presidenciáveis quanto às narrativas utilizadas. Para analistas e formuladores de políticas públicas, uma das maiores preocupações em relação às campanhas eleitorais foi relacionada à elaboração de estratégias para combater as fake news nas eleições.
Dentre as muitas mentiras divulgadas em torno das eleições, uma delas girou e ainda gira em torno do uso das urnas eletrônicas. O seu uso foi adotado a partir do ano de 1996 e baixou a taxa dos votos inválidos que chegava a 40% para cerca de 7%. É importante frisar também que até hoje não se identificou caso de fraude com o uso das urnas eletrônicas. Para se aprofundar nesse tema, ouça o episódio “Urna eletrônica: uma história de inclusão” do podcast “O Assunto”, publicado em agosto de 2022.
Referências Bibliográficas
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 3ª ed. São Paulo: Moderna, 2003.
CORRÊA, Mônica Ferreira; DAVID, Mariano Gazineu. As diversas faces da dúvida – ceticismo, negacionismo e confiança nas ciências. Em Construção: arquivos de epistemologia histórica e estudos de ciência, [S.l.], n. 8, 2020. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/emconstrucao/article/view/54268. Acesso em: 22 out. 2023.
LORENZETTI, Caroline Schneider; VERDUM, Kelvin. Top 5 Fake News mais absurdas sobre a vacina. Agência Da Hora, 2021. Edição: Luciana Carvalho. Disponível em: https://www.ufsm.br/midias/experimental/agencia-da-hora/2021/11/11/top-5-fake-news-mais-absurdas-sobre-a-vacina. Acesso em: 22 out. 2023.
MONTEIRO, Danielle. Conheça 6 ‘fake news’ sobre as vacinas contra a Covid-19. Informe ENSP, 22 abr. 2021. 2p.
POPPER, Karl. Lógica da pesquisa científica. São Paulo: Cultrix, 1975.
SEMIDÃO, Rafael Aparecido Moron. Dados, informação e conhecimento enquanto elementos de compreensão do universo conceitual da ciência da informação: contribuições teóricas. 2014. 198 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Ciência da Informação, Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), Marília, 2014. Disponível em: https://www.marilia.unesp.br/Home/Pos-Graduacao/CienciadaInformacao/Dissertacoes/semidao_ram_me_mar.pdf. Acesso em: 22 out. 2023.
WESTIN, Ricardo. Vacinação infantil despenca no país e epidemias graves ameaçam voltar. Agência Senado, Brasília, 2022. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/05/vacinacao-infantil-despenca-no-pais-e-epidemias-graves-ameacam-voltar. Acesso em: 22 out. 2023.
Aula 2
Pesquisa e Conhecimento
Pesquisa e conhecimento
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Ponto de Partida
Olá, estudante!
Vamos adentrar no universo da pesquisa mais especificamente, trabalhando com o conceito de método científico. Compreenderemos como a pesquisa é uma aliada na construção do conhecimento científico e como a leitura crítica e reflexiva é essencial nesse processo. Para isso, precisamos pensar nas formas que utilizamos para nos comunicar, pensando mais especificamente na linguagem verbal (falada e escrita). De acordo com Aranha e Martins (2003, p. 33), a linguagem é “um sistema de representações aceitas por um grupo social, que possibilita a comunicação entre os integrantes desse mesmo grupo”.
Por que essa definição é importante para nós? Quando escrevemos uma pesquisa ou um trabalho acadêmico (seja ele de qualquer natureza: uma resenha, um resumo, um artigo ou um TCC), precisamos nos preocupar com o tipo de linguagem que é utilizada para a escrita desse trabalho. Isso não quer dizer que vamos utilizar palavras rebuscadas que deixem o texto difícil de ser entendido. Contudo, também não podemos escrever de uma maneira coloquial, da maneira como falamos no nosso cotidiano, por exemplo. É necessário utilizar a norma culta para a escrita, mas sem “enfeitar” o texto.
Pensando nessas questões, vamos refletir sobre o seguinte: como deve ser uma leitura acadêmica, fundamental para escrever? Como a leitura e a escrita acadêmica estão ligadas e se desenvolvem de maneira conjunta? Vamos nos aprofundar no assunto para que isso seja possível! Bons estudos!
Vamos Começar!
Ler, pesquisar e escrever são elementos que estão intimamente ligados não somente na vida acadêmica, mas também no desenvolvimento de nossa vida profissional e de nossas relações pessoais. Se não nos atualizamos em relação aos últimos acontecimentos, por exemplo, fica difícil manter um diálogo com amigos, ou se não nos aprofundamos em assuntos que temos em comum para desenvolver o diálogo. A leitura é forte aliada nesse processo: ela amplia nossa visão de mundo e nosso repertório a respeito dos mais diversos assuntos, e pode também despertar nossa curiosidade para o desenvolvimento de uma pesquisa
O que é pesquisa?
Conseguimos perceber a ciência em todos os lugares que nos cercam; hoje, ela é um dos elementos mais básicos em todos os aparatos tecnológicos, como no celular, na televisão, no computador, nos dispositivos de GPS, etc. No entanto, todos esses aparatos tecnológicos não surgiram do nada. Essas tecnologias são produtos de investigações científicas mais elementares, que exigem a adoção de um método para avaliar o nível de verdade das hipóteses e das teorias. Esse é o método científico. O conhecimento científico é produzido a partir das mais diversas pesquisas e verificado por meio do método científico.
O termo “pesquisar” é muito comum atualmente; de certa forma, todos sabemos o que significa. Diante de qualquer tipo de dúvida que tenhamos, podemos, com nossos smartfones, acessar a internet e pesquisar: restaurantes, hotéis, dicas de séries, filmes, viagens, etc. Obtemos respostas praticamente instantâneas diante das nossas dúvidas. Essa pesquisa é a que fazemos com base no senso comum, sem nenhum rigor científico; pesquisar é buscar mais informações sobre algo, visando estabelecer critérios para melhores escolhas (Minayo, 2007).
Por outro lado, do ponto de vista científico, a pesquisa tem um sentido mais amplo e aprofundado: ela é um procedimento organizado, racional e sistemático para construir conhecimentos. Isso significa que é necessário buscar dados e informações a fim de interpretá-los, para que se possa compreender o objeto de estudo e, então, chegar ao conhecimento científico. Assim, parte-se do método científico, composto por etapas que visam chegar a respostas para os problemas e, assim, construir o conhecimento. O método científico deve ser visto como um conjunto de procedimentos teóricos, experimentais e, principalmente, éticos, que têm o objetivo de fornecer a melhor explicação da realidade (Baptista; Campos, 2016).
Mesmo o método científico sendo único e universal, deve ser visto como um conjunto de procedimentos amplos que mudam conforme o tempo e se ajustam a cada campo do conhecimento em particular. Existem diversos tipos de pesquisas científicas que norteiam a ciência, cada qual com sua importância e aplicação para o estudo de um problema específico. A pluralidade de investigações permite a extração de um conhecimento mais amplo sobre a realidade mediante uso de método científico. Por exemplo: o modo como os biólogos investigam microrganismos não envolve o emprego das mesmas técnicas de investigação utilizadas pelos sociólogos para estudar comportamentos sociais ou crises econômicas. Veja a seguir um esquema que ilustra o método científico:
A pesquisa e a construção do conhecimento científico
A utilização do método científico não deve se restringir a situações controladas em laboratórios, pois a ciência não se reduz a isso. Ela está presente também no nosso dia a dia e nos auxilia na análise e percepção da nossa realidade concreta. A ciência é uma forma de conhecimento que busca explicar os fenômenos por meio da demonstração, da evidência e da prova; por isso, ela difere das demais formas de conhecimento. Para tanto, utiliza o método científico como garantia de que suas conclusões sejam o mais próximo da verdade possível. Isso pode ser aplicado a qualquer área do saber e em muitas situações profissionais (Severino, 2013).
Dessa forma, podemos entender que a pesquisa é a forma de construir conhecimentos científicos. Por meio dela e do método científico, busca-se a resposta para diferentes situações observadas na realidade objetiva e que se constituem como um problema. Na tentativa de responder às indagações, de resolver o problema, é que se constrói o conhecimento que, orientado pelo método, se constitui no conhecimento cientificamente aceito.
Siga em Frente...
Leitura para quê?
Você foi uma criança que gostava de ler, ou achava sempre desinteressante toda vez que um professor pedia para que você fizesse uma leitura mais longa? Você já havia se questionado o quanto a leitura é importante no nosso cotidiano? A leitura não é somente uma decodificação de símbolos, ou aquela que fazemos apenas “passando os olhos” pelo texto. Uma leitura aprofundada, crítica, reflexiva, nos leva de fato ao entendimento do texto e à reflexão sobre nossas próprias práticas. Essa leitura é fundamental no ambiente acadêmico e no nosso ambiente profissional, para que sejamos sujeitos ativos nesses contextos. É ela que permite a ampliação do nosso conhecimento e a compreensão da realidade em que estamos inseridos.
A leitura, seja ela de qualquer tipo e com qualquer finalidade (para informação, para entretenimento), traz inúmeros benefícios a quem a pratica. Ela enriquece o vocabulário, pois o leitor pode encontrar palavras que antes não conhecia e precisar buscar seus significados; assim, amplia o conhecimento da língua. Melhora a redação, já que, a partir do momento em que se entra em contato com outras formas de escrita, é possível apreender como articular as palavras de maneira diferente do habitual; consequentemente, ela desperta a inteligência. Aperfeiçoa a cultura, uma vez que permite a ampliação da visão de mundo do leitor e da compreensão de inúmeros aspectos que estejam sendo trabalhados no texto (Chaves, 2012).
O ato de estudar deve ser compreendido como a forma pela qual o indivíduo enfrenta o desafio de compreender a realidade, conhecendo as características dos fenômenos que a compõem. A leitura é o exercício da capacidade de formar nossa própria visão e explicação sobre os problemas que enfrentamos. Para isso, algumas exigências são feitas ao leitor, para que essa atividade seja efetivamente um processo de leitura do mundo; uma delas é o desenvolvimento da capacidade crítica que decorre do estudo (Luckesi, 1998).
A leitura não é, portanto, uma atividade passiva. Ao contrário, é uma atividade complexa, que inclusive pode ser constituída por elementos; e quanto melhor dominados, maior proveito o leitor obterá. Precisamos recordar que a sociedade atual, em função da simplificação nas maneiras de veicular as informações, tornou muitos conteúdos de tal forma objetivos que nem sempre requerem grandes esforços para serem compreendidos. Outro aspecto também presente é a rapidez com que as informações são transformadas e substituídas. As informações obtidas dessa forma são também meios de compreender a realidade.
Entretanto, para que seja possível compreender e se tenha condições de questionar a qualidade e a forma como isso acontece, são necessárias leituras mais profundas, que levem ao entendimento das coisas e por meio de processos nem sempre tão acelerados. Portanto, considerando a importância do estudo para se obter condições de analisar criticamente a realidade e desenvolver conhecimentos aprofundados sobre ela, é preciso a leitura de textos que apresentem um conhecimento aprofundado em relação ao tema em questão.
A leitura crítica e reflexiva
É comum encontrarmos, no ambiente da Universidade, acadêmicos que não gostam de ler; contudo, esse domínio tem se mostrado cada vez mais indispensável nas nossas vidas. Além disso, ler e interpretar os fatos cotidianos são aspectos relacionados, e aqueles que dominam a leitura conseguem agir com maior autonomia frente aos desafios do cotidiano. Precisamos, portanto, ser sujeitos ativos diante dos textos com os quais nos deparamos, interagir com o texto, superar a mera memorização e alcançar a compreensão que permite elucidar a realidade.
Para ser um sujeito ativo frente ao texto, é necessário desenvolver uma capacidade de analisar crítica e reflexivamente o texto estudado, para que se chegue ao que Marconi e Lakatos (2024) chamam de leitura interpretativa. Segundo os autores, isso é um processo, um aprendizado que não se manifestará nas primeiras leituras; contudo, com o exercício e a persistência, essa capacidade será desenvolvida. Precisamos ter claro que todo começo é difícil; o processo de leitura e escrita acadêmica requerem prática e persistência (Baptista; Campos, 2016).
Ler bem é uma condição fundamental para a leitura e para a escrita com qualidade. Essas questões perpassam também a elaboração de pesquisas pois não é possível investigar ou escrever sobre um tema/assunto que não se tem conhecimento. Existem diversos aspectos que estão relacionados ao processo de leitura e escrita. Pensar nas diferentes fases da leitura é uma ferramenta útil para nos tornarmos proficientes em diferentes gêneros textuais. Quando pensamos na leitura no âmbito acadêmico, podemos elencar quatro etapas específicas:
Leitura de reconhecimento e pré-leitura | Corresponde ao levantamento das fontes bibliográficas que contenham dados ou informações que poderão ser aproveitadas. |
Leitura seletiva | Implica na seleção do material que será utilizado em conformidade com as necessidades do estudo. Ainda não se trata de uma leitura exaustiva e minuciosa, apenas para verificar se os dados apresentados fornecem informações sobre o assunto que será estudado. |
Leitura crítica ou reflexiva | Etapa que corresponde ao estudo dos textos levando à compreensão da mensagem do autor. Esse estudo passa por fases: visão global do texto e análise das partes para chegar a uma síntese integradora. |
Leitura interpretativa | É a fase em que se decide se o texto estudado tem condições de ser aproveitado ou não para a situação apresentada. A interpretação requer ter uma posição própria a respeito das ideias apresentadas pelo autor, estabelecer um “diálogo” com o autor, ler o que está nas entrelinhas. |
Quadro 1 | Etapas da leitura acadêmica. Fonte: adaptado de Marconi e Lakatos (2024, p. 22).
A leitura é essencial para a realização das pesquisas. Assim como no caso da leitura, fazer pesquisa também é uma questão de treino. É indispensável a leitura de textos científicos para a elaboração de pesquisas. No começo, pode parecer uma tarefa quase impossível, pois geralmente esses textos são escritos em uma linguagem mais objetiva, acompanhados de dados e tabelas complicados de serem entendidos. Parece um clichê, mas é a partir da prática que vamos conseguir driblar esses problemas; com o treino vamos nos aperfeiçoando e chegamos ao entendimento e escrita necessários em um ambiente acadêmico e profissional. (Baptista; Campos, 2016).
Assim, buscar transformar o que parece uma obrigação em algo prazeroso é uma importante estratégia para conseguirmos realizar com maior facilidade tanto a leitura quanto a escrita e a pesquisa. “Aproveite a chance de aprender a fazer ciência, mesmo que você não pretenda seguir carreira como pesquisador. [...] Você pode aprender a se apaixonar também por pesquisa” (Baptista; Campos, 2016, p. 12).
Vamos Exercitar?
É hora de retomarmos a nossa tarefa inicial. Trabalhamos o conceito de pesquisa sob a ótica do senso comum e sob a ótica da ciência, e compreendemos como o método científico nos auxilia na construção do conhecimento científico. Aprendemos a importância da leitura contextualizada para a construção do conhecimento e para a realização de pesquisas. Nós percebemos que essa leitura acadêmica tem algumas características específicas, algumas etapas que precisam ser observadas para que ela seja de fato eficaz. Nossa tarefa é identificar essas etapas:
- Pré-leitura: fase inicial, em que se identifica se existem textos disponíveis sobre o problema de pesquisa.
- Leitura seletiva: seleção das informações de interesse para a escrita da pesquisa.
- Leitura crítica ou reflexiva: estudo, reflexão, entendimento do significado do texto. É a fase da leitura preocupada em entender o que o autor defende no texto. Busca-se a compreensão dos termos e conceitos utilizados pelo autor.
- Leitura interpretativa: fase em que se procura saber o que o autor realmente afirma, correlacionar as afirmações do autor com os problemas para os quais se busca solução.
Lembre-se de que a leitura e a escrita são processos interligados, um não acontece sem outro. Assim, nesta unidade, você pôde entender que a leitura acadêmica consequentemente o levará a uma boa escrita.
Saiba Mais
- A leitura é essencial para o nosso desenvolvimento; ela amplia nossa visão de mundo sobre o assunto em questão, além de ampliar nosso vocabulário e melhorar nossa capacidade de escrita. Para se aprofundar no assunto, leia o texto: “Estratégias de leitura, análise e interpretação de textos na universidade: da decodificação à leitura crítica”, de Urbano Cavalcante Filho.
- Quando se investiga a realidade, é possível recorrer a diferentes meios, técnicas e estratégias para que se encontrem as respostas esperadas. Embora o método científico tenha definido um caminho que permite uma certa semelhança no percurso a ser seguido, cada área do conhecimento tem suas especificidades na realização das pesquisas e na construção do conhecimento.
Nós precisamos compreender que o método científico não é restrito à aplicação em pesquisas experimentais ou laboratoriais; ele pode e deve ser utilizado para pensarmos e intervirmos na realidade das mais diversas maneiras. Pensando nisso, para perceber como obras literárias de ficção também podem ser utilizadas de maneira prática na nossa realidade e como base para a realização de pesquisas acadêmicas, leia o artigo: “As várias dimensões na trilogia Jogos Vorazes: uma aplicação prática para o ensino médio”, de Maria Luzia Silva Marian e Sandra Aparecida Pires Franco.
Referências Bibliográficas
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 3ª ed. São Paulo: Moderna, 2003.
BAPTISTA, Makilim Nunes; CAMPOS, Dinael Corrêa de. Metodologias de Pesquisa em ciências: análises quantitativas e qualitativas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ltc, 2016.
CHAVES, Marco Antonio. Projeto de pesquisa: guia prático para monografia. 5ª ed. Rio de Janeiro: Wak, 2012.
LUCKESI, Cipriano Carlos; et al. Fazer universidade: uma proposta metodológica. 10ª ed. São Paulo: Cortez, 1998.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico: projetos de pesquisa, pesquisa bibliográfica, teses de doutorado, dissertações de mestrado, trabalhos de conclusão de curso. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 2024.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 26ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2013.
Aula 3
Pesquisas Quantitativas
Pesquisas quantitativas
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Ponto de Partida
Olá, estudante!
Assim como existem diferentes tipos de conhecimento, existem diferentes tipos de pesquisas que podem ser realizadas. E assim como não colocamos os conhecimentos em uma perspectiva de hierarquia, não o fazemos com as pesquisas. A pesquisa é atividade básica da ciência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação. Vamos falar das pesquisas quantitativas, pensar nos seus diferentes tipos e nos procedimentos para a realização dessas pesquisas.
Imagine a seguinte situação: sua equipe de trabalho está iniciando um projeto para pesquisar a inserção das mulheres no mercado de trabalho contemporâneo, com o objetivo de mapear sua situação, suas condições de vida e de trabalho na cidade de Campinas (SP). A ideia é mapear a situação atual e poder contribuir com a ampliação de um olhar para as questões de gênero, pensando em possíveis medidas para diminuir as desigualdades existentes no mercado de trabalho.
- Que tipo de pesquisa poderia ser realizado?
- De que maneira os dados poderiam ser coletados?
- Como seria possível selecionar uma amostra representativa dessa população?
Bons estudos!
Vamos Começar!
Quando pensamos na elaboração de uma pesquisa de cunho científico, precisamos tomar como base para essa construção um conhecimento que seja organizado, sistemático, objetivo e que busque relação entre os fenômenos que estão sendo estudados. Este conhecimento é o científico. Assim, a ciência segue o método científico na construção de seus pressupostos e na realização das pesquisas. Da mesma maneira que existe uma diferenciação entre as ciências naturais e as ciências humanas, também ocorrem diferenças significativas na maneira de conduzir as pesquisas científicas, “em decorrência da diversidade de perspectivas epistemológicas que se podem adotar e de enfoques diferenciados que se podem assumir no trato com os objetos pesquisados e eventuais aspectos que se queira destacar” (Severino, 2013, p. 103).
A pesquisa quantitativa
As pesquisas de caráter quantitativo trabalham com métodos voltados para o entendimento objetivo dos fatos, com o universo das representações numéricas, descrevendo e relacionando os fenômenos. As pesquisas pautadas no método quantitativo utilizam os fundamentos da matemática e da estatística para a sua formulação, mas isso não quer dizer que elas não possam ser realizadas no âmbito das ciências humanas e sociais. Basta pensarmos nos pressupostos teóricos e metodológicos da teoria Positivista para compreendermos que a realização de uma pesquisa quantitativa não é exclusiva das ciências exatas e biológicas (Shishito, 2018).
A realização de toda pesquisa científica implica na determinação de um objeto de pesquisa. A partir do objeto de pesquisa, elabora-se a pergunta da pesquisa (o que se pretende saber com aquela pesquisa). Também é necessário coletar os dados de maneira adequada (Baptista; Campos, 2016). Para analisar esse objeto de pesquisa, o pesquisador precisa de um método bem delimitado. Um método de pesquisa tem em si a perspectiva teórica que o define, ou seja, teoria e método revelam a visão de mundo do pesquisador e o orientam sobre o que fazer diante de um problema de pesquisa (Shishito, 2018).
Assim, a realização de uma pesquisa tem diferentes camadas e diversos aspectos que precisam ser atendidos para que ela se encaixe no que se espera de uma pesquisa de cunho científico. Portanto, as pesquisas denominadas como quantitativas são as que se fundamentam em padrões que focam o controle científico e a objetividade no desenvolvimento da pesquisa. São desenvolvidas a partir de testes ou procedimentos que permitam a comprovação e a validade dos resultados encontrados (Baptista; Campos, 2016; Shishito, 2018).
Uma pesquisa quantitativa pode ser realizada de diferentes maneiras; existem diferentes tipos que podem ser classificados como quantitativos: pesquisa de levantamento, correlacional e experimental, dentre outras. Cada tipo de pesquisa conta com sujeitos, instrumentos utilizados para a coleta dos dados e procedimentos para a realização. Todos esses elementos precisam estar bem determinados e relacionados de forma coerente para que o pesquisador consiga executar com êxito a pesquisa, e para que o leitor chegue ao entendimento do caminho trilhado no desenvolvimento e compreenda os resultados (Baptista; Campos, 2016).
Siga em Frente...
Tipos de pesquisas quantitativas
Ao elencarmos diferentes tipos de pesquisa, não pretendemos afirmar que um é melhor ou mais eficiente que o outro; apenas listamos alguns exemplos para que seja possível a compreensão de como o pesquisador deve conduzir a pesquisa. Além da perspectiva teórica, que mostra ao leitor como o pesquisador enxerga o mundo, é necessário também compreender qual método melhor se adapta àquilo que está sendo pesquisado e, então, pensar nos sujeitos, instrumentos, coleta de dados etc.
Pesquisa de levantamento ou survey
A maneira como os dados serão coletados e analisados depende do problema da pesquisa e dos objetivos. De acordo com Baptista e Campos (2016, p. 106), “alguns autores denominam as pesquisas que apresentam esse delineamento como pesquisas descritivas”. Os autores ainda ressaltam que alguns pesquisadores diferenciam o levantamento do survey, considerando que este último é mais criterioso quanto à amostragem. Tomaremos levantamento e survey como sinônimos, assim como Baptista e Campos (2016).
Mas, afinal, o que é uma pesquisa de levantamento/survey?! Você se lembra das pesquisas de intenção de voto em período eleitoral? E os censos geográficos realizados pelos governos? No ano de 2022, com dois anos de atraso, foi realizado o censo demográfico do Brasil, o qual indicou que a população brasileira chegou a 2.062.512 habitantes, um aumento de 6,5% em comparação ao censo demográfico realizado em 2010 (IBGE, 2023). Essas pesquisas são pesquisas de levantamento, que têm seus dados coletados com amostras (no caso das pesquisas eleitorais) ou com a população toda (no caso do censo demográfico). As pesquisas de levantamento, por meio da interrogação direta de seus participantes, obtêm os dados que vão compor as análises.
As pesquisas de levantamento são as que mais atendem a partidos políticos, organizações educacionais, comerciais e instituições públicas e privadas, por identificarem comportamentos e atitudes. Os dados são informados diretamente pelas próprias pessoas, que respondem a solicitações do pesquisador, e costumam ser obtidos por meio de um instrumento de pesquisa, habitualmente um questionário (Baptista; Campos, 2016, p. 106).
Os levantamentos têm o objetivo de descrever, explicar e/ou relacionar os fenômenos que são coletados com a amostra por meio das variáveis. A amostra representa uma parte da população que será estudada, pois, em muitos casos, seria impossível coletar os dados com toda a população, devido ao seu tamanho. A amostragem se deve também à redução de custos e à otimização do tempo para realização da pesquisa. Assim, a amostra deve representar a população que está sendo estudada: a escolha dos participantes não deve ser enviesada; ou seja, o pesquisador não deve interferir nessa escolha (Baptista; Campos, 2016).
Após a obtenção dos resultados, é possível admitir que eles podem ser ampliados a toda aquela população em questão, visto que são analisados estatisticamente e é aplicada a eles uma margem de erro. Como exemplo, podemos pensar no período eleitoral, em que são realizadas muitas pesquisas de levantamento para verificar a intenção de voto dos eleitores em relação aos candidatos. A população diz respeito a todos os eleitores; a amostra é referente às pessoas consultadas; e o método de pesquisa utilizado é o levantamento (Gil, 2002; Baptista; Campos, 2016).
As variáveis são as informações que serão coletadas para a pesquisa, por exemplo: idade, gênero, escolaridade, motivação, medir atitudes, quantidade de água durante a chuva, etc. A determinação dos dados que serão coletados, dos sujeitos (quantos serão, faixa etária, escolaridade, gênero, localização geográfica) que participarão da pesquisa ou dos fenômenos analisados depende do problema da pesquisa e dos objetivos que se pretende atingir. Por isso, não podemos perder de vista que todos os elementos da pesquisa estão interligados e precisam conversar entre si.
Os instrumentos utilizados podem ser questionários (por telefone, pessoalmente, enviados de maneira eletrônica), entrevistas (estruturadas, semiestruturadas, abertas) ou observação. Nas pesquisas quantitativas, os questionários são mais adaptáveis, devido à facilidade de utilizar diferentes perguntas com diferentes possibilidades de respostas para a obtenção das respostas pretendidas, e à facilidade na aplicação e no envio. Por outro lado, é possível que haja uma baixa taxa de retorno quando o pesquisador não está presente no momento da aplicação, quando o prazo para devolução é muito longo ou ainda quando a presença do pesquisador de alguma forma intimide o participante (Shishito, 2018).
Por fim, é necessário pensar também nos procedimentos da pesquisa. No caso de pesquisas com seres humanos, é necessária a assinatura de um termo de consentimento livre e esclarecido pelos participantes, ou pelos responsáveis destes, quando forem menores de idade. A amostra e os instrumentos devem estar selecionados; é preciso acordar previamente dia e horário com o local da coleta dos dados; também é essencial fornecer a previsão do tempo que será necessário para a coleta. Ou seja, é necessário pensar no cenário de realização da coleta dos dados para que ela aconteça da maneira mais eficiente possível.
Pesquisa experimental
Quando se trata de uma pesquisa experimental, é bastante comum logo pensarmos em um laboratório repleto de tubos de ensaio, microscópios, beckers, pepitas, buretas, entre outros instrumentos indispensáveis para a realização de uma pesquisa. O que precisamos compreender é que a pesquisa experimental também pode ser realizada no nosso cotidiano. O objetivo desse tipo de pesquisa é buscar relações de causa e efeito entre os fenômenos que estão sendo analisados por meio da manipulação das variáveis, normalmente quando eles são colocados em condições ideais. Esse tipo de pesquisa parte da condição básica de três situações para a sua realização: manipulação das variáveis, controle delas e randomização dos grupos (Baptista; Campos, 2016).
Vamos tratar a seguir da manipulação e do controle das variáveis. Quando falamos de randomização dos grupos, estamos nos referindo ao processo de seleção do participante da pesquisa ou daquilo que está sendo analisado. Assim, todos os sujeitos têm a mesma probabilidade de serem sorteados para formar a amostra que vai participar do experimento ou para compor o grupo controle. Nesse sentido, as pesquisas são conduzidas de maneira que seja possível o pesquisador agir; ou seja, ele manipula a variável e altera as condições em que ela se encontra e observa as consequências dessa ação. Dessa forma, para saber se houve ou não uma mudança, é necessário que se pense em grupos experimentais e grupos controle no desenvolvimento da pesquisa, para que possa haver a comparação entre aqueles que foram expostos à mudança e os que não foram (Mattar; Ramos, 2021).
Diante do exposto, percebemos alguns conceitos que precisam ser compreendidos para que seja possível apreender como uma pesquisa experimental é desenvolvida. Precisamos pensar nos conceitos de: grupo controle, grupo experimental, variável dependente e variável independente (experimental). O Quadro 1 a seguir possibilita a visualização mais clara dos conceitos e suas definições:
Grupo Experimental | São os sujeitos que vão participar do experimento/teste. |
Grupo Controle | São os sujeitos que vão servir como base de comparação em relação aos que participam do experimento/teste. |
Variável Independente (experimental) | É a variável que o pesquisador pode manipular no experimento. |
Variável Dependente | É a variável na qual o pesquisador vai avaliar as mudanças. |
Quadro 1 | Conceitos referentes à pesquisa experimental. Fonte: elaborado pela autora.
Para a condução dar seguimento à pesquisa, é necessário pensar nos sujeitos, nos instrumentos e nos procedimentos. Em relação aos sujeitos, o pesquisador precisa ter clareza em relação ao que ele deseja saber, para então pensar nos critérios de inclusão e de exclusão dos participantes. Normalmente é necessário que seja feito um recorte, definindo-se faixa etária, gênero e escolaridade, para que seja possível maior delimitação desses sujeitos. Assim, pode-se chegar a uma amostra mais próxima daquilo que se considera ideal (Baptista; Campos, 2016).
Vamos pensar em um exemplo: você está investigando saúde mental e suicídio. Estudos anteriores apontam que os caso de suicídio são maiores entre homens (78%) com idade entre 15 e 29 anos de idade do que entre mulheres (22%). Quais serão os critérios de inclusão na pesquisa? Ser do gênero masculino, ter idade entre 15 e 29 anos, qualquer grau de escolaridade, renda de zero a cinco salários mínimos. Perceba que você está afunilando os critérios para que o participante possa fazer parte da amostra. Isso é importante para os critérios de comparação que serão utilizados no grupo controle e no grupo experimental.
Também é necessário haver uma preocupação com os instrumentos que serão utilizados, para que eles realmente meçam/avaliem aquilo que você está se propondo a fazer na pesquisa. A depender do que será feito, podem ser utilizados questionários, entrevistas ou outros tipos de testes. Por fim, os procedimentos da pesquisa precisam ser considerados. De que forma os dados serão coletados, quem fará a coleta, vai ser em grupo ou individualmente, quanto tempo levará a coleta? Todos esses critérios devem ser observados cuidadosamente, para que a amostra seja o mais homogênea possível, garantindo assim a lisura e a confiabilidade da pesquisa (Baptista; Campos, 2016; Mattar; Ramos, 2021).
Pesquisa correlacional
A pesquisa correlacional é amplamente utilizada na Psicologia e nas Ciência Sociais de uma forma geral, considerando que o objetivo desse tipo de pesquisa é avaliar a relação entre as diferentes variáveis coletadas para o estudo e buscar associações com as teorias. Por exemplo: qual a relação entre a motivação para aprender dos alunos e o ano escolar em que estão matriculados? Existe a relação entre o abuso de álcool e a escolaridade das pessoas? Também é possível avaliar diferenças entre as variáveis do grupo em questão: homens jovens apresentam maior índice de depressão do que homens idosos?
Esse tipo de pesquisa é mais flexível que a pesquisa experimental, pois não utiliza grupo controle, apresenta baixo controle sobre as variáveis que estão sendo investigadas e não realiza pré-testes e pós-testes com as amostras. As correlações são medidas estatísticas, por exemplo: o teste t de Student e a análise de variância (ANOVA). Essas análises são as mais utilizadas na comparação de grupos para investigar possíveis diferenças entre eles, são realizadas por programas como o Statistical Package for Social Sciences (SPSS) (Baptista; Campos, 2016). A lógica dos dois testes é equivalente: eles consideram o total da amostra, o desvio padrão e a diferença de médias entre os grupos.
Em relação aos sujeitos da pesquisa, aos instrumentos utilizados para a coleta de dados e aos procedimentos para a realização, eles são semelhantes ao que é realizado nas pesquisas de levantamento. O que não se pode esquecer é o problema da pesquisa (a pergunta que se deseja responder) e os objetivos, para que esses elementos sejam estabelecidos de maneira a possibilitar a melhor condução e obtenção da resposta esperada.
Vamos Exercitar?
Chegou o momento de retomarmos a nossa situação inicial. Compreendemos o que é uma pesquisa quantitativa e quais seus princípios; entendemos as características da pesquisa de levantamento ou survey, da pesquisa experimental e da pesquisa correlacional. Sua equipe de trabalho está investigando a inserção das mulheres no mercado de trabalho contemporâneo na cidade de Campinas (SP). Os questionamentos iniciais são:
- Que tipo de pesquisa poderia ser realizado?
- De que maneira os dados poderiam ser coletados?
- Como você poderia selecionar uma amostra representativa dessa população?
Vamos às possíveis respostas:
- Seria possível realizar uma pesquisa de levantamento, pois elas visam descrever, explicar e/ou relacionar os fenômenos que são coletados com a amostra por meio das variáveis.
- Os dados podem ser coletados por meio de questionários ou entrevistas que podem ser realizadas pessoalmente ou por telefone, sempre observando as questões éticas envolvidas na coleta de dados.
- É necessário buscar estudos prévios que contenham o perfil daquela população para que se faça esse recorte; a amostra precisa ter as mesmas características da população para que ela possa ser considerada representativa.
Saiba Mais
- Muito se fala sobre as diferenças entre as pesquisas quantitativas e qualitativas. É necessário compreender as diferenças entre elas e as características de cada uma. Apesar de ser exemplo de uma área em específico, o estudo de caso pode ser utilizado para qualquer área do conhecimento. Saiba mais sobre o assunto lendo o artigo a seguir: GÜNTHER, Hartmut. Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: é esta a questão? Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 22, n. 2, p. 201-210, ago. 2006.
- A lógica da pesquisa quantitativa faz com que as técnicas e ferramentas deste método se tornem grandes aliados da pesquisa social. Os estudos quantitativos são descritos geralmente a partir de variáveis. Elas representam um conjunto de características independentes de uma população, as quais tenham relevância e/ou importância à pesquisa proposta; por exemplo: gênero e idade. As variáveis correspondem a características que apresentam variações. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresenta dados que abrangem população, trabalho, educação, saúde, habitação, rendimento, despesa e consumo, etc. Para se aprofundar a respeito desses dados, utilize o site IBGE e procure dados referentes à região que você reside e busque fazer uma comparação com os índices nacionais.
Referências Bibliográficas
BAPTISTA, Makilim Nunes; CAMPOS, Dinael Corrêa de. Metodologias de Pesquisa em ciências: análises quantitativas e qualitativas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ltc, 2016.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo Demográfico 2022: população e domicílios, primeiros resultados. Rio de Janeiro, 2023. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv102011.pdf. Acesso em: 25 out. 2023.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico: projetos de pesquisa, pesquisa bibliográfica, teses de doutorado, dissertações de mestrado, trabalhos de conclusão de curso. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 2024.
MATTAR, João; RAMOS, Daniela Karine. Metodologia da pesquisa em educação: abordagens qualitativas, quantitativas e mistas. São Paulo: Edições 70, 2021.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 26ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2013.
SHISHITO, Katiani Tatie. Pesquisa aplicada às Ciências Sociais. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018.
SILVA, Airton Marques da. Metodologia da pesquisa. 2ª ed. Fortaleza: EDUECE, 2015.
Aula 4
Pesquisas Qualitativas
Pesquisas qualitativas
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Ponto de Partida
Olá, estudante!
A contemporaneidade é sem dúvida um fenômeno ímpar na construção da nossa história. Conseguimos vivenciar inúmeros avanços que acontecem de uma forma muito rápida como o tecnológico, mas também olhamos para questões que caminham a passos muito lentos, como a transformação da estrutura desigual da nossa sociedade. Fato é que essas transformações, sejam positivas ou negativas, têm impacto direto nas nossas vidas e principalmente na nossa saúde mental. Inúmeros estudos são realizados nesse sentido, a fim de identificar possíveis razões para o adoecimento da população em diversos setores.
Pensando nisso, vamos trabalhar a partir do olhar da pesquisa qualitativa para pensar em uma situação hipotética, mas que acontece em muitos ambientes de trabalho. Imagine um assistente social de uma escola municipal que atende alunos do 6º ano do ensino fundamental até o 3º ano do ensino médio. O trabalho dele é predominantemente com os alunos, mas ele tem notado que os professores têm apresentado alto nível de stress, muitas faltas e têm se queixado de adoecimento. De que maneira uma pesquisa poderia ser desenvolvida para levantar os possíveis fatores causadores desses sintomas? Bons estudos!
Vamos Começar!
Uma busca que parece ser constante nos diferentes períodos da história da humanidade é a que se faz pela verdade, a busca por respostas ao questionamento sobre o mundo e a existência humana. Questionar, buscar saber é algo intrínseco ao ser humano, é próprio dos indivíduos, pois o saber nos dá segurança em relação à realidade que nos cerca. Apesar disso, os métodos utilizados para se tentar chegar a essa verdade foram se alterando ao longo do tempo e ainda hoje se modificam acompanhando a dinâmica que é própria da ciência. Dessa maneira, diferentes caminhos foram construídos na busca por essas respostas e diferentes objetos de estudo também se fizeram pertinentes nesse percurso (Baptista; Campos, 2016).
Sabemos que existem diversos tipos de pesquisas científicas, cada qual com seus objetivos, particularidades e, principalmente, objetos de estudos. A diversidade da pesquisa científica permite estudar diversos problemas, da origem do Universo ao comportamento humano; também permite estudar um mesmo problema sob diferentes perspectivas metodológicas, com o objetivo de enriquecer o conhecimento científico, proporcionando uma visão de mundo mais ampla e consistente com as evidências científicas.
A escolha também pelo objeto de estudo e pelo método está diretamente relacionada com a forma como o ser humano compreende o mundo. Perante este, devemos nos perguntar em que nos fundamentamos para responder às seguintes questões: o que é e o que não é realidade? (Questão ontológica). Quais caminhos escolhemos para chegar à compreensão dessa realidade? (Questão epistemológica). Qual é a concepção que temos de ser humano? Como concebemos a sociedade? Qual é a ética subjacente na nossa forma de conceber o mundo? Que tipos de ações imprimimos no mundo de acordo com nossa concepção? Essas ações promovem mudanças, transformações, ou somente colaboram para a manutenção do status quo? Todas essas questões estão implicadas nos pressupostos de todas as teorias. A escolha por uma teoria em detrimento de outra nos mostra não só a forma como concebemos o mundo, como também qual é o nosso posicionamento político perante este, principalmente quando se trata de teorias das Ciências Sociais e Humanas. (Baptista; Campos, 2016, p. 244).
Precisamos ter claro que a ciência não se constitui apenas da coleta e análise dos dados, eles precisam ser articulados à realidade e sustentados por uma teoria. Cada tipo de pesquisa tem sua importância dentro da ciência, focando no objeto de maneiras diferentes. Vamos conhecer o olhar das pesquisas qualitativas para o desenvolvimento de pesquisas científicas.
Pesquisa qualitativa
A pesquisa qualitativa é aplicada quando não há necessidade de empregar ferramentas estatísticas. No entanto, não é isso que a define; dados estatísticos podem ser utilizados no desenvolvimento de pesquisas qualitativas. As duas formas de fazer pesquisa, qualitativa e quantitativa, não são opostas e não se sobrepõe, elas podem se complementar. Os dados estatísticos podem ser usados para dar sustentação a uma argumentação ou a alguma análise feita em determinada área, por exemplo. Feita essa observação, vamos definir a pesquisa qualitativa e falar de maneira mais específica da pesquisa exploratória, explicativa e descritiva.
Na perspectiva qualitativa, considera-se a relação entre a realidade e o sujeito em questão. O que isso significa? Existe um vínculo entre as questões objetivas e a subjetividade do sujeito objeto da pesquisa que, na maioria das vezes, não é traduzido em números. Dessa maneira, os princípios básicos são a interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados, sendo o pesquisador um instrumento chave nesse processo (Gil, 2002).
Dessa forma, o objetivo da pesquisa qualitativa é a compreensão dos fenômenos de maneira aprofundada, fazendo a sua exploração e a sua descrição a partir de diferentes perspectivas. É necessário também buscar entender os significados e interpretações que os participantes dão aos fenômenos em questão. Olhando para a pesquisa qualitativa e quantitativa de maneira a compará-las, o “enfoque quantitativo se volta para a descrição, previsão e explicação, bem como para dados mensuráveis ou observáveis, enquanto o enfoque qualitativo se atém na exploração, descrição e entendimento do problema” (Marconi; Lakatos, 2022, p. 295).
A pesquisa qualitativa é um método de investigação utilizado em diversas áreas, como Ciências Sociais, Psicologia, Antropologia, Educação, Saúde, entre outras. Ela se concentra na compreensão aprofundada e na interpretação dos significados e das características implícitas a determinadas características sociais ou humanas. Se preocupa em compreender a complexidade e a riqueza de experiências individuais e contextos sociais, sendo frequentemente utilizada para explorar questões multifacetadas, compreender a dinâmica social, investigar processos culturais e capturar perspectivas subjetivas.
A abordagem envolve uma coleta de dados descritivos e normalmente, são utilizados como instrumentos entrevistas, observações participantes, análise de documentos e outros materiais que podem fornecer uma compreensão profunda de um determinado tema ou problema de pesquisa. Os dados encontrados são frequentemente analisados por meio de métodos interpretativos, como análise de conteúdo, análise temática e análise de narrativas, a fim de identificar padrões e tendências subentendidas (Marconi; Lakatos, 2022; Mattar; Ramos, 2021).
Os procedimentos da pesquisa (como, quando, onde, em quanto tempo) vão depender dos instrumentos utilizados e dos sujeitos que vão compor a amostra da pesquisa. A amostragem (ou seja, os sujeitos que participam da pesquisa) é intencional; os participantes são selecionados com base em critérios específicos que são relevantes para o tópico da pesquisa (Marconi; Lakatos, 2022; Mattar; Ramos, 2021).
A pesquisa qualitativa é valiosa para explorar diferentes questões que estão presentes na nossa realidade de maneira explícita ou implícita. Ela nos auxilia a entender as motivações e a importância das pessoas em situações determinadas, a desenvolver teorias e a construir uma compreensão mais profunda de especificidades sociais e humanas. Ela complementa a pesquisa quantitativa, que fornece informações numéricas e estatísticas, permitindo uma visão mais completa e rica de um tópico de pesquisa.
Siga em Frente...
Tipos de abordagem qualitativa
Nós vimos que a pesquisa qualitativa busca se aprofundar sobre as formas de apreensão e compreensão do mundo social a partir de seus significados, das relações e representações humanas e sua intencionalidade. Precisamos agora entender que, assim como existem diversas perspectivas teóricas buscando compreender e explicar a realidade, também existem diferentes formas de realizar a pesquisa por meio de métodos e técnicas que sejam adequados aos objetivos da pesquisa. Vamos falar sobre as pesquisas: exploratória, descritiva e explicativa (Shishito, 2018).
Pesquisa exploratória
A pesquisa exploratória é um tipo de investigação inicial que visa explorar um tema ou problema pouco conhecido, para familiarizar o pesquisador com esse tema ou para formular hipóteses mais precisas. Ela pode ser utilizada no início de um estudo, quando há poucas informações disponíveis sobre o assunto de interesse, ou quando se deseja adquirir uma compreensão inicial antes de se realizar uma pesquisa mais detalhada. Assim, a pesquisa exploratória é conduzida de maneira flexível e aberta; ela pode ser feita a partir de pesquisa bibliográfica ou estudos de caso (Shishito, 2018).
Podemos elencar quatro características relevantes da pesquisa exploratória:
- Familiarização com o tema: a pesquisa exploratória ajuda os pesquisadores a se familiarizarem com um tema ou problema pouco conhecido, a fim de compreender sua complexidade e nuances.
- Identificação de questões relevantes: ela ajuda a identificar questões e problemas importantes que merecem uma investigação mais aprofundada.
- Formulação de hipóteses iniciais: uma pesquisa exploratória pode ajudar na formulação de hipóteses preliminares ou teorias que podem ser testadas em estudos posteriores.
- Geração de ideias para estudos futuros: ela pode gerar insights importantes que podem orientar o desenvolvimento de estudos mais detalhados no futuro.
Pesquisa descritiva
A pesquisa descritiva é um tipo de estudo que visa descrever características de um grupo ou fenômeno estudado e permite também estabelecer a relação entre eles. Ela se concentra em fornecer uma representação precisa de fatos e características observáveis, sem manipulação das variações ou tentativa de estabelecer relações de causa e efeito. Uma pesquisa descritiva é frequentemente usada para responder perguntas sobre quem, o quê, onde, quando e como algo acontece. Os dados podem ser coletados por meio de questionários, observações estruturadas, entrevistas ou análise de dados secundários. Os resultados de uma pesquisa descritiva ajudam a oferecer uma compreensão mais profunda das características e padrões associados àquilo que está sendo estudado. Eles fornecem uma visão geral de uma população ou situação e podem ser úteis para fins de planejamento, formulação de políticas, tomada de decisões e estabelecimento de diretrizes para futuras investigações mais aprofundadas (Shishito, 2018; Gil, 2002).
Podemos citar quatro características relevantes da pesquisa descritiva:
- Descrição de características: ela descreve características específicas de uma população ou grupo, como comportamentos, atitudes, opiniões e características demográficas.
- Documentação de dados observáveis: uma pesquisa descritiva documenta e registra informações observáveis e mensuráveis relacionadas ao objeto de estudo.
- Identificação de tendências: ela ajuda a identificar padrões ou tendências que podem estar presentes em uma população ou grupo.
- Formulação de hipóteses posteriores: ela pode fornecer uma base para o desenvolvimento de hipóteses ou teorias mais precisas que podem ser testadas em estudos subsequentes.
Pesquisa explicativa
A pesquisa explicativa é um tipo de investigação que se concentra em identificar e explicar as relações de causa e efeito entre diferentes variáveis. Ela vai além da descrição de um determinado assunto/fenômeno, buscando explicar por que e como certos eventos ocorreram. Ao contrário da pesquisa descritiva, que se concentra na descrição de características, a pesquisa explicativa tenta fornecer uma compreensão mais profunda das relações entre variáveis, muitas vezes testando hipóteses causais. Os pesquisadores podem conduzir pesquisas explicativas de diferentes maneiras: experimentos controlados, estudos longitudinais, estudos de caso comparativos e até mesmo a análise estatística avançada. Os resultados dessas pesquisas contribuem para o avanço do conhecimento em uma área específica, fornecendo maior clareza sobre as relações entre variáveis e ajudando a estabelecer uma base teórica mais sólida (Shishito, 2018; Gil, 2002).
Podemos citar quatro características relevantes da pesquisa explicativa:
- Identificação de relações de causa e efeito: ela procura identificar e explicar as relações de causa e efeito entre diferentes variáveis, ajudando a estabelecer a ligação entre as variáveis independentes e dependentes.
- Validação de hipóteses: a pesquisa explicativa muitas vezes envolve a formulação e teste de hipóteses, com o objetivo de confirmar ou refutar relações causais postuladas entre variáveis.
- Compreensão de fatores implícitos: ela busca entender os fatores implícitos que ligam as variáveis e como esses mecanismos influenciam os resultados observados.
- Generalização de resultados: a pesquisa explicativa pode ajudar na generalização dos resultados para além do contexto específico do estudo, contribuindo para teorias e modelos mais abrangentes.
Intrumentos para coleta de dados
Existem vários instrumentos e técnicas de coleta de dados que podem ser usados em diferentes tipos de pesquisas; cada instrumento tem suas próprias vantagens e limitações, e a escolha do instrumento mais adequado depende dos objetivos e da natureza da investigação. Ao selecionar um instrumento de coleta de dados, é importante considerar a validade, confiabilidade e praticidade do instrumento, bem como a capacidade de obter as informações possíveis para responder às perguntas de pesquisa. Vamos analisar o Quadro 1 a seguir para conhecer alguns desses instrumentos:
Questionários | São formas estruturadas de coleta de dados que geralmente consistem em uma série de perguntas pré-determinadas, fechadas ou abertas, que podem ser administradas em formato físico ou digital. |
Entrevistas | Entrevista estruturada: as perguntas são pré-determinadas e feitas na mesma ordem para todos os entrevistados. Elas são padronizadas para garantir consistência nas respostas e facilitar a comparação entre os entrevistados. |
Entrevista não estruturada (aberta): não há um roteiro fixo de perguntas. O entrevistador tem mais liberdade para explorar tópicos de interesse e permitir que o entrevistado responda de forma mais aberta. Esse tipo de entrevista é mais flexível e permite uma análise mais aprofundada dos temas discutidos. | |
Entrevista semiestruturada: combina elementos de entrevistas estruturadas e não estruturadas. O entrevistador segue um roteiro de perguntas predefinidas, mas também tem a liberdade de explorar tópicos adicionais que podem surgir durante uma entrevista. Isso proporciona um equilíbrio entre a consistência das perguntas estruturadas e a flexibilidade para abordar temas mais complexos. | |
Observações | Observação direta: os pesquisadores observam o comportamento dos participantes sem intervenção. Isso pode ser feito de forma participante ou não participante. |
Observação estruturada: os pesquisadores seguem um protocolo específico e registram o comportamento observado de acordo com categorias predefinidas. | |
Análise de Documentos | Envolve a coleta e análise de documentos relevantes, como registros oficiais, relatórios, artigos acadêmicos, jornais, entre outros, que podem fornecer informações úteis para a pesquisa. |
Testes e Avaliações Psicométricas | Testes de personalidade, inteligência, habilidades e outros tipos de avaliações psicométricas são usados para coleta de dados em pesquisas psicológicas e educacionais. |
Testes e Experimentos | Podem ser usados para coleta de dados em um ambiente controlado, permitindo a manipulação de variáveis independentes para observar os efeitos sobre as variáveis dependentes. |
Diário de Campo | Utilizado amplamente na etnografia, é uma ferramenta na qual os pesquisadores registram observações, reflexões, notas e eventos relevantes relacionados ao seu estudo. |
Grupos Focais | São sessões de discussão em grupo, geralmente compostas por participantes que reúnem características semelhantes, com o objetivo de explorar atitudes, percepções e experiências em torno de um tópico específico. |
Quadro 1 | Instrumentos e técnicas para coleta de dados. Fonte: elaborado pela autora.
Vamos Exercitar?
Compreendemos os princípios de uma pesquisa qualitativa, olhamos para os sujeitos, instrumentos e procedimentos e entendemos as características da pesquisa exploratória, descritiva e explicativa. Você se lembra da nossa situação inicial? Um assistente social de uma escola estadual tem notado que os professores têm apresentado alto nível de stress, muitas faltas e têm se queixado de adoecimento. De que maneira uma pesquisa poderia ser desenvolvida para levantar os possíveis fatores causadores desses sintomas?
Inicialmente, poderia ser realizada uma pesquisa exploratória, buscando estudos que já tenham sido feitos anteriormente e que relatem possíveis causas de stress, desânimo, falta de motivação em professores que atuam na faixa etária da escola em quem ele trabalha. Feito isso, poderia ser proposta a realização de grupos focais nas horas-atividades dos professores, de modo que fossem realizadas discussões nas quais os professores pudessem expor seu ponto de vista a respeito da rotina escolar e das questões que os têm afligido. Também podem ser realizadas entrevistas abertas ou semiestruturadas com os professores, com questões direcionadas a motivação/desmotivação, stress, cansaço, etc.
Saiba Mais
- É fundamental compreender a diferença entre a realização de uma pesquisa qualitativa e uma pesquisa quantitativa. A partir disso, é possível pensar nos sujeitos da pesquisa, nos instrumentos para coleta de dados e nos procedimentos para sua realização. Assim, leia o Capítulo 8, “Metodologia qualitativa e quantitativa”, de Marconi e Lakatos (2022) para se aprofundar no assunto.
MARCONI, Marina de Andrade.; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia qualitativa e quantitativa. In: MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia científica. 8ª ed. Barueri: Atlas, 2022. p. 295-344. - O uso de diferentes técnicas de coleta e análise de dados, bem como dos métodos de pesquisa, pode ser um forte aliado no momento da condução da pesquisa científica. Precisamos compreender que em alguns momentos esses métodos e técnicas podem não ser compatíveis entre si, mas em outros eles podem e devem ser utilizados de forma aliada no desenvolvimento das pesquisas. Isso contribui para maior riqueza no momento da exploração e para o aprofundamento no tema estudado. Considerando essas questões, leia o artigo: “Perspectivas metodológicas na pesquisa sobre o comportamento do consumidor”, de Tonetto, Brust-Renck e Stein (2013). Os autores mostram como a pesquisa exploratória, descritiva e experimental podem ser utilizadas na compreensão do perfil de um consumidor.
Referências Bibliográficas
BAPTISTA, Makilim Nunes; CAMPOS, Dinael Corrêa de. Metodologias de Pesquisa em ciências: análises quantitativas e qualitativas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ltc, 2016.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia científica. 8ª ed. Barueri: Atlas, 2022.
MATTAR, João; RAMOS, Daniela Karine. Metodologia da pesquisa em educação: abordagens qualitativas, quantitativas e mistas. São Paulo: Edições 70, 2021.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 26ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
SHISHITO, Katiani Tatie. Pesquisa aplicada às Ciências Sociais. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018.
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Ciência e Pesquisa
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Estudante, esta videoaula foi preparada especialmente para você. Nela, você irá aprender conteúdos importantes para a sua formação profissional. Vamos assisti-la?
Ponto de Chegada
Olá, estudante! Para desenvolver a competência desta unidade, que é “aprender sobre o conhecimento científico e suas aplicações no mundo real, evidenciando suas consequências práticas e implicações nas tomadas de decisão e a partir dessa reflexão, entender as diferentes perspectivas da pesquisa científica”, você deverá primeiramente compreender algumas características do conhecimento científico, entender as diferenças entre as pesquisas qualitativas e quantitativas e a importância da leitura para a construção das pesquisas acadêmicas.
Embora a ciência leve em consideração um conjunto de procedimentos teóricos, experimentais e éticos ao longo de sua investigação e construção de conhecimento, existem diversas ferramentas formais que contribuem para sua melhor objetividade, evitando as armadilhas da linguagem corriqueira e a subjetividade interpretativa.
O conhecimento científico é uma forma de conhecimento que se baseia em evidências empíricas e segue um processo sistemático de investigação, análise e interpretação. Ele se distingue de outras formas de conhecimento por sua abordagem objetiva e verificável, que segue métodos específicos e rigorosos para a obtenção de resultados confiáveis, sendo fundamental para o avanço do entendimento humano sobre o mundo. As suas características, como a falibilidade, a acumulabilidade e a verificabilidade, também contribuem para que se perceba o porquê é possível confiar nos conhecimentos produzidos pela ciência.
Nesse contexto, a leitura é imprescindível para a construção de pesquisas que sejam baseadas em conhecimentos confiáveis. Ela é essencial para adquirir uma compreensão mais aprofundada e abrangente do assunto em estudo. Permite que os pesquisadores direcionem seus esforços para áreas que ainda não foram exploradas ou que possam ser investigadas de maneira mais aprofundada. É por meio da leitura que os pesquisadores podem estabelecer uma base teórica sólida para fundamentar suas pesquisas. Isso ajuda a estruturar o pensamento e a construir um arcabouço conceitual para a análise dos dados e a interpretação dos resultados. Em suma, a leitura é um componente essencial do processo de pesquisa, fornecendo uma base sólida de conhecimento, estimulando o pensamento crítico e auxiliando na construção de uma pesquisa robusta e bem fundamentada.
Quando pensamos em diferentes tipos de pesquisas ou diferentes abordagens metodológicas precisamos ter claro que essas diferenças em muitos momentos se complementam na realização das pesquisas. A pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa são dois métodos distintos de investigação usados no campo científico, cada um com suas próprias características e aplicabilidades. Ambos os métodos desempenham papéis importantes na produção de conhecimento científico; a escolha entre eles depende dos objetivos específicos da pesquisa, das perguntas que se pretendem responder e das especificidades do estudo. Muitas vezes, os pesquisadores optam por combinar esses métodos para obter uma compreensão mais completa e abrangente das informações em análise.
Enquanto uma pesquisa qualitativa ajuda a entender a complexidade e o contexto por trás de uma especificidade, uma pesquisa quantitativa fornece números e dados precisos que podem ser analisados estatisticamente. Ao combinar essas abordagens, os pesquisadores podem obter uma compreensão mais abrangente e profunda de um tópico específico. Essa abordagem flexível permite que os pesquisadores adaptem sua metodologia de acordo com as necessidades da pesquisa. Em resumo, as pesquisas qualitativas e quantitativas não são mutuamente excludentes. Pelo contrário, elas podem ser usadas de forma complementar para fornecer uma visão mais completa e aprofundada de um determinado assunto.
Reflita Em tempos de profunda desinformação como os que vivemos, como o ceticismo pode nos ajudar a construir um conhecimento verificável e confiável? Como a leitura acadêmica nos auxilia na produção de pesquisas científicas? |
É Hora de Praticar!
Aliar pesquisa qualitativa e quantitativa é algo interessante na estruturação da pesquisa e na justificativa/argumentação a respeito dos dados em questão. Acesse o site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e, na parte dos indicadores sociais, procure e analise os dados referentes à escolarização e ao analfabetismo dos últimos anos.
Depois, busque as metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Educação (PNE – Lei nº. 13.005/2014). Atente-se especificamente para a “Meta 2 – Universalizar o ensino fundamental de 9 (nove) anos para toda a população de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos e garantir que pelo menos 95% (noventa e cinco por cento) dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência deste PNE [2024]”; e para a “Meta 9 – Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 (quinze) anos ou mais para 93,5% (noventa e três inteiros e cinco décimos por cento) até 2015 e, até o final da vigência deste PNE [2024], erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% (cinquenta por cento) a taxa de analfabetismo funcional” (BRASIL, 2014, [s. p.]).
Após realizar essas duas tarefas, responda aos seguintes questionamentos:
Como a análise dos dados estatísticos referentes ao analfabetismo e à escolarização podem contribuir para a compreensão das metas propostas no PNE e a verificação do cumprimento dessas metas? Bons estudos!
Reflita
Esse é um exemplo de como os dados estatísticos podem ser utilizados também em análises qualitativas e em questões presentes no nosso cotidiano. Como você pode trazer esses elementos para enriquecerem os seus trabalhos acadêmicos e o seu ambiente profissional?
Resolução do estudo de caso
Os dados coletados pela Pesquisa Nacional de Amostras por Domício (PNAD) tem por objetivo mostrar a situação socioeconômica do país por meio de vários indicadores. Os dados referentes à educação compreendem informações que abrangem condição de alfabetização, frequência a creche ou escola, rede e área de ensino, grau de instrução, e gestão da educação, entre outros aspectos. Por sua vez, o PNE determina diretrizes, metas e estratégias para a política nacional educacional por um período de 10 anos. O prazo de vigência do PNE que teve as Metas 2 e 9 apresentadas anteriormente era de 2014 a 2024, ano previsto para a proposta de um novo PNE.
Quando se analisam os dados divulgados pelo IBGE referentes à escolarização de pessoas de 6 a 14 anos que frequentam a escola, percebe-se que de 2016 (99,2%) até 2022 (99,4%) o percentual ficou praticamente estagnado. Isso indica que a Meta 2 do PNE provavelmente não foi cumprida, visto que se pretendia universalizar o ensino fundamental de 9 (nove) anos para toda a população de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos.
Em relação ao analfabetismo, o percentual de pessoas analfabetas de 15 anos ou mais em 2016 era de 6,7% da população. Em 2022 esse percentual caiu para 5,6%. A queda é pequena quando se pensa na Meta 9 do PNE, que é elevar a taxa de alfabetização da população com 15 (quinze) anos ou mais para 93,5% até 2015 e, até o final da vigência do PNE, erradicar o analfabetismo absoluto. O percentual de 2016 indicou que a meta estava caminhando para ser concretizada, mas acabou estagnando. Considerando que os dados de 2022 indicaram 94,4% da população alfabetizada, é possível que não houve o atingimento da meta em 2024.
Esse é um exemplo de como os dados estatísticos podem ser utilizados também em análises qualitativas e em questões presentes no nosso cotidiano. Você pode trazer esses elementos para enriquecer os seus trabalhos acadêmicos e profissionais.
Dê o play!
Assimile
Vamos analisar o esquema a seguir pensando na relação mútua que existe entre os procedimentos do método científico, a leitura acadêmica e os diferentes tipos de pesquisa.
Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 3ª ed. São Paulo: Moderna, 2003.
BRASIL. Plano Nacional de Educação – Lei n° 13.005/2014. Mec.gov, 2014. Disponível em: https://pne.mec.gov.br/18-planos-subnacionais-de-educacao/543-plano-nacional-de-educacao-lei-n-13-005-2014. Acesso em: 12 jan. 2024.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia científica. 8ª ed. Barueri: Atlas, 2022.